Otto Skorzeny. Recebeu a alcunha de O Homem Mais Perigoso da Europa – vamos saber porquê

Otto Skorzeny. Recebeu a alcunha de O Homem Mais Perigoso da Europa – vamos saber porquê


De entre os muitos capangas de Adolf Hitler, Skorzeny, tenente-coronel das Waffen-SS, foi o escolhido para uma série de operações especiais entre as quais a deposição do dirigente húngaro Miklós Horthy e o resgate de Benito Mussolini.


No seu tempo de estudante da Universidade Técnica de Viena, cidade onde nasceu, ganhou a alcunha de Schmiss (Cicatriz). Um risco bruto rasgava-lhe o lado esquerdo da cara. É verdade que a cicatriz não faz de um homem um velhaco, mas são raros os velhacos que não exibem cicatrizes.

Produto da classe média vienense, Otto Johann Anton Skorzeny veio amaldiçoadamente ao mundo no dia 12 de Junho de 1908. Na lista dos seus antepassados multiplicavam-se os militares pelo que foi mergulhado numa educação de caserna, ensinado a obedecer ou a dar ordens sem que houvesse possibilidade de discussão, algo que não o impediu de falar fluentemente o francês e o inglês. O seu apelido não era propriamente um patronímico. Era mais toponímico já que foi buscar a origem à cidade de Skorzęcin, no centro da atual Polónia. Mas chiu!, não façam alarde. Não há necessidade de envergonhar a Polónia.

As fardas fascinavam Otto. Em 1932 já estava inscrito no Partido Nacional Socialista Austríaco e as suas ambições eram desmedidas. Apesar da clara simpatia pelo nazismo germânico, tomou uma posição corajosa durante o Anschluss, a anexação da Áustria pela Alemanha, e salvou do assassinato o presidente deposto, Wilhelm Miklas. Quando foi chamado à pedra por causa do assunto desculpou-se afirmando que não merecia a pena fazer de Miklas um mártir. O episódio entrou na lenda mas nada, a não ser a palavra do manhoso Skorzeny garantem que não passou de uma farsa. Foi por essa altura que encasquetou no seu cérebro caliginoso a ideia de fazer parte da Luftwaffe, a força aérea nazi. Viu os seus planos borregarem quando, na fase de alistamento, o consideraram demasiado alto para se movimentar dentro de um cockpit. Sempre eram um metro e noventa e cinco de pulha. Ainda ocupou a função de engenheiro mas o que verdadeiramente queria era entrar em ação. Não perdeu tempo e passou a fazer parte da Schutzstaffel, as Waffen SS, incluído na Leibstandarte SS Adolf Hitler, a força pretoriana do Führer. Estávamos em 1939. A Polónia dos seus ancestrais caíra sob a pata imunda do nazismo.

Finalmente, Otto ia para a guerra. Na 2ª Divisão das SS Panzer Division Das Reich, enfileirou-se no meio de outros imbecis como ele aquando da invasão da União Soviética. Fez-se notar. Não era apenas grande, era feroz. Os anos de faculdade nos quais participou em vários duelos à espada e à pistola congelaram-lhe o sangue. Os camaradas admiravam a sua valentia. Em Outubro de 1941, as façanhas que corriam de boca em boca fizeram-no responsável pelo Esquadrão Técnico que combateu na Batalha de Moscovo. Com a missão específica de ocupar edifícios de suprema importância como a Sede do Partido Comunista, o centro geral de comunicações e as instalações da polícia secreta soviética, a NKVD (mais tarde KGB), situadas na Praça Lubyanka. A História conta-nos como foi. As ganas de Hitler em conquistar a capital do comunismo deram com os burros na água. As missões de Otto foram anuladas, voltava a ser um zé-ninguém por muito que isso lhe doesse na alma, coisa que ninguém foi capaz de afirmar que possuía. A Operação Barbarossa desfez-se como um dente de leão em tarde de ventania. Ainda assim, e por via daqueles que testemunharam a sua bravura nas trincheiras, foi-lhe concedida a Cruz de Ferro. E a Cruz de Ferro não ficava nada bem no peito de um homem que foi retirado da frente para ser encafuado num escritório a tratar de burocracias, ainda por cima com a cabeça mais uma vez amolgada por um estilhaço de granada que se alojou na sua nuca. Otto fervia por dentro. O seu cérebro podia ser obtuso mas não deixava de estar em contínuo movimento.

As ideias de Otto

O tempo que passou  à secretária não foi tão em vão como possam crer. Desenvolveu projetos. Sobretudo para ações de comando destinadas a objetivos concretos. Outra mente perversa, a de Ernst Kaltenbrunner, o chefe de segurança do Reich, encarou-os como válidos. Otto viu-se livre do cubículo onde o tinham encerrado como um inútil. Seria, a partir daí, responsável pelo treino de grupos de sabotagem, de espionagem e de técnicas paramilitares. Estava eufórico. E mais eufórico ficou quando o promoveram a chefe das Waffen SS Sonderverband z.b.V. Friedenthal, significando a sigla z.b.V o lema «zur besonderen Verwendung» (para funções especiais, numa tradução mais ou menos livre), uma companhia de mais de 300 soldados prontos para qualquer patifaria e, sobretudo, para matar muita gente. As ideias de Otto passariam à prática.

A mais tonitruante das operações comandadas por Otto Skorzeny chamou-se Unternehmen Eiche (Operação Carvalho). A missão, levada a cabo com êxito no dia 12 de Setembro de 1943, recuperou Benito Mussolini, Il Duce de Itália que tinha sido destituído pelo Grande Concelho Fascista e mantido em cativeiro no Hotel Campo Imperatore nas montanhas do Gran Sasso pertencentes à cordilheira dos Apeninos. Mas não foi a primeira. Três meses antes tinha posto em marcha a Operação François: o envio de paraquedistas para o Irão na tentativa de convencer tribos separatistas a boicotarem as cargas dos Aliados de auxílio à União Soviética que eram transportadas pelos comboios da Trans-Iranian Railways. Um fracasso total que, apesar de tudo, não abalou a confiança de Otto. Havia muito mais ideias no lugar das que tinham sido efetuadas. Principalmente uma que descambou numa trapalhada grotesca, a que serviria para matar os Três Grandes Líderes, Churchill, Roosevelt e Estaline, durante a cimeira dos Aliados realizada em_Teerão nesse mesmo ano de 1943. Seria algo que poderia mudar o curso da guerra, mas foi abortada à última hora após os serviços secretos soviéticos terem intercetado as comunicações nazis. Skorzeny falhou em todas as outras operações por ele planeadas. Mas continuava embebido numa sede de vingança absolutamente incontrolável. Tudo lhe servia de alvo.

O Homem mais Perigoso da Europa

Quando escrevi tudo quis escrever mesmo tudo. Dois anos depois da rendição nazi, Otto estava outra vez fechado entre quatro paredes. Mas desta vez com grades no lugar de uma delas. A sua mesquinhez fizera-o roubar alimentos destinados à Cruz Vermelha, uniformes militares americanos e utilizar fardas que não correspondiam à sua patente. Batera no fundo. E, no entanto, fugiu da prisão de Darmstadt enquanto aguardava julgamento e no período mais duro da desnazificação da Alemanha. Era uma enguia. E por não conseguirem mantê-lo em reclusão, os Aliados resolveram colocar nos cartazes de ‘Procura-se!’ o epíteto de «The most dangerous man in Europe».

Em 1950, livre como um passarinho de gaiola aberta, Otto instalou-se em Madrid e abriu uma empresa de engenharia. Pura fachada. Não tardou a ser chamado ao Cairo para treinar forças armadas egípcias e de outros países árabes que fariam raides sobre Israel. Yasser Arafat foi um dos seus pupilos. Ao mesmo tempo dirigia Die Spinne (A Aranha), uma organização que tinha como objetivo ajudar antigos membros das SS a escaparem às punições que pendiam sobre eles. Conseguiu exílio em_Espanha e na Argentina para mais de 600 deles. Passou a ser um alvo dos serviços secretos israelitas, a Mossad, mas o seu instinto de sobrevivência e a sua espinha maleável atingiu o impensável: foi trabalhar para a própria Mossad. No dia 5 de Julho de 1975, uns meses antes de morrer o seu protetor Francisco Franco, El Caudillo, Otto Skorzeny ia parar aos quintos do Inferno por via de um cancro nos pulmões. Crê-se que, quando lhe fizeram a autópsia, os médico não encontraram um vestígio de escrúpulos.