Francisco Miranda Rodrigues. “A pobreza tem muito impacto na saúde mental”

Francisco Miranda Rodrigues. “A pobreza tem muito impacto na saúde mental”


Na véspera de se comemorar o Dia Nacional do Psicólogo, o bastonário admite que a maioria da população portuguesa não tem meios nem recursos para recorrer ao privado.


Na última década, o consumo de antidepressivos quase duplicou e, desde 2000, mais do que triplicou. O que aconteceu nestes anos para estarmos com estes níveis?

Há três grandes fatores, pelo menos, que contribuem para isto em Portugal. Por um lado, a baixa literacia, nomeadamente baixa literacia em saúde e, mais especificamente, em saúde psicológica: se não tivermos a perceção do que significa aquilo que estamos a sentir ou do que estamos a sentir em determinado momento e do que pode significar aquilo que estamos a sentir e a pensar – são coisas muito simples ou aparentemente muito simples mas que, para muitos, às vezes, só isso é um sinal de desconforto e depois pode ser muito mais do que isso. Este é um primeiro fator. Um outro é a falta de acesso a cuidados de saúde nesta área, não só aos cuidados de saúde quando alguém apresenta já algum tipo de necessidade e de queixa, mas ao nível preventivo. Deveria haver uma disponibilidade deste tipo de serviços junto, por exemplo, da construção de políticas públicas, das autoridades de saúde, de modo que se atuasse mais preventivamente utilizando os profissionais desta área. Quando estamos a falar da utilização destes profissionais em toda a linha estamos a falar de aproveitar aquilo que é a psicologia enquanto ciência que estuda o comportamento e processos mentais e, portanto, não só na lógica já remediativa que, muitas vezes, é aquilo que associamos quando falamos destas intervenções.

Não havendo prevenção é inevitável o uso de medicação?

Não era inevitável a utilização de medicamentos, mas lá está, se não tivermos acesso aos serviços, por exemplo, prestados pelos psicólogos, aí não resta mais nada a não ser a medicação. Um médico de família, se tiver a oportunidade de referenciar para um psicólogo e se souber que essa resposta é relativamente atempada, que não vão ser seis meses ou um ano à espera de uma primeira consulta e depois mais seis meses ou um ano à espera de uma segunda… isso torna completamente impossível uma resposta a uma necessidade que está a ser sentida naquele momento. E, depois, um trabalho que exige continuidade na maior parte dos casos e esse trabalho de continuidade não pode ser feito passados seis meses ou um ano. Esta falta de acesso aos cuidados prestados pelos psicólogos, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, é aí que a questão é mais premente. A população portuguesa, na maior parte dos casos, não tem meios, recursos, para poder ir ao privado.
 

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