Pedro Queiroz Pereira. Negócios do império nas mãos das três herdeiras

Pedro Queiroz Pereira. Negócios do império nas mãos das três herdeiras


São três, são mulheres e com elas fica o património de Pedro Queiroz Pereira, que morreu no sábado passado, em Ibiza. Apesar de a gestão ficar entregue a profissionais escolhidos pelo empresário, Filipa, Mafalda e Lua passam agora a ser chamadas para tomar decisões como acionistas. No fundo, vêm engrossar a lista de nomes de…


A morte daquele que era considerado por muitos como o maior industrial português, e um dos homens mais ricos do país, trouxe para a ribalta o nome das suas herdeiras. Pedro Queiroz Pereira era dono da Navigator, a antiga Portucel, e da cimenteira Secil. Amante dos prazeres da vida, Queiroz Pereira morreu no sábado passado, aos 69 anos, em Ibiza. De acordo com a “Forbes”, o empresário deixa uma fortuna que lhe valeu o quinto lugar na tabela dos dez mais ricos de Portugal: 1 129 milhões de euros. Também a “Exame” o destacou no ranking que fez. Pereira Queiroz ou PQP, como era conhecido, estava em sétimo com um património avaliado em mais de 700 milhões. Ainda que os valores possam não ser exatos, certo é que o património da família vale largos milhões. 

Com a morte do empresário, as três filhas ficaram aos comandos daquele que é um grupo industrial com solidez em Portugal e expressão internacional. Filipa, Mafalda e Lua são os nomes que aparecem agora em destaque, apesar de já estarem envolvidas nos negócios da família há algum tempo. Conhecidas no seu circulo de amigos e de negócios, as herdeiras pouco diziam ao comum dos mortais em Portugal. Até agora. 

Mas Pedro Queiroz Pereira tinha um rumo traçado e o rumo das empresas estava estipulado: as filhas serão chamadas a tomar decisões, mas nos comandos das empresas fica quem estava. Diogo da Silveira é presidente executivo da Navigator, João Castello Branco da Semapa e Otmar Hübscher da Secil. 

Importa recordar, no entanto, que, desde maio, as filhas de Queiroz Pereira estão mais envolvidas nos negócios, depois de terem assumido o lugar de não executivas no conselho de administração da Semapa, que fechou 2017 com lucros superiores a 124 milhões de euros. 

Além das mais de 5 mil ações da cotação que cada uma já tinha, dividirão agora a posição de Pedro Queiroz Pereira. 

Quem são elas? O nome da filha mais velha, Filipa, já aparecia associado ao império da família. Foi ao pai de Queiroz Pereira que Salazar entregou a construção do primeiro hotel de luxo da capital portuguesa: o Ritz. E há um ano que o nome de Filipa Queiroz Pereira está associado à administração deste hotel. 
Filipa nasceu em 1974 e é licenciada em Matemáticas Aplicadas. Tal como as duas irmãs, estudou ainda gestão na London Business School e em Harvard. 

Já Mafalda, é a que se afasta mais do perfil de empresária. Nasceu em 1976 e sempre foi mais ligada ao mundo do desporto. Chegou mesmo a participar em provas de esqui acrobático. Uma delas aconteceu nos Jogos Olímpicos de Inverno, em 1998, no Japão. 

Lua, a mais nova, nasceu em 1981. É fundadora e gere a Ecolua, empresa que se dedica a atividades equestres e esteve envolvida no arranque da Semapa Next, área de negócios ligada ao investimento em start-ups. 

O poder no feminino

Umas são influentes porque pertencem a famílias que trazem o poder e o dinheiro como tradição, outras surpreendem com a carreira que fazem e acabam por conquistar cargos de poder que pertenciam habitualmente a homens. Seja como for, é inegável que há cada vez mais mulheres na lista dos mais poderosos do país. A seguir uma tendência que é mundial, dão que falar em cargos que têm à frente de grandes empresas e países. Falamos de mulheres que são responsáveis por tomar decisões que valem largos milhões e mexem com o mundo. Algumas delas aparecem várias vezes nas listas que são feitas para avaliar o poder no feminino. Em 2016, Merkel, por exemplo, conseguiu voltar a liderar, pela 11.ª vez, a tabela da “Forbes” como a mulher mais poderosa do mundo.

Mary Barra, líder da General Motors (GM), também foi uma das mulheres que ganhou destaque por ter conseguido abrir caminho à entrada de mulheres na liderança de empresas. Mary Barra, que entrou para a empresa com apenas 18 anos, foi a primeira mulher a chegar a CEO de uma grande multinacional cuja principal área de negócios é a produção de automóveis. Também ela já entrou várias vezes na lista da “Forbes”. Fez história ao nomear também a primeira mulher CFO. Além de Dhivya Suryadevara ser a primeira mulher CFO da General Motors, esta passa a ser também a primeira grande empresa automóvel a ter as duas principais posições entregues ao poder no feminino. 

Não faltam outros exemplos. Mas não há como falar de mulheres poderosas e influentes sem lembrar o caso de Isabel dos Santos. Existem mulheres ricas em Portugal [ver pág. 16-17], mas muito poucas têm o poder que a empresária angolana Isabel dos Santos conquistou. Está ligada a múltiplos negócios entre Luanda e Lisboa e, com a nomeação para presidente da Sonangol, ganhou influência acrescida, apesar de já não exercer o cargo. E as participações de Isabel têm vindo a crescer nos últimos anos: só em Portugal, o património financeiro é de largos milhões de euros.

Contas feitas, em 2016, só ela estava em empresas que valiam 9% do produto interno bruto. Mas os negócios não vêm de hoje. Nascida em Baku, no Azerbaijão, a 20 de abril de 1973, as participações de Isabel têm vindo a crescer nos últimos anos. Com uma longa lista de negócios e fama de ser dura nas negociações, Isabel dos Santos é moderada e discreta. Em 2013, numa rara entrevista ao “Financial Times”, a mulher mais rica de África explicou apenas: “Faço negócios e não faço política. Tive sentido para os negócios desde muito nova. Vendia ovos quando tinha seis anos”.

A venda de ovos ficou para trás, mas a vontade de fazer dinheiro não. Além de Portugal e Angola, tem interesses em países como a Suíça ou a Nova Zelândia, por exemplo. E nem toda a riqueza é conhecida de forma oficial. Na Galp, por exemplo, a participação indireta na gasolineira nunca apareceu em informação oficial da companhia portuguesa.

Mas os exemplos continuam, escolha o país que escolher. Veja-se o caso de Lagarde que tem somado vários títulos de “primeira mulher a…”. Estávamos em 2011 quando a então ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, foi designada diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) para suceder a Dominique Strauss-Kahn. Christine Lagarde foi, na verdade, a primeira a assumir a direção-geral do FMI. Recorde-se que foi também a primeira a tutelar a pasta da Economia e Finanças em França.