As negociações que visam o fim do conflito em território ucraniano, que já se arrasta há mais de três anos, estão a todo o gás. Desde que Donald Trump assumiu, de novo, as rédeas da Casa Branca, o processo de negociações tem sido frenético e marcado por altos e baixos. Desde as acusações ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à aproximação a Moscovo, a paz, ou o caminho para lá chegar, tem gerado controvérsia. O acordo dos minerais, as conversas na Arábia Saudita, os planos de rearmamento europeu e, por fim, o acordo de cessar-fogo, em primeiro lugar no Mar Negro, têm sido o principal objeto de análise das relações internacionais.
Emmanuel Macron, ao seu estilo, convocou mais uma cimeira de alto nível no Palácio do Eliseu, em Paris, onde os líderes europeus se reuniram, ontem, para discutir o papel que a Europa representará no futuro da Ucrânia, principalmente no que diz respeito às garantias de segurança no “dia seguinte”.
A importância do Mar Negro
Como se sabe, a Ucrânia é conhecida como o “celeiro da Europa”, dada a riqueza em produtos agroalimentares, encontrando na sua exportação uma das suas mais importantes fontes de riqueza. Ao longo do conflito, esta questão tem sido um dos pontos diplomáticos fundamentais, ainda que não livres, naturalmente, de altas tensões. Vários acordos foram celebrados e interrompidos neste sentido ao longo dos últimos três anos, mas, finalmente, parece haver um plano consistente, mesmo que encontre algumas barreiras impostas, como tem sido uma constante, pelo regime russo.
Desta vez, foi Washington que mediou o acordo de cessar-fogo no Mar Negro, encarando-o como um primeiro passo fundamental para o fim total das hostilidades. A Ucrânia aceitou de imediato, e os representantes americanos, citados pela CNN, anunciaram que ambas as partes concordaram em «garantir a segurança da navegação, eliminar o uso da força e impedir a utilização de navios comerciais para fins militares no Mar Negro», incluindo ainda a promessa de pôr termo aos ataques direcionados a infraestruturas energéticas. Mas o problema principal reside nas exigências impostas por Moscovo para finalmente aceitar a proposta americana. E não são, por sinal, exigências fáceis de cumprir. Na terça-feira, o Kremlin anunciou que apenas assinaria na condição de todas as sanções impostas ao banco agrícola russo, bem como a todas as empresas que representem um papel fundamental na exportação dos bens alimentares, impostas na sequência da sua invasão à Ucrânia, serem levantadas. «Estamos a pensar em todas elas neste momento. Há cinco ou seis condições. Estamos a analisar todas elas», foi a resposta de Donald Trump. Zelensky, naturalmente, foi mais confrontativo: «Já estão a tentar distorcer os acordos e a enganar os nossos mediadores e o mundo inteiro».
Como foi também avançado pela CNN, a Casa Branca já tinha mostrado abertura ao alívio das sanções implementadas para sufocar economicamente a Rússia caso o regime de Putin honrasse o acordo. Foi garantido por Washington que, nesta eventualidade, iria «ajudar a restabelecer o acesso da Rússia ao mercado mundial das exportações agrícolas e de fertilizantes, reduzir os custos dos seguros marítimos e melhorar o acesso aos portos e aos sistemas de pagamento para essas transações», sendo que este último ponto é referente à exclusão do banco agrícola russo e outras empresas ao sistema internacional de pagamentos SWIFT.
Cimeira no Eliseu
Enquanto americanos, russos e ucranianos se envolvem num intenso processo diplomático, do qual saiu o acordo antes mencionado, os líderes europeus reuniram-se em Paris, a convite do Presidente francês Emmanuel Macron. As garantias de segurança aos ucranianos, nomeadamente a presença de tropas europeias no terreno, é o tema em torno do qual gravita a cimeira.
«Estaremos prontos para operacionalizar um acordo de paz, seja qual for a sua forma exata», disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, aos jornalistas, acrescentando que empreenderão esforços «em conjunto para garantir a segurança da Ucrânia, para que possa defender-se e dissuadir no futuro». Outro dos tópicos que tem sido amplamente discutido no decurso do conflito é a utilização de ativos russos – cerca de 230 mil milhões de euros –, confiscados após a invasão, para a reconstrução da Ucrânia, e Macron voltou a frisar essa possibilidade, podendo ser utilizado como alavancagem num acordo de paz. É também importante salientar o refortalecimento do eixo franco-britânico, com o Presidente francês a garantir que a liderança dos esforços europeus passa por estes dois países. «Estas forças de reafirmação são uma proposta franco-britânica que é desejada pela Ucrânia», disse Macron, que não negou a resistência de certos líderes ao plano. «A proposta não tem unanimidade, mas não precisamos de unanimidade para o fazer», concluiu.
Assim, a Ucrânia encontra-se agora num dos momentos mais importantes da sua história. As suas dinâmicas internas, em conjunto com as ações europeias e americanas, ditarão o sucesso ou o fracasso do país que quer ser independente, soberano e próspero.