Ensino. Guerra interna  na Universidade do Minho

Ensino. Guerra interna na Universidade do Minho


Professora da Universidade do Minho diz-se “perseguida e vítima de assédio moral” por catedrática que não autorizou a sua inclusão no plano de estudos de doutoramento, relegando-a para seminários.


Algo vai mal no reino dos docentes da Universidade do Minho, em Braga, e não há forma de se chegar a um consenso. A história tem quase três anos e duas personagens principais do doutoramento da área de Gestão – a professora catedrática Lúcia Lima Rodrigues, que é a diretora do doutoramento em Ciência Empresariais, curso inserido na área científica de Gestão, e a professora doutorada Delfina Gomes.

Em causa está o sucessivo afastamento de Delfina Gomes do programa doutoral, tendo sido agora “relegada para uma Unidade Curricular de Seminário, com uma carga horária de 15 horas, onde estão mais cerca de dez colegas, o que permite que as fichas destes docentes façam parte do dossiê, mas possam nunca vir a dar aulas”, disse ao i a professora.

O facto de Delfina Gomes lecionar apenas as unidades de seminário, ao invés de cadeiras específicas do referido nível de ensino superior, significa que é mais difícil estar em contacto com os alunos e poder vir a ter orientandos de tese de doutoramento. “Esta foi a forma de a professora Lúcia Lima Rodrigues dizer que me pode prejudicar mas sem ter de o dizer de forma frontal, porque, isso, ela nunca o assume, e ao mesmo tempo desprezar o meu trabalho e desvalorizar o meu currículo”, referiu Delfina Gomes. Esta professora considera que o facto de ter as orientações de doutoramento concluídas com sucesso e de estar inserida num centro de investigação com avaliação de excelente é motivo para estar inserida no programa de doutoramento de forma explícita.

Em outubro do ano passado, no decorrer de uma reunião entre os docentes da Universidade do Minho, e segundo a ata da referida reunião, a que o i teve acesso, um dos professores “informou que falou com a professora Lúcia Rodrigues sobre a possibilidade de incluir a professora Delfina Gomes numa unidade curricular da especialização em Contabilidade do Doutoramento em Gestão, mas que não obteve a sua concordância”.

Durante essa reunião, as opiniões dividiram-se, tendo um dos professores dito que o departamento em questão nada poderia fazer, uma vez que “são os professores catedráticos que decidem estas questões”. Por sua vez, outro professor esclareceu que, com a inclusão da prof.a Delfina Gomes, o doutoramento cumpriria “o rácio de 78% de professores integrados em centros de investigação com avaliação de pelo menos Muito Bom, mas, se ela sair, então já não cumpre os 75% exigidos”.

De acordo com emails a que o i teve acesso, em 2017, a prof.a Lúcia Lima Rodrigues marcou, categoricamente, a sua posição no seio daquela instituição de ensino. “A partir de hoje fiquem bem cientes do seguinte: como professora catedrática de contabilidade não admitirei mais que votem no que a lei me atribuiu como funções e colocarei em tribunal quem o ousar fazer”, escreveu a professora, advertindo ainda os colegas para pensarem “bem antes de fazer ilegalidades”.

Delfina Gomes esclareceu que continua “a ser acusada” pelo “encerramento do Programa Doutoral em Contabilidade em parceria com a Universidade de Aveiro” em 2017.

Ao i, a prof.a Lúcia Lima Rodrigues referiu que “deve haver um erro”, pois a “doutora Delfina Gomes irá lecionar a Unidade Curricular de Seminários”. E deixou também a crítica a propósito deste tema, que é sobre uma instituição pública cujos honorários são igualmente pagos com dinheiro público: “E, já agora, o que é que o jornal i tem a ver com questões científico-pedagógicas do doutoramento em Gestão? Os jornais agora já entendem disso?”