A lua de mel da ministra da

A lua de mel da ministra da


Depois de ter sido a governante mais atacada, passa agora ao lado da remodelação e anda pelo país a mostrar trabalho. Falta o mais difícil: negociar os estatutos e os salários dos polícias.


Era das ministras mais contestadas, até pela sua falta de habilidade comunicacional, tendo o primeiro-ministro vindo, algumas vezes, a público defendê-la. Mas agora, devido ou não à ajuda de uma empresa de comunicação, Margarida Blasco ganhou uma nova vida – o seu Ministério nem entrou na remodelação – e anda num rodopio a mostrar trabalho.

Estando o país envolvido numa ‘guerra’ de números sobre a criminalidade e a associação à imigração, a ministra deu ordens claras às forças por si tuteladas para não fornecerem mais dados parcelares sobre o fenómeno, pedindo que se aguarde pela divulgação do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI). Desta forma, Blanco ganhou algum tempo no ‘conflito’ que a opõe aos presidentes das câmaras de Lisboa e do Porto, que reclamam por mais polícias municipais e da PSP.

«O problema é que o RASI, apesar de 2024 ter sido marcado pela greve de zelo dos polícias, vai revelar que a criminalidade violenta não baixou, apesar da greve. E todos se vão queixar da falta de polícias e vão acabar por cair em cima da ministra», confessa um oficial da PSP.

«Blasco quer voltar há 40 anos atrás, altura em que saíam todos os anos mil novos polícias da Escola Prática de Polícia. No fundo, quer ganhar tempo, para poder responder aos pedidos dos autarcas e das populações. O grande desafio é convencer os portugueses a concorrerem às forças de segurança, algo que parece de difícil execução», explica fonte próxima da ministra.

«Margarida Blasco está apostada em desenvolver a videovigilância, além de querer investir em novas tecnologias para completar o policiamento de proximidade. Ela é muito persistente, determinada e de grandes convicções», acrescenta a mesma fonte.

E aqui entra outra equação de que todos fogem: será ou não inevitável abrir as portas da PSP e da GNR a homens e mulheres com dupla nacionalidade? «Ninguém quer falar nisso, nem nas forças de segurança, nem nas forças armadas, mas vai ser quase uma inevitabilidade», explica um especialista em segurança.

Revolução silenciosa

Sem se dar por isso, a ministra da Administração Interna tem levado a cabo uma pequena revolução no seu Ministério. Pouco tempo depois de tomar posse, escolheu uma nova equipa para a PSP, tendo ido buscar oficiais experientes a nível nacional e internacional, e reconhecidos pelos seus pares.

Depois da contestação do pessoal da PSP e GNR, conseguiu um aumento de 300 euros, ‘estendidos’ em dois anos, embora agora tenha o grande desafio de aprovar os novos estatutos, além das novas negociações salariais. E todos estão com os olhos e ouvidos nestas negociações: «Como partido de oposição, o máximo que podemos fazer nesta fase é acompanhar as negociações que estão em curso e desejar que elas terminem em tempo útil e com ganhos claros, que tornem de facto as carreiras na PSP e na GNR mais atrativas e termos um corpo de agentes de segurança que se sintam motivados, respeitados, valorizados, que é aquilo que nós precisamos para ter também Forças de Segurança a fazer melhor o seu trabalho de segurança do nosso povo», disse ontem Pedro Nuno_Santos, líder do PS. Blasco sabe que, ao contrário de um passado recente, o homem forte do PS não quer hostilizar as forças de segurança e estas agradecem. O secretário-geral dos socialistas não alinha no discurso do racismo e de xenofobia que a extrema-esquerda tanto gosta de ‘gritar’.

Voltemos a Blasco, pelo meio do seu mandato, ‘correu’ com o secretário-geral do MAI, ‘arrasado’ pelo relatório do Tribunal de Contas, e depressa pôs em movimento um plano de melhoria das instalações e das condições de trabalho do pessoal da PSP e da GNR. A célebre rusga na Rua do Benformoso, que noutros tempos a levaria a cometer gafes atrás de gafes, serviu agora para aparecer segura perante a comissão na Assembleia da República. «Não é propriamente uma grande oradora, mas já se faz entender bem», explica fonte do Ministério.

«Para se perceber bem a revolução silenciosa que está a levar a cabo, veja-se como há poucos dias deu posse à primeira mulher comandante do Comando Territorial da GNR, no caso dos Açores, coronel Cláudia Santos», acrescenta a mesma fonte.

«É mais um testemunho de que Portugal e os portugueses podem contar com umas forças de segurança cada vez mais modernas e que na nossa sociedade são o exemplo da promoção e da igualdade entre homens e mulheres», disse a ministra, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. Esperemos pelos próximos capítulos.