Fazer coisas como aprender e tirar férias na terceira idade são aspetos importantes para a saúde e o bem-estar dos idosos. Por exemplo, naquilo que diz respeito ao primeiro ponto, sabe-se que a aprendizagem contínua ajuda a manter o cérebro ativo e pode retardar o declínio cognitivo. Atividades como ler, fazer cursos, aprender novos hobbies ou até mesmo usar tecnologias modernas estimulam a mente. Já as férias proporcionam uma pausa da rotina diária, ajudando a reduzir o stress e promovendo o relaxamento, o que é essencial para a saúde mental e física.
Relativamente aos primeiros objetivos, o Programa de Estudos Universitários para Seniores da Universidade do Porto (PEUS) foi criado, com a primeira edição em 2006, no âmbito da Educação Contínua daquela instituição de Ensino Superior e exigia “por isso à época que quem o frequentasse tivesse formação académica superior”, como explica, em declarações ao i, Maria da Graça Castro Pinto, professora emérita da UP-FLUP e responsável pelo PEUS.
“Esse requisito foi importante porque passou a atrair a atenção de um público mais exigente, mais seletivo e crítico em relação à oferta de matérias. Por outro lado, o modelo educativo em causa, por ser diferente, mostrava também que não visava competir, de forma alguma, com a oferta educativa para seniores já existente, designada em geral por Universidades de Terceira Idade”, continua a professora autora da obra Da aprendizagem ao longo da vida ou do exemplo de uma relação ternária: agora, antes, depois, indicando que “tratava-se, sim, de uma oferta complementar à existente que estava a prestar um serviço relevante à sociedade em geral”.
O PEUS “pode ser frequentado por pessoas a partir dos 55 anos e com o 12.º ano ou um curriculum que se adeque ao nível do Programa”, como diz a docente universitária, observando que “acontece que de um modo geral têm todos formação superior”. Naquilo que diz respeito à abordagem pedagógica em comparação com os cursos tradicionais, Maria da Graça Castro Pinto explicita que “os estudantes do PEUS têm aulas às terças, quartas e sextas, das 15h00 às 16h30”, sendo que “o ano letivo está dividido em dois semestres e cada unidade curricular desenvolve-se em 20 horas semestrais”.
“As atividades existentes são constituídas por aulas de diferentes temáticas lecionadas sob a responsabilidade de docentes da Universidade do Porto, em particular da Faculdade de Letras, na medida em que as matérias de eleição são sobretudo da área das Humanidades” e “por visitas de estudo, algumas das quais constituem parte integrante de unidades curriculares”. Além disto, existem “conferências em temáticas que procurem complementar as matérias selecionadas nas aulas” e “quando possível, programas de intercâmbio com universidades estrangeiras”. E este planeamento capta a atenção de dezenas de estudantes. No primeiro semestre deste ano letivo, o PEUS contava com aproximadamente 180 alunos.
Há “estudantes porque muito estimulados pelas aulas resolveram inscrever-se em cursos de mestrado e inclusive de doutoramento” e “outros houve que escreveram monografias em temáticas do seu agrado”, sendo que “uma dessas monografias veio mesmo a ter muito impacto”, pois “foi publicada em português e em inglês e o autor desdobrou-se em conferências”. “Além disso, os testemunhos constantes da publicação que marcou os dez anos do PEUS são bem a prova de que o Programa agrada e que se revela de importância na vida de quem o frequenta”, como relata a docente universitária, realçando que o Programa “está prestes a fazer 20 anos e ainda é frequentado por estudantes da primeira edição, o que significa que tem algum significado nas respetivas vidas”.
O PEUS integra o Plano de Ação Porto Cidade Amiga das Pessoas Idosas 2023-2025 (CMP) e está igualmente conectado a universidades seniores estrangeiras que têm protocolos com a UP/FLUP. Para a professora, os principais desafios enfrentados pelo Programa atualmente prendem-se com o “espaço na FLUP, onde se encontra sediado, em virtude do número de unidades curriculares que funcionam em cada dia da semana em que há aulas”.
“O modelo educativo segue a linha gerontagógica, ou seja, um modelo que se destina a pessoas que, para além das características próprias do ser humano, tem a particularidade de ser mais velhas. Defende ainda este modelo que haja diálogo em aula e que o questionamento face ao saber se instale. A importância da troca de experiências e de saberes implica por isso que as turmas não sejam numerosas”, refere Maria da Graça Castro Pinto, adiantando que “os alunos não pretendem ser avaliados”, na medida em que “estão no Programa para se atualizarem e, como referido, equacionarem o que sabem em função do que lhes é partilhado, em matéria de conhecimento, pelos docentes”. “Em suma: uma aprendizagem que serve discentes e docentes”, sublinha, acrescentando que “os alunos porque conhecedores das novas tecnologias não mostram interesse em frequentar aulas nessas matérias. Nisso se vê que têm outra formação académica”.
Quanto aos planos futuros para o desenvolvimento e expansão do programa, os mesmos passam por “manter a qualidade das aulas para corresponder sempre ao público que as frequentam”, “estar sempre a atualizar as matérias para que a novidade da oferta seja uma constante, sobretudo para quem pretende estar sempre connosco” e “prosseguir os intercâmbios com outras universidades, nomeadamente estrangeiras, como forma de conhecer de modo diferente paragens que, porventura, até já tenham visitado, mas de forma distinta”.
A necessidade de sair da rotina
Além da aprendizagem, o descanso também deve ser um tema relevante na chamada terceira idade. Por isso, há várias iniciativas que se prendem com o mesmo. Por exemplo, no seu site oficial, a Logitravel anuncia viagens organizadas para os idosos. Contudo, nem todos têm meios financeiros para suportar esses custos e, por estar ciente disso, a Cáritas Diocesana de Leiria decidiu implementar uma colónia de férias para idosos (à semelhança da que realiza para crianças, mas adaptada às necessidades e gostos dos mais velhos).
Esta será dinamizada pela instituição entre os dias 16 e 21 de setembro na casa na Praia do Pedrógão e é destinada a pessoas a partir dos 65 anos que não estejam institucionalizadas e ainda sejam autónomas. No site oficial da Cáritas Diocesana de Leiria pode ler-se que a colónia “será de caráter residencial e tem como principal objetivo proporcionar às pessoas idosas tempo de convívio fora do seu contexto habitual de vida através da realização de atividades de animação sociocultural, promovendo assim o envelhecimento ativo” e é isto mesmo que a presidente, Ana Mota, explica ao i.
“Estamos a preparar tudo para os idosos. Temos camaratas e quartos também. E a casa está organizada, neste momento, para os mais novos. Por isso, estamos a tratar de fazer coisas como colocar mais bancos e mesas no exterior. Isto porque sabemos que os idosos gostam muito de partilhar experiências e memórias e também de jogar às cartas. Esta experiência é personalizada”, indica a dirigente que tem formação em Serviço Social e acredita que “todas as atividades desenvolvidas, como idas à praia ou aulas de Zumba, ajudarão os idosos a terem mais autoestima, confiança, empatia, espírito de iniciativa, participação ativa e criatividade”.
“Os idosos tiveram uma vida. Têm muito para nos ensinar e devem ser valorizados. Tenho um interesse especial por esta fase da vida e acredito que não nos podemos esquecer de que os idosos estão num percurso ascendente e devem ser bem tratados”, frisa Ana Mota, informando que o valor da inscrição é apurado consoante os rendimentos da pessoa que se inscreve e inclui alojamento e refeições. Os idosos interessados nesta iniciativa podem inscrever-se até ao dia 23 de agosto para irem de férias através da Cáritas Diocesana de Leiria, através da sede da mesma ou do site oficial, e é dada prioridade aos idosos residentes em Leiria tal como a quem é mais desfavorecido financeiramente.