Ricardo. “Sinto uma tristeza profunda, mas culpa? Nunca!”

Ricardo. “Sinto uma tristeza profunda, mas culpa? Nunca!”


Foi dele um dos momentos mágicos do Euro 2004: tirou as luvas, defendeu um penálti e aproveitou a pressa para bater o remate decisivo contra a Inglaterra.


Quando Ricardo tirou as luvas e as lançou para o chão no momento de se preparar para o penálti de Darius Vessel, um calafrio perpassou pela multidão que enchia o estádio da Luz como um ovo. Um ovo mais branco do que vermelho, porque os adeptos ingleses estavam em maioria. Pior para eles. Adivinhava-se o momento de magia: era inevitável, convenhamos. Ninguém toma uma decisão tão espontânea, tão radical, que não tenha a absoluta certeza de que, lá no alto, um ser superior qualquer avalizou (ou abençoou, se preferirem) o que vai acontecer a seguir. Ele estava ali mesmo à nossa frente, nós no banco mais próximo da baliza do desempate derradeiro contra os ingleses, o Eusébio a meu lado, com a mão embrulhada na toalha, murmurando: “Não te mexas… não te mexas…” Não se mexeu até que, já depois da bola ter partido, voar para o seu lado esquerdo, sacudindo-a pela linha de fundo naqueles gesto inesquecível. Sem perder a urgência que tomara conta dele, rematou para lá das capacidades de David James colocando Portugal nas meias-finais do Euro-2004. Nunca se vira nada assim. E, de repente, o vermelho engoliu o branco como se o branco se tingisse do sangue de ingleses derrotados.

Diz-me lá, sentes-te como um herói do Euro 2004? Depois de tudo aquilo que aconteceu no jogo contra a Inglaterra…
Claro que não, amigo… Nem pensar nisso! Sinto-me, sim, como um dos que proporcionaram um sentimento de alegria coletiva aos portugueses como nunca se tinha sentido até então…

Bem, mas ninguém te tira um dos momentos históricos: aquele, surpreendente, de tirares as luvas e defender um penálti. Ainda te recordas muito disso?
Esse foi, é e será um dos momentos que marcou a minha carreira mas que também me marcou pessoalmente… 

Então? Conta.
Olha, foi um momento genuíno, de inspiração pessoal e como tal é normal que me recorde dele com muito carinho. Desejava e ainda hoje desejo, passados estes anos, que tivesse sido antes na final… Seria supremo.

Que te passou pela cabeça naquele momento preciso? Tinhas algo ensaiado?
Não. Nada. Foi uma espécie de “olha…, lá vai disto”… Hehehehe… Como te disse há pouco, foi um momento só meu, de motivação pessoal. Completamente espontâneo. Passou-me pela cabeça e fiz aquilo de tirar as luvas e lançá-las para o chão…

Estavas mesmo convencido de que ias defender o penálti, não estavas?
Se queres que te diga, com sinceridade, nós convencidos estamos sempre … Um guarda-redes tem que interiorizar que consegue defender qualquer bola, seja onde for e quando for. Agora, aquele momento é algo que não se explica… Sente-se… Senti que algo iria ser diferente. E foi, felizmente para nós.
 

Leia a entrevista completa na edição impressa do jornal i. Agora também pode receber o jornal em casa ou subscrever a nossa assinatura digital.