“Buy American”. Trump quer os diplomatas a vender armas

“Buy American”. Trump quer os diplomatas a vender armas


O presidente quer rever a regulamentação internacional do comércio de armamento para facilitar a venda a países que não pertencem à NATO


O plano chama-se “Buy American”, simplesmente “compre americano”, e é a nova estratégia de política externa do governo dos Estados Unidos. Basicamente, os diplomatas e os adidos militares passarão também a ser vendedores de armas, fomentando assim a indústria de armamento do país.

“Queremos que essas pessoas, os adidos comerciais e militares, não tenham restrições para serem vendedores destes equipamentos, para serem promotores”, disse à Reuters um alto representante da administração de Donald Trump, próximo da definição do novo plano e que pediu para não ser identificado.

De acordo com a Reuters, o plano deverá ser anunciado no princípio de fevereiro e pretende ir ao encontro de uma das promessas de campanha do presidente: criar mais empregos na indústria americana.

Equipamento militar, caças, drones, navios de guerra, artilharia – os EUA pretendem alcançar vendas de milhares de milhões de dólares para um setor que enfrenta forte concorrência da China e da Rússia.

De acordo com fontes citadas pela agência, este esforço diplomático-económico será conjugado com um novo alinhamento na questão da Regulamentação sobre o Comércio Internacional de Armas (ITAR na sigla em inglês), que enquadra as exportações de armamento desde 1976 e há décadas que não é revista em profundidade.

É de esperar que os EUA queiram aliviar as restrições de venda de armas, nomeadamente em relação às exportações para países que não são membros da NATO.

Para um membro do Departamento de Estado, citado pela agência, esta nova abordagem à indústria de armamento dá aos aliados dos EUA “uma maior capacidade para ajudar a partilhar o fardo da segurança internacional, beneficia a indústria de defesa e criará mais bons empregos para os trabalhadores americanos”.

No final do ano passado, o “USA Today” avançava que um dos três setores mais interessantes para investir este ano seria o da defesa. “Os muitos pontos geopolíticos críticos no mundo, incluindo o impasse nuclear com a Coreia do Norte, podem também gerar mais negócios para as empresas norte-americanas de defesa”, escreveu Brian Belski, diretor de estratégia de investimento da BMO Capital Markets.

Cerca de 10 por cento dos 2,2 biliões de dólares de produção industrial nos EUA pertencem ao setor da defesa, mas essa produção é vendida sobretudo ao próprio departamento de Defesa. O “New York Times” comparava o ano passado os dez porta-aviões dos EUA com o único que a China tem atualmente ao serviço (um segundo deverá entrar ao serviço em 2020).

No final de julho do ano passado, Trump emitiu uma ordem executiva para avaliar o estado da indústria de defesa no país e a melhor forma de a fortalecer. A avaliação a fazer pelo Departamento de Defesa incluiu colaborações com os departamentos do Comércio, Trabalho, Energia e Segurança Interna.

A avaliação deverá estar finalizada em abril, o que já não vai a tempo para que as suas conclusões influenciem o planeamento do novo orçamento a cinco anos e possam ser discutidas no debate sobre o orçamento para o ano fiscal de 2019.

Rachel Stohl, diretora do programa de defesa convencional do Stimson Center, em Washington, lembra, em declarações à Reuters, que esta mudança política na exportação de armas e a passagem das questões de direitos humanos para segundo plano poderão trazer consequências a longo prazo para o país: “A miopia de uma nova política de exportação de armas poderá trazer graves implicações a longo prazo.”