Maria conta uma história comum a inúmeras mulheres, cujo contributo silencioso construiu, moldou e sustenta o mundo como o conhecemos. Ana Maria nasceu em Angola, foi trazida para Portugal com nove anos e, nas suas palavras, passou a vida inteira a limpar», escreveu Maria Abranches na sua página de Instagram no ano passado sobre o projeto que agora lhe deu um prémio no concurso World Press Photo (WPP).
A fotógrafa portuguesa venceu na categoria ‘História’ da região Europa, o que significa que está entre os candidatos ao título de ‘fotografia do ano’ que será anunciado no dia 17 de abril.
O site da organização explica que o projeto em causa convenceu o júri, que o considerou «comovente e profundamente complexo». Além disso, para os responsáveis, «a obra desperta a reflexão sobre a forma como esta história continua a moldar as estruturas sociais de hoje».
Na vida de Ana Maria «ecoa a experiência de inúmeras mulheres em toda a Europa», descreve a WPP. «Passou mais de quatro décadas a trabalhar na casa de outras pessoas, o que constitui uma contribuição vital para as suas vidas diárias. Ao centrar-se na história de Ana Maria, a fotógrafa tem por objetivo incentivar a reflexão sobre privilégios, assim como honrar a sua vida e a de tantas outras mulheres como ela», acrescenta.
Segundo a biografia presente no site da organização, Maria Abranches é uma fotógrafa documentarista independente e fotojornalista portuguesa que usa a fotografia para «destacar questões críticas, amplificar vozes marginalizadas e inspirar mudanças».
Originalmente formada em arquitetura, trabalhou na área durante vários anos antes de estudar fotografia analógica no Ar.Co em Lisboa. Isso acabou por levá-la até um estágio em fotojornalismo no Público. Depois disso, decidiu dedicar a sua carreira exclusivamente à fotografia. Atualmente, trabalha com o Público, a Reuters, o The Guardian e a Fundação Calouste Gulbenkian.
Foi enquanto documentava a produção de Graça Castanheira, Pele Escura, um filme de 2021 que explora o racismo e a inclusão, que desenvolveu este interesse pela história colonial portuguesa. Essa experiência acabou por inspirar o projeto ‘Trançar o Mundo’, de 2022, «uma exploração visual da herança capilar africana e seu simbolismo cultural, criada em colaboração com cabeleireiros afrodescendentes», descreve ainda a biografia.
‘Maria’, foi distinguido no festival italiano Cortona On The Move e nos Prémios Novos Talentos FNAC. É fruto de um trabalho desenvolvido no âmbito da masterclass Narrativa, projeto do fotojornalista Mário Cruz.