Os setores dos recursos minerais e dos recursos energéticos desempenham um papel fulcral no combate às alterações climáticas. A celebração do Acordo de Paris e o estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pela Organização das Nações Unidas aceleraram os esforços para controlar o aquecimento global do planeta, que inclui, entre outros, a transição energética pela substituição dos combustíveis fósseis, produtores de gases com efeito de estufa como o dióxido de carbono, por alternativas renováveis.
De facto, o desenvolvimento científico e tecnológico tem sido tão impressionante nos últimos anos que, para o cidadão comum, torna-se cada vez mais frequente encontrar grandes parques fotovoltaicos na paisagem ou mesmo se aperceber do aumento do número de veículos de emissões nulas durante uma viagem pelas estradas nacionais.
Não obstante de todos os progressos, todas as soluções convergem num ponto essencial: a crescente necessidade de matérias-primas, tais como o lítio, o cobalto, o níquel, o gálio e o boro, essenciais para a criação de sistemas de armazenamento e produção de energia.
Tendo em consideração a sempre crescente procura destas matérias-primas, é impossível contar apenas com a obtenção das mesmas através de processos de reciclagem, numa perspetiva de economia circular, sendo essencial recorrer aos recursos oferecidos pela Terra. Em Portugal, uma das referidas matérias-primas tem sido alvo de grande atenção: o lítio. Este é o elemento metálico conhecido mais leve que ocorre na natureza sendo comummente transacionado sob a forma de carbonato de lítio, hidróxido de lítio e outros, produzido através de salmouras e rochas com minerais como a espodumena, a lepidolite e a petalite.
Não obstante da génese de produção primária deste metal ou de quaisquer outros recursos metálicos, não metálicos ou energéticos, é requisito essencial proceder-se à sua extração tendo em consideração os três pilares da sustentabilidade: a economia, o ambiente e a sociedade. É aqui que o Engenheiro de Minas e Recursos Energéticos desempenha uma das suas principais funções, uma vez que se dedica à sua procura, para além de planear e gerir esses recursos.
O Instituto Superior Técnico, nomeadamente através do Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos, dedica-se à formação desta mão-de-obra especializada, desde 1911. Desde aí, o curso sofreu diversas atualizações, das quais derivaram diferentes designações, tendo a última ocorrido em 2021. Nesta atualização, foram incluídos diversos conteúdos programáticos, por forma a dar resposta às questões relacionadas com a sustentabilidade, descarbonização e digitalização, sendo estes oferecidos desde o primeiro ano da Licenciatura em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos, prosseguindo para as formações de continuidade de 2.º Ciclo, no Mestrado em Engenharia Geológica e de Minas e no Mestrado em Engenharia de Recursos Energéticos.
Para além destes grandes temas, os cursos passaram a contar com conteúdos programáticos baseados na digitalização, aprendizagem automática, inteligência artificial, entre outros aspetos, utilizando as mais inovadoras técnicas de aprendizagem, destacando-se a utilização de óculos de realidade virtual e realidade aumentada, nunca esquecendo os conteúdos mais clássicos, ministrados através de aulas de natureza laboratorial. Ao nível dos Recursos Energéticos destaca-se a introdução de conteúdos relacionados com o armazenamento geológico de dióxido de carbono e a prospeção e produção de energia geotérmica que, apesar de ainda não ser uma fonte de energia renovável de maior importância em Portugal, irá, muito em breve, suscitar grande interesse por parte da opinião pública.
Sendo estas formações muitas vezes do desconhecimento dos potenciais candidatos e como resultado de políticas passadas ao nível da produção de matérias-primas e energia, a indústria tem sentido, a nível global, grandes dificuldades em captar mão-de-obra com o know-how necessário. Um exemplo muito recente desta preocupação foi o empenho de um conjunto de empresas nacionais na oferta de bolsas de mérito académico a alunos ingressados na Licenciatura em Engenharia de Minas e Recursos Energéticos do Técnico no ano letivo 2024/2025.
Termina-se assim este texto como se começou: os setores dos Recursos Minerais e dos Recursos Energéticos desempenham um papel fulcral no combate às alterações climáticas, sendo urgente captar talento para estas áreas por forma a se ter capacidade para dar continuidade ao processo de combate a este flagelo global, atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro global sustentável para as gerações vindouras.
Professor do Instituto Superior Técnico