O Xerife de Baixa Hill


O Xerife de Baixa Hill está montado nas circunstâncias favoráveis do perfil da alternativa política e das conivências, como no passado.


É do ADN dos baixo alentejanos a capacidade de resiliência perante as circunstâncias, geralmente adversas, entre as condições da natureza e o esquecimento dos poderes dos centros de decisão política da capital, sem espaço para queixumes ou desculpas que não sejam o de “fazer-se à vida”. Depois de anos de uma matriz autárquica com inequívocos abusos de posição dominante, com muitas conveniências dos media e até do governo do PSD/CDS no tempo da Troika (Aforro financeiro dos terrenos do aeroporto e frente ribeirinha) e de uma crescente degradação da estrutura partidária que suportava o poder, Carlos Moedas chegou à liderança do município com arrojo discursivo de mudança, modernização e superação de problemas, parco em compromissos concretos, mas ambicioso nas ambições. A gestão autárquica desde então, sem maioria absoluta, à imagem da República, tem sido mais de desculpa com o passado e com as circunstâncias do que de concretização, com abandono de projetos em andamento, apropriação de projetos herdados e insistentes insatisfações por não fazer. O invulgar friso laranja das comemorações de mais um aniversário da implantação da República, com uma presidência no município, um primeiro-ministro, um presidente da Assembleia da República e um Presidente da República, sublinha a impotência de Carlos Moedas para gerar soluções para os lisboetas, quem cá trabalha e a cidade como palco territorial de dinâmicas. A herança pesada dos impactos na habitação, na integração, na imigração, nos transportes e outros pilares que modelam os quotidianos dos problemas, não desculpa a incapacidade para gerar soluções.

E vai daí, em rota de convergência com as próximas eleições que a resiliente capacidade de antecipação, reação e visão de futuro cedeu todo o espaço ao papel de Xerife da Baixa Hill, em linha com o ancestral de Nottingham, também na dimensão de tirar aos pobres para dar aos ricos, ma sobretudo na segurança.

Portugal é, nos rankings e nos dados, um país seguro que assente boa parte das suas dinâmicas positivas na galinha dos ovos de ouro do turismo, com incontornáveis projeções negativas no dia-a-dia de quem cá vive, por falta de atenção aos sinais e aos exageros. Para “galinha dos ovos de ouro”, tem-se feito muito pouco para que os pressupostos fundamentais da atividade e das vivências em geral se mantenham sem perturbações de relevo. O resultado está à vista. Ultrapassaram-se linhas vermelhas, deu-se espaço ao populismo por falta de respostas aos problemas concretos das pessoas e dos territórios, deixou-se gangrenar situações lesivas do compromisso democrático e do exercício de funções públicas. Atualmente, as perceções contam mais que as realidades, por também tocadas entre o real e o formal. Sem responder às causas que formatam a realidade, restam as desculpas ou o trabalho das perceções, pelos posicionamentos públicos e pelo incontornável misto entre a propaganda e a conhecida conivência mediática imparável perante a lei, o senso e as instituições.

Para uma cidade que se posiciona como destino turístico seguro, é um desastre a estratégia do Xerife da Baixa Hill. Sem capacidade para reagir, porque o governo não responde aos lancinantes apelos de mais efetivos, Moedas lançou-se numa cruzada que sublinha que o problema da segurança é mais do que a perceção. Pediu mais efetivos da PSP em Lisboa, reclamou mais patrulhamento e, ao arrepio da lei, deu ordens à Polícia Municipal para que efetuasse detenções em flagrante delito, algo ao alcance, nos princípios, a qualquer cidadão, e verberou na comemoração da República sobre os seus “inconseguimentos”, contra a imigração descontrolada, a insegurança e outras maleitas de Lisboa. Podia ter feito alguma coisa dentro da legalidade ou proposta alguma inovação em matéria de segurança, por exemplo, um projeto piloto de reforço do patrulhamento policial com carros elétricos, boas comunicações e um agente por viatura, que, pela maior presença no terreno, seria dissuasor, agindo em situação de ocorrência em articulação com outros meios posicionados nas proximidades.

Mas não, o Xerife foi pelo queixume e voltou a sublinhar, para votante ouvir, que Lisboa não é uma cidade segura. Teria sido importante anunciar ou sublinhar ação, solução ou resposta, mas não. O Xerife confortado na inconsistência da alternativa no momento marcante da renovação ou não do mandato, preferiu a resposta que tem dado, em modo de queixume com as circunstâncias, amiúde no limiar do populismo.

E assim, sem acosso eleitoral de relevo, prossegue a indiferença perante o deslaço dos problemas vigentes dependentes da vontade própria do município nos transportes municipais, no lixo, na rebaldaria das obras sem planeamento, na limpeza urbana, na infestação do espaço público com painéis (herdados ou não), na falta de fluidez das relações com todas as freguesias, nos semáforos de trânsito que não promovem a circulação e num sistemático populismo inconsequente de ocasião. Há um acontecimento. Há um anúncio. Nada é para ser levado a sério. Veja-se a título de exemplo a aplicação antissísmica anunciada aquando do abalo de 26 de agosto ou as obras do plano de drenagem nas laterais da Avenida da Liberdade anunciadas com conclusão em final de agosto.

O Xerife de Baixa Hill está montado nas circunstâncias favoráveis do perfil da alternativa política e das conivências, como no passado. O drama é que sem antecipação, sem resposta aos sinais, sem construção de soluções e com crescente sobranceria, os problemas vão continuar a agudizar-se. É como no tempo do outro Xerife, dos pobres para os ricos, a maioria fica a perder e Lisboa perde-se.

NOTAS FINAIS

A GOVERNAÇÃO NUNCA VIOLENTOU AS CONVICÇÕES? Na política como a arte do possível, é claro que as convicções acessórias por vezes são beliscadas. Foi e é assim no poder como na oposição. É acabar com a novela orçamental, a pensar no país.

MEDIA TELEGUIADOS. Informar é uma missão, com evidentes sinais de sustentabilidade e degradação. Os media que já fizeram eleger um presidente. Os media que geram ambições presidenciais, também jogam no tabuleiro de desgastar terceiros. É estranho ver a informação amigada de ajustes de contas e interesses particulares.

OLÉ, PAN. A cegueira fundamentalista do PAN, agora reconduzido ao seu nicho temático para lutar pela sobrevivência política, intentou, depois dos gatos do pátio da Assembleia da República impor o seu gosto através de uma proposta de referendo para proibir as touradas. O senso chumbou o intento. O país tem mais com que se preocupar.

O Xerife de Baixa Hill


O Xerife de Baixa Hill está montado nas circunstâncias favoráveis do perfil da alternativa política e das conivências, como no passado.


É do ADN dos baixo alentejanos a capacidade de resiliência perante as circunstâncias, geralmente adversas, entre as condições da natureza e o esquecimento dos poderes dos centros de decisão política da capital, sem espaço para queixumes ou desculpas que não sejam o de “fazer-se à vida”. Depois de anos de uma matriz autárquica com inequívocos abusos de posição dominante, com muitas conveniências dos media e até do governo do PSD/CDS no tempo da Troika (Aforro financeiro dos terrenos do aeroporto e frente ribeirinha) e de uma crescente degradação da estrutura partidária que suportava o poder, Carlos Moedas chegou à liderança do município com arrojo discursivo de mudança, modernização e superação de problemas, parco em compromissos concretos, mas ambicioso nas ambições. A gestão autárquica desde então, sem maioria absoluta, à imagem da República, tem sido mais de desculpa com o passado e com as circunstâncias do que de concretização, com abandono de projetos em andamento, apropriação de projetos herdados e insistentes insatisfações por não fazer. O invulgar friso laranja das comemorações de mais um aniversário da implantação da República, com uma presidência no município, um primeiro-ministro, um presidente da Assembleia da República e um Presidente da República, sublinha a impotência de Carlos Moedas para gerar soluções para os lisboetas, quem cá trabalha e a cidade como palco territorial de dinâmicas. A herança pesada dos impactos na habitação, na integração, na imigração, nos transportes e outros pilares que modelam os quotidianos dos problemas, não desculpa a incapacidade para gerar soluções.

E vai daí, em rota de convergência com as próximas eleições que a resiliente capacidade de antecipação, reação e visão de futuro cedeu todo o espaço ao papel de Xerife da Baixa Hill, em linha com o ancestral de Nottingham, também na dimensão de tirar aos pobres para dar aos ricos, ma sobretudo na segurança.

Portugal é, nos rankings e nos dados, um país seguro que assente boa parte das suas dinâmicas positivas na galinha dos ovos de ouro do turismo, com incontornáveis projeções negativas no dia-a-dia de quem cá vive, por falta de atenção aos sinais e aos exageros. Para “galinha dos ovos de ouro”, tem-se feito muito pouco para que os pressupostos fundamentais da atividade e das vivências em geral se mantenham sem perturbações de relevo. O resultado está à vista. Ultrapassaram-se linhas vermelhas, deu-se espaço ao populismo por falta de respostas aos problemas concretos das pessoas e dos territórios, deixou-se gangrenar situações lesivas do compromisso democrático e do exercício de funções públicas. Atualmente, as perceções contam mais que as realidades, por também tocadas entre o real e o formal. Sem responder às causas que formatam a realidade, restam as desculpas ou o trabalho das perceções, pelos posicionamentos públicos e pelo incontornável misto entre a propaganda e a conhecida conivência mediática imparável perante a lei, o senso e as instituições.

Para uma cidade que se posiciona como destino turístico seguro, é um desastre a estratégia do Xerife da Baixa Hill. Sem capacidade para reagir, porque o governo não responde aos lancinantes apelos de mais efetivos, Moedas lançou-se numa cruzada que sublinha que o problema da segurança é mais do que a perceção. Pediu mais efetivos da PSP em Lisboa, reclamou mais patrulhamento e, ao arrepio da lei, deu ordens à Polícia Municipal para que efetuasse detenções em flagrante delito, algo ao alcance, nos princípios, a qualquer cidadão, e verberou na comemoração da República sobre os seus “inconseguimentos”, contra a imigração descontrolada, a insegurança e outras maleitas de Lisboa. Podia ter feito alguma coisa dentro da legalidade ou proposta alguma inovação em matéria de segurança, por exemplo, um projeto piloto de reforço do patrulhamento policial com carros elétricos, boas comunicações e um agente por viatura, que, pela maior presença no terreno, seria dissuasor, agindo em situação de ocorrência em articulação com outros meios posicionados nas proximidades.

Mas não, o Xerife foi pelo queixume e voltou a sublinhar, para votante ouvir, que Lisboa não é uma cidade segura. Teria sido importante anunciar ou sublinhar ação, solução ou resposta, mas não. O Xerife confortado na inconsistência da alternativa no momento marcante da renovação ou não do mandato, preferiu a resposta que tem dado, em modo de queixume com as circunstâncias, amiúde no limiar do populismo.

E assim, sem acosso eleitoral de relevo, prossegue a indiferença perante o deslaço dos problemas vigentes dependentes da vontade própria do município nos transportes municipais, no lixo, na rebaldaria das obras sem planeamento, na limpeza urbana, na infestação do espaço público com painéis (herdados ou não), na falta de fluidez das relações com todas as freguesias, nos semáforos de trânsito que não promovem a circulação e num sistemático populismo inconsequente de ocasião. Há um acontecimento. Há um anúncio. Nada é para ser levado a sério. Veja-se a título de exemplo a aplicação antissísmica anunciada aquando do abalo de 26 de agosto ou as obras do plano de drenagem nas laterais da Avenida da Liberdade anunciadas com conclusão em final de agosto.

O Xerife de Baixa Hill está montado nas circunstâncias favoráveis do perfil da alternativa política e das conivências, como no passado. O drama é que sem antecipação, sem resposta aos sinais, sem construção de soluções e com crescente sobranceria, os problemas vão continuar a agudizar-se. É como no tempo do outro Xerife, dos pobres para os ricos, a maioria fica a perder e Lisboa perde-se.

NOTAS FINAIS

A GOVERNAÇÃO NUNCA VIOLENTOU AS CONVICÇÕES? Na política como a arte do possível, é claro que as convicções acessórias por vezes são beliscadas. Foi e é assim no poder como na oposição. É acabar com a novela orçamental, a pensar no país.

MEDIA TELEGUIADOS. Informar é uma missão, com evidentes sinais de sustentabilidade e degradação. Os media que já fizeram eleger um presidente. Os media que geram ambições presidenciais, também jogam no tabuleiro de desgastar terceiros. É estranho ver a informação amigada de ajustes de contas e interesses particulares.

OLÉ, PAN. A cegueira fundamentalista do PAN, agora reconduzido ao seu nicho temático para lutar pela sobrevivência política, intentou, depois dos gatos do pátio da Assembleia da República impor o seu gosto através de uma proposta de referendo para proibir as touradas. O senso chumbou o intento. O país tem mais com que se preocupar.