O fantasma da crise do subprime

O fantasma da crise do subprime


Abrandamento na economia americana assustou mercados e regressou o medo de uma nova crise financeira.


No início desta semana as bolsas mundiais apanharam um valente susto com as americanas a estarem no epicentro da questão. Os dados do emprego nos EUA foram interpretados como um abrandamento da economia e a bolsa reagiu. E abriu a porta ao receio de podermos estar a assistir a um deja vu do subprime. Apesar do pessimismo, João Queiroz, Head of Trading do Banco Carregosa, diz ao Nascer do SOL que não existem informações relevantes e suficientes que pensar nisso, mas reconhece que existe «uma válida preocupação, especialmente em tempos de incerteza, mas para avaliar esse cenário é importante considerar as semelhanças e diferenças entre o contexto atual e os fatores que levaram à crise em 2007-2008», diz.

E explica ainda que existem «semelhanças potenciais como o elevado endividamento de particulares, empresas e países, os preços dos imóveis subiram significativamente em muitas regiões e em alguns mercados, o acesso ao crédito continua relativamente fácil, o que pode levar a empréstimos de elevado risco». No entanto, é preciso destacar as diferenças como implementação de reformas significativas no setor financeiro, incluindo a Lei “Dodd-Frank” nos EUA «que provocou um aumento do peso da supervisão e auxilia a mitigar o potencial de riscos sistémicos, existem novas regras de capital e liquidez foram introduzidas para bancos globais, tornando-os mais robustos, desenvolveram melhores modelos de avaliação de risco e ‘stress tests’ para identificar potenciais vulnerabilidades, e a transparência melhorou com maior profusão de informação disponível sobre produtos financeiros e riscos associados».

Na base desta quebra esteve a divulgação dos dados do mercado laboral dos EUA que geralmente serve para avaliar a robustez da economia e como um indicador da sua saúde económica do país. «Os dados sugeriram um abrandamento que causou uma surpresa e acrescida preocupação», salienta. O responsável explica que com as estatísticas a sugerirem uma abrandamento na criação de emprego ou que a taxa de desemprego está a incrementar, «pode indiciar crescimento mais lento pelo que as empresas tenderão a resultados menores no futuro, o que pode reduzir as avaliações das ações».

E acrescenta que «um abrandamento da empregabilidade tende a significar que menos pessoas têm rendimentos disponíveis para gastar, o que pode reduzir o Consumo e como representa uma relevante parte do PIB dos EUA, uma queda na despesa dos consumidores reavivou preocupações sobre um cenário de ‘suave aterragem’ ou estagnação económica, mas ainda é extemporâneo poder afirmar que estaremos nesse cenário». O responsável adianta ainda que «surpresas nos dados do emprego podem contribuir para aumentar a incerteza no mercado e motivar os investidores a adotar uma postura mais cautelosa e conservadora, resultando em ajustes de carteiras com vendas de ações e uma queda nas cotações dos ativos de maior risco».

João Queiroz defende também que esta reação pode ser considerada «normal se os fracos dados de emprego estiverem alinhados com outros sinais de abrandamento económico e empresarial, sobretudo, se as oscilações dos preços das ações forem moderados e refletirem ajustes racionais nas expectativas de crescimento». No entanto, acrescenta que «pode ser considerada exagerada se resultar em continuadas quedas acentuadas e abruptas nos preços das ações, sem suporte de outros indicadores económicos relevantes, ou se for impulsionada por fatores emocionais e não racionais».

Questionado sobre de que forma pode afetar outros mercados, nomeadamente o português, o especialista diz que os dados de emprego dos EUA «têm um potencial e relevante impacto nos mercados globais, com capacidade para influenciar diretamente a economia e os mercados financeiros em geral e Portugal», explicando ainda que as correlações entre os diversos mercados financeiros «significa que uma reação adversa ou benigna nos EUA pode conduzir a uma variação da aversão ao risco global, impactando as ações, taxas de juros, divisas e crescimento económico em Portugal por via das exportações e investimento estrangeiro». João Queiroz diz ainda que o mercado nacional pode sempre «ser impactado por um efeito contágio, atendendo que as cotadas portuguesas podem ser afetadas pela aversão global ao risco, pela venda de ativos e porque possuem forte exposição aos mercados internacionais e dependência da economia dos EUA, direta ou indiretamente através dos seus parceiros europeus».