Não é economista de formação, mas sabe explicar como poucos o funcionamento da economia e os seus segredos. O apresentador do programa Negócios da Semana e comentador de assuntos económicos na SIC Notícias afirma sem hesitar que a receita da troika resultou e que “só não vê quem não quer ou quem está na luta partidária”. A sua isenção irrita uma boa parte da esquerda, mas também muitos autodenominados liberais. Acerca do momento presente, mostra-se preocupado com a possibilidade de Portugal voltar a precisar de assistência financeira. E faz um apelo aos políticos: “Se tivessem noção deste risco, não se preocupavam tanto com a sua reeleição”.
Há poucas semanas escreveu um artigo chamado “Em risco de bancarrota e ninguém diz nada?”. Quem tinha obrigação de dizer alguma coisa?
Os dirigentes máximos da nação. O Presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro das Finanças, o ministro da Economia. Onde é que eles andam? Que agendas têm? O que eu vejo é o Presidente da República e o primeiro-ministro especializados em questões como o rácio de transmissibilidade, o confinamento, as cercas sanitárias, o estado de emergência, situações de calamidade e por aí fora. Não os vejo a ter a consciência do grave momento da economia nacional. Vejo-os muito atentos àquilo a que chamo o assistencialismo às vítimas sociais da covid e em aparecer junto de quem ajuda as populações.
Isso não é importante?
Acho que eles fazem mais falta noutro lado. O Presidente da República faz mais falta a reunir um Conselho de Estado em que os seus conselheiros o ajudem a apontar caminhos, alternativas de produção económica, porque é isso que dá o sustento às pessoas e melhora as condições sociais. E acho que o primeiro-ministro devia promover já uma grande conferência de reconstrução nacional com o líder da oposição, com os representantes dos patrões, com representantes das grandes, pequenas e médias empresas, com os banqueiros, com economistas, com especialistas de vários setores, com as forças vivas do país, para encontrarem alternativas para recompor a produção económica. Há um certo lirismo na cabeça de certos analistas e de certos políticos que acham que vai ser possível uma recuperação em V. É uma imagem dos economistas, mas é fácil perceber: nós estávamos num certo nível de crescimento, caímos a pique, e há quem ache que em janeiro ou fevereiro estaremos a subir na outra perna do V.
A curva da recuperação será mais arrastada, é isso?
Das duas uma: ou é um U alargado, ou pode ser um L. Caímos e depois continuamos no mesmo nível, em baixo, e aí desapareceram 15 ou 20% do PIB. Há uma grande parte da economia que estava construída à volta do setor do turismo. Se ele desapareceu e a perspetiva é que não se reconstrua rapidamente, o que acontece? Metade do emprego na hotelaria pode desaparecer, a TAP vai ter de reduzir 20 a 30% das rotas e do pessoal, muitas empresas pequenas e médias deste setor ou associadas desapareceram e não vão voltar…
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