Nota prévia: Como sempre quando se exibe, a França deixa marca, ainda que de forma controversa. A abertura dos jogos de Paris fica para história. Percorreu a do Hexágono e os pontos icónicos da Cidade Luz. Foi mais “Eurovisão” do que desporto. A adesão popular não foi evidente e a chuva intensa não estragou a fête. Fica nota negativa para a cedência sistemática a uma saturante e ridícula cultura woke e arco-íris. A integração e a luta de géneros não têm de ser exibicionismo. Mesmo para um agnóstico, a provocação à Igreja católica foi deplorável numa cena que reproduzia a Última Ceia em modelo “drag queen”. Não houve (e bem) nada parecido sobre islamismo, “et pour cause”. Há memória do Bataclan e do Charlie Hbedo. Seja como for, foi um espetáculo diferente das aberturas habituais. O incomensurável ego dos franceses há de ter inchado ainda mais. Vai ser difícil aturá-los durante os jogos e o tempo da olimpíada. Los Angeles tem um desafio gigantesco para 2028, quando receber o evento pela terceira vez. “So help them God”.
1. Em apenas quinze dias o cenário macro da política mundial transformou-se. Dois dos factos dominantes ocorreram nos Estados Unidos: o atentado contra Trump e a desistência de Biden. O avanço em força de Kamala gerou uma onda de adesões (até o reticente casal Obama). Há a perceção de que Trump pode não ser o vencedor antecipado. Sendo, por enquanto, a grande Nação do planeta, tudo o que acontece nos Estados Unidos mexe com a Humanidade. Enquanto os americanos se digladiam, a China impõe-se no xadrez mundial. Já não se limita a uma guerra económica e geoestratégica pelo domínio de águas limítrofes, de miseráveis nações africanas e a sua colossal e híper dependente vizinha russa. Pequim passou a ameaçar militarmente a Malásia para além de Taiwan. Xi Jinping criou um centro de poder onde traça acordos planetários, metas e linhas vermelhas entre países e zonas de conflito. A China pula e avança. Toma conta da nossa bola colorida comum, apesar dos esforços da União Europeia e de Washington. Como diria António Costa: habituem-se!
2. A perceção em política conta tanto ou mais do que a realidade. Há quase dois anos, num evento do PSD, no Algarve, Pedro Passos Coelho referiu a existência de uma perceção de insegurança. Caiu-lhe tudo em cima com dados e estatísticas a desmenti-lo. Há dias, sucedeu o mesmo com o autarca PS da freguesia de Santa Maria Maior (grosso modo a baixa histórica de Lisboa). A Polícia veio negar os factos. Por mais que certas autoridades neguem, que as estatísticas não evidenciem, que os movimentos cívicos esquerdistas repudiem, há uma realidade. E ela consiste numa tendência para o aumento de vários tipos de criminalidade ligados à droga, a negócios, à imigração, à prostituição, ao roubo, aos assaltos, à violência doméstica bárbara e às burlas informáticas, que são milhares e levam milhões. Há ainda um óbvio acréscimo do número de altercações por motivos fúteis. A perceção popular não é tão fiel como o algodão, mas raramente se engana.
3. Com a decisão do Governo de aplicar já a minúscula descida do IRS e parte do esforço financeiro resultante dos subsídios de risco para forças de segurança e militares, assim como os acordos com sucessivos setores de atividade, torna-se óbvio que Montenegro tem pouco espaço para novas benesses no próximo Orçamento do Estado (OE). Será difícil acomodar as políticas do executivo e muito mais novas exigências das oposições, nomeadamente do PS e do Chega. Um governo refém de um OE feito pelas oposições é um verbo de encher. Nalgum ponto terá de haver um equilíbrio para evitar o chumbo do OE, gerando uma crise política e um olhar financeiro mundial negativo sobre o país. O processo de discussão e aprovação do documento vai ser um jogo de bluff de imaturos. Para os portugueses será mais uma justificação para os acharem irresponsáveis. É essa perceção que em muitos pontos do mundo democrático tem justificado o voto em opções radicais.
4. Suspensa até setembro, a comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao caso das gémeas tem vindo a afastar o Presidente da República de uma responsabilidade objetiva no processo das alegadas cunhas. Os depoimentos ocorridos até agora são indicadores disso. Foi decisiva a clareza do Chefe da Casa Civil, Frutuoso de Melo, ao depor. A Maria João Ruela faltou o traquejo e a racionalidade. Uma coisa é um alto quadro do Estado experiente, outra é uma jornalista convertida em assessora de uma área política, transição que normalmente corre mal (Galamba que o diga com Frederico Pinheiro). Também chamado a depor, o ex-chefe de gabinete de António Costa, Francisco André, reforçou com segurança a ideia de que o processo nada teve de insólito na sua tramitação. A existir ilícito, a responsabilidade está no lado do filho do Presidente, dos responsáveis da saúde do Governo anterior e da máquina hospitalar. Mesmo assim, é agora ainda mais claro que as crianças são portuguesas naturais e tinham (e têm) direito a ser tratadas. O problema parece residir no facto da cunha não ter a ver com intenções humanitárias, mas com a forma de poupar milhões a uma companhia de seguros. Nada que não aconteça numa escala mais singela quando os hospitais privados despacham doentes para os públicos. Uma nota final: se pegar a moda de chamar luso-qualquer-coisa a quem tem mais do que só a nacionalidade portuguesa haverá milhões. Ridículo!
5. A propósito de perceção, é notório que não foi por acaso que o presidente promulgou os diplomas que tinha em cima da mesa e que vão já incidir sobre o IRS. Na hora exata em que Frutuoso de Melo depunha no parlamento, saiu a notícia. O foco da atualidade mudou logo. O assunto passou a ser a consequência no próximo Orçamento. Quem sabe nunca esquece. Não é por acaso que Marcelo foi o grande criador de factos políticos. Uma espécie de Tony Silva noutro ramo. Quem imediatamente perdeu protagonismo foi André Ventura. Veremos em setembro se vem com baterias recarregadas. Bem precisa.
6. Pedro Santana Lopes (PSL) produziu um artigo notável no Correio da Manhã. Dá uma ideia concreta da realidade política e arreda a perceção de que o país continua controlado pelo PS. O ex-primeiro-ministro explica mesmo que é primeira vez que os socialistas estão tão longe do poder, o qual está quase todo nas mãos do PSD. Nem no eanismo tal aconteceu. De facto, o PSD ocupa a presidência da República, detém o Governo nacional e os dos Açores e da Madeira. Tem, em AD, o maior número de deputados, o que lhe deu o lugar de presidente do Parlamento. Governa com Rui Moreira no Porto, tem a presidência em Lisboa com Carlos Moedas, além de inúmeras câmaras relevantes como Aveiro, Braga, Viseu e Faro. Perante este inédito alinhamento, PSL conclui escrevendo: “Quem diria que tal aconteceria com um presidente acusado de andar com a esquerda ao colo?”. Há evidências que não saltam à vista.
7. Exatamente um ano depois caducaram as medidas de coação impostas pelo Ministério Público (MP) a Armando Pereira e a Hernâni Vaz Antunes pelo caso Altice, a que deram o nome de operação Picoas. Não vale a pena enumerá-las. Eram as do costume nas perceções de culpabilidade do MP. Passado um ano, estamos na mesma. As criaturas estiveram presas nas suas mansões. Valeu-lhes serem milionários rodeados de luxo. Quando sucede a uma pessoa normal passa logo a indigente. Atuar para investigar não é método. Investigar, prender e apresentar provas decisivas, é. Faz, por isso, todo o sentido o próximo procurador-geral da República impor métodos diferentes e ser ouvido previamente, numa espécie de provas públicas, no parlamento. Não está previsto? Paciência! Criem uma Comissão Parlamentar de Inquérito Antes da Barrracada (CPIAB). Já vimos tantas coisas esdrúxulas que seria só mais uma.