Os lares para idosos são o último recurso para muitos e um alívio para tantos. Mas há – como sempre houve – dois problemas principais: os preços altos e a falta de vagas. A começar pelos valores, a mensalidade média nacional cobrada pelos lares, em janeiro deste ano era de 1425 euros, um valor que representa um aumento de 6,5% face ao ano anterior.
Teresa passou por esse problema. Precisou obrigatoriamente de colocar a mãe num lar e foi a partir daí que começou uma correria. “Muitos não tinham vaga e outros tantos não atendiam os telemóveis”, conta ao i. Os preços rondavam os 1400 euros. Há mais baratos e mais caros, claro, mas tudo também depende dos serviços prestados e se o idoso é ou não autónomo ou se os quartos são individuais, duplos ou até triplos. A saga para encontrar um lar para a mãe já terminou. Teresa correu públicos e privados e conseguiu. Mas levou muitos ‘não’ e chegou a visitar até muitos sítios que diz não aconselhar.
Uma história semelhante tem Rui. A viver com ordenado mínimo e sem irmãos, não conseguiu encontrar facilmente um lar para o pai que conta com uma reforma “de pouco mais de 400 euros”, diz ao nosso jornal. Depois de muita correria por Lisboa, apenas conseguiu deixar o pai numa Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) longe da sua residência, pelo que só consegue visitar o pai aos fins de semana.
Ao i, um responsável do setor assume que os preços têm aumentado, principalmente devido à falta de mão-de-obra. “Quando estamos a falar dos aumentos por decreto de lei da mão-de-obra e depois esses aumentos não acompanham também o resto… O maior peso para um lar é, sem dúvida, a mão-de-obra”, diz lembrando que o salário mínimo nacional vai continuar a aumentar e que, nessa sequência, os lares vão também ter que continuar a aumentar as mensalidades. “O problema é que o consumidor final vai sempre acabar por pagar. E vai aumentar ainda mais”, diz lembrando ainda as exigências legais como a portaria 349 de 2023 que “veio piorar ainda mais”. Esta é uma portaria que prevê que define novas regras para as Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI), com requisitos para promover qualidade das respostas e envelhecimento ativo e ainda regras que passam a simplificar e permitir lares mais pequenos com regras especiais, até 20 pessoas.
Mas não é só a mão-de-obra. “O aumento da inflação ajudou mas a mão-de-obra é o fator mais preponderante nas ERPIS. Com a inflação então, as coisas começaram a tornar-se incomportáveis”. E continua: “Estão cada vez mais a obrigar que cumpram todos os rácios e isso vai trazer problemas tanto para a Santa Casa da Misericórdia como para todas as instituições, porque torna-se incomportável. Não podemos fazer calquitos de um país nórdico para Portugal. E há muita tendência a nível da Segurança Social de fazer quase cópias do que se passa em países nórdicos para a nossa realidade, que a todos os níveis não é igual. Temos que dar passinhos para chegar ao objetivo final. Pode ser tudo muito bom, tudo muito maravilhoso, mas quando temos reformas de 400 euros, torna-se tudo muito complicado”, lamenta.
Procura vai crescendo E se os preços aumentam, a procura não lhe fica atrás. A mesma fonte do setor lamenta: “A procura tem aumentado mas não há vagas”, lembrando que todos os dias recebe chamadas mas que não consegue dar resposta. “E quando a pessoa procura um lar ou uma ERPI procura para aquele momento. Ou seja, quando temos uma lista de espera – e não é preciso ser muito extensa, basta seis, sete pessoas – é quase meio ano de espera. E a pessoa pretende uma ERPI para um familiar querido, para aquele momento, não é para passar férias”, diz ao nosso jornal.
Questionado sobre se todas as vagas são justas, ou seja, se não estarão muitas pessoas a ‘roubar’ lugar a quem precisa realmente dele, o responsável diz não ter ainda perceção dessa situação mas admite que é algo que possa vir a acontecer num futuro próximo. “Alguém que queira a casa da pessoa, por exemplo… Acho que ainda não chegámos muito a esse ponto mas tenho receio que brevemente lá chegaremos. Tenho mesmo receio que isso vai ser um futuro muito breve. Ninguém tem meio milhão de euros para comprar uma casa em Lisboa. E o lar acaba por ser mais acessível”, diz, justificando que quem precisar de uma casa de um familiar para viver pode vir a colocá-lo num lar.
São precisos mais apoios do Estado? A mesma fonte diz que neste aspeto é preciso pensar em duas vertentes que, na sua opinião, “são fundamentais”. “O Estado apoiar de que forma? O Estado pode apoiar instituições, que são as IPSS, ou o Estado pode apoiar a família que depois vai à procura de uma solução que pode ser também privada. Levanto também a questão: Qual é a solução mais racional a nível económico? Isso seria uma boa investigação e um bom ponto de partida”. E continua: “Quando o Estado a nível particular suporta um lar privado de 1500 euros será que tem a capacidade que através de IPSS seja esse o valor ou é muito mais elevado? A forma de gestão do Estado será que é a melhor ou a nível particular será que é a melhor? Há algum estudo feito nesse sentido?”. Na opinião deste responsável faria muito mais sentido o Estado apoiar as famílias para que depois elas possam escolher o mercado que melhor entenderem para o seu familiar, seja público ou privado. “O Estado deve apoiar. Outra questão? Como é que estará a Santa Casa a nível financeiro neste momento? A Santa quer se queira quer não, em Lisboa, por exemplo, é quem suporta quase todos os lares. A Santa Casa de Lisboa substituiu muito a Segurança Social neste aspeto. E é muito mais célere”, finaliza.