O regresso de Robert De Niro: Uma disputa de poder entre mafiosos

O regresso de Robert De Niro: Uma disputa de poder entre mafiosos


Robert de Niro está de volta e em dose dupla. The Alto Knights é um mergulho nas entranhas do crime organizado de Nova Iorque. Conta a história da guerra entre Frank Costello e Vito Genovese. O ator de 81 anos dá vida aos dois mafiosos.


Apesar de ser um dos atores mais conhecidos e mais brilhantes da sua geração, nunca se considerou um «ser humano fascinante» e recusa ver os seus próprios filmes. Diz que adormece de cada vez que o tenta fazer. Decidiu cedo que queria ser ator e não uma celebridade, e uma das coisas que mais o apaixonam no seu trabalho é o facto de poder viver a vida de outras pessoas sem ter de pagar um preço. «O talento está nas escolhas» e «há tempo para descansar quando se estiver morto», defende. Talvez seja por isso que, aos 81 anos, Robert De Niro está de volta ao grande ecrã e em dose dupla.

Em The Alto Knights – filme biográfico realizado por Barry Levinson que estreou no dia 20 de março nos cinemas portugueses –, o lendário ator americano dá vida não a uma, mas a duas personagens: Vito Genovese e Frank Costello, duas figuras icónicas da máfia de Nova Iorque dos anos 50. «Melhores amigos na infância, cresceram juntos, vindos de famílias ítalo-americanas. Concorrentes, Costello e Genovese possuem temperamentos e ideias bem diferentes de como gerir os seus negócios. Enquanto Frank Costello é benevolente e procura uma vida diferente apesar dos seus esquemas fraudulentos, Vito Genovese é o típico gangster de pavio curto que confia em muito pouca gente. Uma série de desconfianças, traições e ciúmes mesquinhos distanciam os dois, colocando-os numa colisão mortal», descreve a sinopse.

O regresso aos filmes da máfia

«Achava que nunca mais faria um filme sobre gangsters depois de O Irlandês, em 2019», confidenciou De Niro numa entrevista por Zoom ao Globo. «Mas quando me enviaram o argumento escrito pelo Nicholas Pileggi – de Tudo Bons Rapazes, de 1990, ou Casino, cinco anos depois –, com a realização de Barry Levinson, fiquei interessado. Nós já fizemos muitas coisas juntos ao longo dos anos», complementou.

De acordo com a mesma publicação, a ideia de colocar De Niro como Frank e Vito veio da cabeça de Irwin Winkler, lendário produtor de Hollywood que assina a longa-metragem de duas horas. O nome de Al Pacino esteve em cima da mesa para interpretar um dos mafiosos. No entanto, Winkler quis arriscar. «Perguntou-me: ‘E se interpretares os dois?’. Pensei e respondi: ‘Tudo bem!’ Isso também justifica o facto de voltar a fazer um filme sobre a máfia», revelou Robert de Niro.

Porém, com uma exigência: nas cenas que juntam Vito e Frank, o artista queria contracenar com um ator verdadeiro e não com uma «pessoa qualquer» que apenas lhe desse as deixas. «Fiquei preocupado e disse: ‘Preciso de outro ator!’. Tínhamos outros escalados para os papéis de membros da máfia, encontrei-me com alguns deles e vi qual seria o melhor. Escolhi o Joe Bacino, que aprendeu os dois papéis. Precisava de interagir com alguém», contou. Quando De Niro era Vito, Bacino era Frank; quando De Niro era Frank, Bacino era Vito.

O protagonista do filme adiantou que trabalhou as falas com o colega durante várias semanas e, sem surpresa, que o facto de dar vida a dois personagens foi um grande desafio. «A ideia de interpretar dois personagens diferentes era intrigante… Eles são dois lados diferentes da mesma moeda. Um é mais racional, mais diplomático. Esse é o personagem Costello. O personagem Genovese é mais errático, mais impulsivo», descreveu à Empire. Já para o realizador, Levinson, essa divisão de personalidades oferece «uma verdadeira substância dramática ao filme». «O segredo para isso é: fazer com que os diálogos pareçam naturais e confiáveis e não mecânicos», comentou.

Somente quando o filme ficou pronto é que De Niro pôde finalmente assistir aos diálogos consigo mesmo. «Não tinha a certeza de como funcionaria, quão bem funcionaria ou se não funcionaria», admitiu.

A ideia de fazer este filme surgiu pela primeira vez na década de 70, pouco depois de Frank Costello, conhecido como «o primeiro-ministro do submundo», ter morrido aos 82 anos. No entanto, a história ficou na gaveta até agora.

Costello e Genovese começaram as suas carreiras criminosas ao lado de Charles ‘Lucky’ Luciano, chefe da gangue siciliana de Manhattan, ainda na década de 1920. Quando Charles fundou a poderosa Família Luciano em 1931, foi Genovese o escolhido para subchefe, enquanto Costello foi designado seu conselheiro de confiança.

A disputa entre os dois amigos começou depois da prisão de Charles em 1936. Genovese assumiu o comando da organização, mas fugiu para a Itália no ano seguinte para escapar de uma acusação de assassínio. Durante a sua ausência, Costello tornou-se o novo chefe, situação que despertou o desejo de vingança em Genovese quando voltou aos EUA. Disposto a reassumir o controlo, encomendou a morte do amigo em 1957. Porém, fracassou.