Adelino Dinis tem obras quase únicas sobre automóveis clássicos. Com natural orgulho, preserva a história e a cultura de outras épocas através de um espólio de enorme valor, composto por largas centenas de livros e revistas nacionais e estrangeiras e mais de 60 mil fotografias. Um verdadeiro clássico!
Desde muito jovem que Adelino Dinis tem paixão por automóveis. Aos nove anos, começou a ler revistas especializadas. «O meu pai comprou-me o L´Automobile para que me interessasse pelo francês e funcionou», reconheceu. Alguns anos mais tarde, começou ele próprio a adquirir livros sobre automóveis. «Passava horas nos alfarrabistas à procura de tudo o que tivesse a ver com o automóvel. Comecei a comprar livros de referência, caso das enciclopédias de Nick Georgano sobre a história do automóvel e do desporto motorizado. Essas duas enciclopédias são os alicerces para uma boa biblioteca», explicou o colecionador, que fez questão de referir que «gostava de aprender aquilo que não sabia». Aos 52 anos, trabalha em projetos ligados à sustentabilidade, mas mantém o fascínio pelos clássicos, até porque «os automóveis são menos interessantes agora». «São desenhados por computador e mais perfeitos, mas são também menos humanos», sublinhou. Como autor, escreveu a biografia de Mário Araújo Cabral, o primeiro piloto português na Fórmula 1, a história da Mercedes-Benz em Portugal e outro excelente livro sobre as corridas em Cascais.
A nossa conversa começou sobre a primeira página de um jornal com mais de 130 anos! «Num alfarrabista comprei um pacote significativo de livros e revistas e, no meio, estava a primeira página do Le Petit Journal, de 6 de agosto de 1894, que guardei religiosamente. Esta primeira página representa o espírito de progresso e inovação da imprensa da época. O Le Petit Journal foi o organizador dos primeiros eventos de automóveis e das primeiras corridas entre cidades. Esse facto é ainda mais relevante se tivermos em atenção que o primeiro automóvel movido a gasolina foi inventado por Karl Benz seis anos antes. Em 1890, não havia construtor automóvel, havia pessoas que construíam os primeiros engenhos a motor», explicou Adelino Dinis. Profundo conhecedor do mundo dos automóveis antigos, referiu: «Esses eventos foram importantes porque na altura não se sabia ao certo qual seria a tecnologia do futuro, se eram os veículos a combustão, a vapor ou elétricos. Devido a limitações tecnológicas, os motores de combustão passaram a ser a tecnologia dominante».
Coleção valiosa
Outra obra igualmente importante chama-se The World on Wheels, de H.O. Duncan, livro com 1.200 páginas que tem quase 100 anos. «Este senhor escreveu a história toda da mobilidade humana até 1926. É um livro muito bem fundamentado e com inúmeras ilustrações desde o tempo do transporte a cavalo até aos primeiros automóveis. Comprei-o no ebay por metade do preço que tinha sido anunciado. Penso que há apenas mais um exemplar em Portugal, que está no arquivo do ACP», salientou.
Numa biblioteca de enorme valor histórico, encontramos também o livro Les Automobiles Électrique, de Gaston Sencier, lançado em 1901. «É o primeiro grande livro sobre automóveis elétricos. Descreve toda a tecnologia dos automóveis elétricos e aquilo que, já na época, era um impasse tecnológico devido ao armazenamento de energia nas baterias de chumbo. No início, os elétricos tinham uma autonomia de 10 km, que foi aumentando até chegar aos 30 km, mas depois estagnaram e deixaram de ser uma opção. Nessa época, o automóvel elétrico era o preferido pelas elites para as deslocações em cidade», contou Adelino Dinis. «Comprei-o num livreiro especializado em primeiras edições e custou-me 10 mil escudos (50 euros)», recordou.
Num registo completamente diferente, Adelino Dinis deu-nos a conhecer os livros de esboços/rascunhos do artista alemão Hans Liska. «Foi ilustrador oficial da Mercedes-Benz e muitas das suas criações apareciam nos posters e catálogos dos automóveis a seguir à Segunda Guerra. Os livros de ilustrações do início dos anos 50 são verdadeiras peças de coleção que ultrapassam o automóvel. Ele retrata o ambiente da época, com as pessoas que iam à ópera de limusine, mas também cenários de guerra e jogos de futebol. A combinação da arte com o automóvel é uma coisa fascinantes nestes livros», afirmou.
Na sua biblioteca há também lugar para o livro Unsafe at any speed, de Ralph Nader, político norte-americano, que tem uma história curiosa. «O livro de 1966 é uma crítica à indústria automóvel americana relativamente à falta de segurança dos seus automóveis. É mais um exemplo de como um livro teve enorme impacto na indústria automóvel», diz.
Os livros portugueses merecem igualmente um lugar de destaque na coleção de Adelino Dinis, cujo livro mais antigo é o Manual do Automobilista, de 1908, que tem a particularidade de estar bem ilustrado.
Não consegue escolher o melhor livro, mas tem um título favorito: The Man with Two Shadows. «É uma excelente biografia de Alberto Ascari, que fala também do pai Antonio», remata.