Quando os homens partiam para o mar, levavam também consigo a liberdade e a esperança das mulheres, que ficavam em terra. Num passado não muito longínquo, Nazaré caminhava desde a terra que lhe deu nome até ao porto de Aveiro só para ver o marido desaparecer no mar. Enquanto os barcos apitavam como sinal de despedida, Nazaré chorava no ombro de outra mulher. “Ai, vai-se embora. Ai, nunca mais volta”, recorda meio século depois, acrescentando que “a saída era o momento mais triste da vida”. O marido da nazarena que fez 73 anos na semana passada voltou sempre da pesca do bacalhau mas, durante os meses que estava fora, Nazaré só usava roupas escuras, a camisa não podia ter botões e nem a areia da praia estava autorizada a pisar. As recordações estão tão vivas que até os episódios mais específicos estão ainda repletos de pormenores. Há 50 anos, quando o marido andava pelo mar a pescar bacalhau, a filha de Nazaré queria ir à praia: “Às vezes, ela estava morta para ir à praia e pedia-me um gelado. E eu estava morta para comer um também. Trazia-o escondido debaixo do xaile para ir comer em casa”. “Não podia comer, não. Era censurada”, acrescentou Maria Júlia, que tal como Nazaré vestia as famosas sete saias. E, à semelhança do marido de Nazaré, também o marido de Maria Júlia se dedicou à vida do mar.
Independentemente da perspetiva temporal, o mar está sempre no centro da Nazaré. Se, no passado, os homens viviam do peixe que o mar dava, o presente e o futuro está marcado pelo desporto que se faz no mar. E a Nazaré transborda de histórias e de tradições que se vão cruzando com a moda das ondas gigantes.
As mulheres que ajudaram a fazer história na Nazaré olham para o passado e para os tempos que hoje correm e não têm dúvidas de que “a tradição foi morrendo com o tempo”. Apesar de não haver muitas mulheres a vestir as sete saias, as nazarenas não dispensam este traje nos dias festivos como o Natal, o Carnaval ou a Páscoa. Mas nem todas podem, ou podiam, usá-las.
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