Web Summit perde o brilho?

Web Summit perde o brilho?


Com mais uma edição a caminho, os hotéis parecem não ter muitos motivos para sorrir. Mas há uma novidade que pode ser uma boa notícia para a restauração. Prognósticos só no fim do jogo e depois logo se fazem as contas.


A Web Summit está de volta a Lisboa – de 11 a 14 de novembro – e parece que já não tem o mesmo brilho. Pelo menos é isso que contam fontes ligadas ao setor da hotelaria, que contam que outros eventos, como o concerto de Taylor Swift ou um encontro ligado às criptomoedas que o nosso país recebeu recentemente fizeram com que os preços e as reservas dos hotéis aumentassem muito mais do que nestes dias da Web Summit.

«Duplicámos os preços. Ou seja, de 150 euros por noite, passámos a 300 euros, mas na Taylor Swift estiveram a 600 euros e vendemos. Agora é diferente», diz ao nosso jornal uma fonte ligada ao setor, acrescentando que a Web Summit «já não é a explosão que era antigamente».

Mas pode haver um fator associado. É que, tendo em conta que o evento tecnológico vai também realizar-se no Dubai e no Rio de Janeiro, «se calhar as pessoas preferem pagar para participar nesse evento numa outra cidade. Quem quer ir à Web Summit também vai para visitar o país e se calhar escolhe outras localizações e não sempre Portugal».

Outra fonte do mesmo setor adianta que não houve alterações em relação aos anos anteriores nem de preços nem de procura. «Há um ligeiro aumento de preços mas tem a ver com a procura do mercado e não necessariamente com a Web Summit», confessa.

A verdade é que o evento tecnológico tem trazido alguns proveitos nos últimos anos. Mas já no ano passado os números mostraram algumas quebras. No caso da cidade de Lisboa, apenas 57% dos hoteleiros inquiridos deram conta de um volume de taxa de ocupação acima dos 90%, um valor muito inferior ao de 2022.

Estes são dados da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que mostram ainda que, na Área Metropolitana de Lisboa, a tendência replica-se, sendo que em 2022 77% dos hoteleiros dava conta de taxas de ocupação entre os 91% e os 100% para o período da Web Summit e no ano passado só 52% dos hoteleiros reportaram estas percentagens.

Para este ano teme-se o pior.

Mais uma edição, mais novidades

Para manter vivo o interesse dos participantes, a Web Summit tem apresentado novidades todos os anos. Nesta edição não podia ser diferente. Para começar, Paddy Cosgrave está de volta à liderança do evento, depois de não ter estado o ano passado devido a declarações polémicas.

Mas não é a única mudança. Uma das principais novidades este ano é o Night Summit, que pode ser mais uma valiosa ajuda para os espaços de restauração da cidade. Quer isto dizer que os eventos não terminam no final do dia com as palestras. Nas noites de 12 e 13 de novembro, os participantes do Night Summit vão ser guiados para bares e restaurantes por cinco bairros de Lisboa, onde poderão participar de encontros com a comunidade e fazer networking.

As mudanças continuam com a Web Summit a apresentar novos palcos e trilhas, como é o caso do Developer Summit, New Energy Summit, Marketing Summit, Government Summit, entre outros.

A edição deste ano não foge muito aos temas do ano passado e terá como foco não só a acessibilidade como, claro, a inteligência artificial que tem dado um grande impulso à tecnologia nos últimos anos.

E tem como objetivo bater recordes, com 2.750 startups num evento onde são esperadas mais de 70 mil pessoas. Será uma cimeira que terá como foco promover conexões «significativas» através de encontros alimentados pelo Summit Engine.

«Este será o nosso maior, mas também o mais pequeno, evento de sempre», defendeu o CEO e fundador da cimeira tecnológica, antecipando que esperam «acolher milhares de encontros comunitários».

E já há vários oradores confirmados como é o caso de Lidiane Jones, CEO do Bumble, Omar Berrada, CEO do Manchester United, Meredith Whittaker, presidente da Signal, e o ator e comediante Munya Chawawa.

Portugal também tem destaque. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, estará presente, bem como a ministra da Juventude e da Modernização, Margarida Balseiro Lopes, Vasco Pedro, cofundador e CEO da Unbabel, Cristina Fonseca, sócia da Indico Capital Partners, e a apresentadora Cristina Ferreira.

Moedas dá mais 4 milhões

E como não há Web Summit sem polémica, a deste ano já aconteceu. O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e a autarquia que lidera, aprovaram a atribuição de quatro milhões de euros à Associação de Turismo de Lisboa, do total pedido de 7,067 milhões, para a próxima edição do evento tecnológico. «Considerando que a edição de 2024 da Web Summit terá início já no próximo dia 11 de novembro, pretende-se, com a presente proposta, a aprovação da transferência de parte dessa verba, no montante de quatro milhões de euros, sendo que, em futura deliberação, se submeterá à aprovação desta câmara a transferência do remanescente [do total pedido de 7,067 milhões de euros]», lê-se no documento a que a Lusa teve acesso.

Quem não concorda com a verba é a oposição, e o vereador do Bloco de Esquerda, Ricardo Moreira, usou as redes sociais para o mostrar: «Hoje Moedas retirou quatro milhões de euros da Carris e pôs quatro milhões de euros na Web Summit. Quando o autocarro não vier ou estiver atrasado, já sabes que foram os unicórnios que usaram esse dinheiro».

Moedas desvaloriza e garante que estas críticas «não têm fundamento». «Não se retira dinheiro de lado nenhum. Haverá dinheiro para todas as necessidades», prometeu o autarca.