Quiksilver e Billabong. Uma era que quebra nos EUA mas não na Europa

Quiksilver e Billabong. Uma era que quebra nos EUA mas não na Europa


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O mundo do surf vive momentos negros. Todas as lojas da Quiksilver, Billabong e Volcom nos Estados Unidos vão encerrar. Melhores notícias para a Europa: ‘Continuamos empenhados em desenvolver as marcas de surf em Portugal. Estamos a atravessar um bom momento para a Billabong no mercado português – em linha com o crescimento positivo que a Billabong Europa atravessa’, diz à Luz, a Despomar, que representa a marca em Portugal desde 1988.

Ao fim de várias décadas, as ondas quebraram para o lado da Quiksilver e da Billabong e isso traduziu-se no fecho de lojas e em despedimentos nos Estados Unidos. A decisão surge após a Liberated Brands, operadora das marcas, ter apresentado um pedido de falência no tribunal de Delaware. «Os consumidores podem agora comprar roupa mais barata e recebê-la em poucos dias. Isso mudou completamente o mercado», disse Todd Hymel, CEO da Liberated, nos documentos do pedido de falência.
Uma decisão que afeta apenas o mercado norte-americano que se vê a braços com o encerramento de mais de 100 lojas e o despedimento de cerca de 1.400 funcionários. A empresa explica esta situação com a inflação, as taxas de juro elevadas e a mudança nos hábitos de consumo, que levaram os clientes a preferir concorrentes mais baratos e rápidos, como as cadeias de fast fashion. «Os consumidores podem, de forma barata, rápida e fácil, encomendar peças de vestuário de baixa qualidade das gigantes da fast fashion e receber esses produtos em poucos dias. O consumidor médio alterou os seus hábitos de consumo, afastando-se de produtos como os oferecidos pela Liberated».
À Luz, a Despomar, empresa que representa a marca de surf em Portugal desde 1988, diz que as operações europeias continuam independentes e que não foram afetadas. «A Liberated Brands foi licenciada das marcas Volcom, Billabong e RVCA para o mercado dos EUA. Além dessas licenças, também detinha a operação de retalho para a Quiksilver, Volcom e Billabong nos EUA. Com a falência controlada da Liberated, algumas lojas irão fechar, estando ainda a decorrer negociações para salvar as mais importantes e que são rentáveis. Todas as marcas já migraram para novos licenciados», avança ao nosso jornal. «Na Europa, o Grupo Boardriders detém as licenças da Billabong, Quiksilver, Roxy, RVCA, Element, DC e VonZipper», acrescenta, referindo que «esta empresa não está de nenhuma maneira ligada ou dependente da Liberated».
Paulo Martins, fundador da Despomar, não hesita: «Continuamos empenhados em desenvolver as marcas de surf em Portugal. Estamos a atravessar um bom momento para a Billabong no mercado português – em linha com o crescimento positivo que a Billabong Europa atravessa. Estamos, como sempre e assim continuamos, do lado dos nossos atletas, dos surfistas e dos nossos parceiros, com o intuito e compromisso de continuarmos a investir no futuro do surf em Portugal».
De acordo com o responsável, «a Billabong Europa e Billabong Portugal através da Despomar SA, continuam focados no crescimento e na consolidação da marca e do negócio na região, mantendo um compromisso sólido com a comunidade do surf e dos desportos de ação». «A marca continuará a investir em inovação, na sustentabilidade e no desenvolvimento de novos produtos para garantir que os seus consumidores e clientes tenham sempre acesso às melhores experiências e materiais de alta performance. Esse mantém-se o compromisso da marca», remata.

Como tudo começou
O grande ícone do surf, a Quiksilver – cujo símbolo é uma onda e uma montanha, associando a sua ligação ao surf e ao snowboard – foi fundada em 1969 em Torquay, Austrália, por dois surfistas, Alan Green e John Law. Inicialmente apostaram em fatos de banho que respondiam às necessidades dos surfistas, em termos de comodidade e de funcionalidade. A ideia passava por ter um tecido mais durável e de secagem rápida, mas a marca foi-se desenvolvendo ao longo das épocas e, ao mesmo tempo, foi-se expandido internacionalmente e apostando em outras áreas, desde o mais variado material de surf ao patrocínio de profissionais e de campeonatos da modalidade.
Em 2018, a Quiksilver anunciou a aquisição da sua concorrente australiana Billabong que vivia uma situação financeira dramática. O negócio, na altura, custou 155 milhões de dólares (mais de 148 milhões de euros) e viu luz verde depois de, em 2012, ter recusado uma proposta quatro vezes maior, o que levou o diretor executivo da Billabong a afirmar que «a maior força das marcas da Billabong é a sua autenticidade e herança e essas qualidades não só vão estar protegidas como melhoradas por uma nova organização».