Hollywood Vampires. Valha-nos o rock

Hollywood Vampires. Valha-nos o rock


A chuva, o sistema a não aguentar a descarga de decibéis de Korn, Johnny Depp a divorciar-se, tudo a correr mal no terceiro dia de Rock in Rio, de longe o de menor afluência desta edição, que no final foi o rock que salvou.


Um bando de pais agarrados aos filhos e às cadeiras insufláveis da Vodafone (sabíamos que as pessoas andavam com elas o dia inteiro, não tínhamos percebido ainda que as levavam para casa) em direção à saída da Cidade do Rock quando se aproximam as 22h pode querer dizer várias coisas. Que está a ficar tarde, por exemplo. Mas a tenda de imprensa quase vazia, zero fila para jantar só quer dizer uma: está quase a começar um concerto, que na verdade já está atrasado. 

Mas de repente, "Are you ready?" Senhores, são os Korn – se os deixarem tocar, porque o som vai-se ao fim de 30 segundos. Eles desaparecem, parece que ainda vai atrasar mais, gente preocupada com as bandas que "hoje se fazem por casting, onde está a cena da garagem", mas agora a sério, o que é que se passa com o som?

"Are you ready again?" A excitação cresce, não são vacas, são cadeiras insufláveis que voam já…. e o som volta a falhar, 22:35, a paciência começa a esgotar-se. "Pode ser falso", diz alguém, e só pode ser mesmo. 22:40, já se ouve música para entreter, já há quem arrede pé, quem desista, será concerto para resistentes este. Pais com crianças com T-shirts a dizer Korn, pinturas verdes na cara, todos fãs. 22:45, já espirramos com o fumo branco que começa a ser demasiado para entreter, 22:50 e uma mensagem em português: "Boa noite, estamos com um pequena problema técnico que está quase resolvido. Pedimos desculpa por isso, mas temos a certeza que os Korn vão dar um grande concerto."

23:10, luzes vermelhas, ação para o concerto com a meia dúzia de músicas possíveis nuns curtos 25 minutos porque a meio de uma cover de Metallica o palco mundo volta a não aguentar os decibéis debitados por tantas cordas e puff. E desta "infelizmente" o concerto tem que terminar, até porque está mais do que na hora de Hollywood Vampires, e um movimento de gente furiosa abandona o palco para fazer fila para o livro de reclamações. Momento perfeito para avançar até junto ao palco quando já devia estar a começar o concerto da banda de Alice Cooper com Joe Perry e Johnny Depp, e poder vê-lo a 20 metros.

"O som também vai falhar", ouve-se dos mais pessimistas. Mas 45 minutos depois do fiasco de Korn, que pediram desculpa aos fãs no Facebook, já os Hollywood Vampires de Alice Cooper – e de um Johnny Depp que ainda umas horas antes tinha sido proibido por um tribunal dos EUA de se aproximar da sua mulher, Amber Heard, que o acusa de violência doméstica – arrancavam gritos a adolescentes na Bela Vista, num concerto que entusiasmou, sobretudo depois da desilusão de Korn, mas que não conseguiu mais do que isso. Isso, uns clássicos a lembrarem-nos o que foi o rock nos anos 70 e uns baldes de cerveja entornados costas abaixo. 

Johnny Depp será sempre melhor em pirata ou mesmo em chapeleiro louco do que com uma guitarra e os Beatles soarão sempre desenquadrados na voz de Alice Cooper numa banda de covers para celebrar os amigos mortos. Não faltou Bowie, dose dupla com "Rebel Rebel" e "Suffragette City", muito menos Lemmy recordado numa sempre bem recebida "Ace of Spades". E os êxitos de The Who, Led Zeppelin e Doors a aquecerem uma noite fria, de chuva e pouco mais de 50 mil entradas, menos 20 mil que na noite dr Queen com Adam Lambert. Pelo menos já não se veem cadeiras.