As últimas semanas demonstraram que há mais desporto para além do futebol. Os atletas portugueses conseguiram resultados nunca antes alcançados em diferentes modalidades e até se ouviu a Portuguesa.
Os atletas portugueses já nos habituaram a provas de superação, conseguindo presenças em finais e resultados relevantes, com a conquista de medalhas. É curioso constatar que um país que tem uma pobre política e cultura desportiva consegue excelentes resultados a nível individual e coletivo em diferentes modalidades. Portugal é um país pequeno, mas com uma dedicação gigante ao desporto.
O desporto constitui uma paixão e é capaz de proporcionar momentos emocionantes e despertar o orgulho nacional. Foi isso a que assistimos nas últimas semanas com importantes conquistas em modalidades tão diferentes como o andebol, basquetebol, ciclismo de pista, futsal, râguebi e patinagem no gelo, sendo que a esmagadora maioria dos portugueses nem sabia que Portugal tinha atletas a competir ao mais alto nível nos desportos de inverno. Além de Cristiano Ronaldo, Portugal também já é conhecido pelos seus feitos em outras modalidades graças ao empenho e dedicação dos atletas, que compensa a falta de infraestruturas e de programas de formação.
Com uma mão na medalha
Portugal já é uma referência internacional no andebol como ficou demonstrado com o quarto lugar no Campeonato do Mundo 2025, onde Kiko Costa foi eleito o melhor jogador jovem do torneio. Os “Heróis do Mar” venceram a Alemanha, vice-campeã olímpica, Espanha, Noruega, Brasil e empataram com a Suécia. As únicas derrotas aconteceram frente à tetracampeão do mundo Dinamarca e com a campeã europeia França no jogo de atribuição do terceiro lugar. Foi um jogo com um final ingrato para Portugal, que perdeu a medalha de bronze no último segundo quando o guarda-redes francês defendeu a bola com a cabeça… Fica uma participação brilhante da seleção comandada por Paulo Jorge Pereira, que conseguiu o melhor resultado de sempre. Mesmo assim saíram tristes porque Portugal tornou-se numa equipa completa e ambiciosa. «Mostrámos vontade de vencer e é estranho ficar triste com o quarto lugar num Mundial», referiu o selecionador Paulo Pereira.
A participação dos “Heróis do Mar” confirma o excelente trabalho realizado pelos clubes e federação nos últimos cinco anos, com presenças constantes nas grandes competições internacionais, incluindo jogos olímpicos. «Tem sido uma longa caminhada, chegámos aqui, até onde vamos não sei», afirmou o selecionador. Apesar disso, o andebol ainda não atingiu a notoriedade que merece no nosso país. Portugal joga ao nível das melhores seleções do mundo, apesar do investimento neste desporto desde a base até ao topo ser completamente diferente do que fazem as grandes potenciais mundiais. «Estamos a lutar David contra Golias. Só com um temperamento muito especial é que conseguimos mover montanhas, e acho, sinceramente, que chegámos ao Evereste. Voltaremos lá, provavelmente de uma forma mais fácil», assegurou Paulo Pereira.
A arte de encestar
Portugal venceu os dois últimos jogos da fase de apuramento e garantiu a presença no Campeonato da Europa, que se realizará em quatro países (República Checa, Alemanha, Grécia e Itália) entre 18 a 29 de junho, o que acontece pela primeira vez na história do basquetebol feminino português após 16 tentativas. O triunfo sobre a poderosa Sérvia, que liderava o grupo só com vitórias, garantiu o segundo lugar no grupo e demonstrou que as “Linces” são merecedoras desta qualificação. Portugal derrotou um dos adversários mais fortes da modalidade, demonstrou a sua crescente qualidade no panorama internacional e merece estar entre as 16 melhores equipas da Europa. O selecionador nacional, Ricardo Vasconcelos, destacou o espírito de entreajuda da equipa, sublinhando que as atletas foram «exemplares». «Não há férias, não há pausas. Há tudo pela seleção, há tudo pelo basquetebol», salientou. É com estes resultados que o basquetebol feminino luta por uma maior visibilidade. «Enquanto cidadão sinto um enorme orgulho no reconhecimento de tudo o que é feito dentro de portas e valorizado lá fora. Como treinador sinto uma enorme felicidade por ter provado que em Portugal também há muita qualidade», afirmou o selecionador, que deixou ainda um alerta: «É fundamental criar condições que nos permitam prolongar este momento». Na competição masculina, Portugal está a uma vitória de conseguir o apuramento para o Campeonato da Europa 2025, o que pode acontecer já hoje caso vença Israel ou, na pior das hipóteses, segunda-feira, em casa, frente à Ucrânia. A seleção portuguesa procura a terceira presença num Europeu, depois de 2007 e 2011.
Pedalar para as medalhas
Os portugueses estão a dar cartas no ciclismo de pista, como se verificou na passada semana no Campeonato da Europa de pista, realizado no velódromo de Heusden-Zolder, na Bélgica. Portugal conquistou seis medalhas, sendo duas de ouro, igualando o melhor registo conseguido em Europeus, e confirmando ser uma potência no ciclismo de pista.
Depois do título olímpico em madison, Iúri Leitão destacou-se ao vencer a corrida por pontos e o scratch, e conquistou mais duas medalhas de ouro. Rui Oliveira foi segundo na corrida de eliminação e o seu irmão Ivo Oliveira obteve o mesmo resultado na perseguição individual. A dupla Ivo e Rui Oliveira terminaram na terceira posição na corrida de madison e Maria Martins conquistou a medalha de bronze em scratch. «Fizemos um Europeu de excelência. Os atletas e toda a equipa de trabalho deram o melhor de si. Levamos daqui excelentes resultados para Portugal, que nos deixam muito orgulhosos e motivam-nos a continuar o processo de trabalho», considerou o selecionador nacional Gabriel Mendes
Em defesa do título
Outra modalidade desportiva que não pode ser ignorada é o futsal pela sua popularidade e sucessos desportivos a nível de clubes e seleção. Portugal já conquistou o título e é bicampeão europeu. A semana passada, conseguiu o feito de se qualificar para o Campeonato da Europa 2026, cuja fase final se realizará na Letónia e Lituânia, entre 20 de janeiro e 7 de fevereiro de 2026. Portugal tornou-se na primeira equipa a garantir o apuramento na fase de grupos ao vencer os quatro primeiros jogos. «Muito feliz por estarmos qualificados quando faltam duas jornadas. Nos últimos anos conseguimos qualificações limpas. Temos um longo período até ao Europeu, com muitos momentos de preparação para chegarmos lá com as pernas frescas, a cabeça limpa e jogar com a alegria habitual. Acreditamos que podemos fazer Campeonato da Europa muito bom», disse o selecionador nacional Jorge Braz. «Temos tido tantos bons exemplos no desporto português e nós queremos continuar a ser um exemplo. Agora, que já estamos na fase final e vamos lá com tudo», frisou. É a 11.ª participação portuguesa em fases finais de Europeus. Portugal, recorde-se, venceu as duas últimas edições da competição.
Lobos famintos
O râguebi nacional continua a marcar pontos a nível internacional e ocupa o 15.º lugar no ranking da World Rugby. Depois do excelente desempenho no Mundial de França 2023, os “Lobos” voltaram a demonstrar a sua qualidade no Rugby Europe Championship e as vitórias sobre Bélgica, Alemanha e Roménia garantiram o apuramento para o Campeonato do Mundo da Austrália 2027. É a terceira vez que Portugal está entre as melhores seleções do mundo, e também aqui se verifica uma evolução significativa na qualidade de jogo da bola oval muito pelo espírito de sacrifício de muitos dos jogadores que são puros amadores, caso do médio dentista Tomás Appleton, que também é o capitão dos “Lobos”. «Estou muito orgulhoso. Portugal merecia isto, precisava disto para dar continuidade ao que fizemos no Mundial de 2023. Estamos contentes por confirmar que Portugal tem muito, muito valor, e que conquistou uma posição no râguebi mundial», afirmou o capitão. «Temos de dar continuidade a um processo. O Simon Mannix tem lidado muito bem com o gerir jogadores, tem trazido o melhor de nós. Temos dois anos e meio para preparar o Mundial e vamos chegar muito bem», acrescentou. Portugal ainda tem muito para ganhar esta temporada. No dia 1 de março defronta a Espanha, no Estádio Nacional (15h30), na meia-final do Europe Championship com o pensamento na final frente à Geórgia ou Roménia.
Deslizar até ao ouro
A mais recente surpresa veio de Jéssica Rodrigues, que se sagrou campeã mundial júnior de patinagem de velocidade no gelo, em Itália. A patinadora venceu na disciplina de Mass Start e deu a Portugal o primeiro título mundial em desportos de inverno. «A prova foi um bocado confusa, porque o pelotão ficou dividido em dois grupos. Decidi resguardar-me para o sprint final e, quando faltava uma volta, saí muito bem para a reta final. Tem sido um trabalho incrível e tinha expectativas altas nesta disciplina», afirmou Jéssica Rodrigues, que já tinha obtido um diploma (sexto lugar) nos Jogos Olímpicos da Juventude de Inverno. Destaque também para o quarto lugar da portuguesa Francisca Henriques e sexta posição de Afonso Silva na final masculina. Pedro Flávio, presidente da Federação de Desportos de Inverno, destacou o feito da patinadora: «É um resultado extraordinário para a patinagem de velocidade no gelo. A Jéssica Rodrigues provou que é possível atingir resultados extraordinários nos desportos de inverno em Portugal. Este é também o resultado do trabalho sério e dedicado da atleta, dos seus treinadores e da federação». O título de Jéssica Rodrigues vem no seguimento do crescimento do número de atletas de desportos de inverno em Portugal. Neste momento existem mil atletas federados, o esqui alpino é a modalidade com mais praticantes, seguida do hóquei no gelo, curling, patinagem de velocidade e a patinagem artística. Também o número de clubes aumentou (56). O primeiro pavilhão de desportos de inverno, no Seixal, previsto para 2027, vai ser determinante para o crescimento da modalidade.