Alimentar o sonho com medalhas

Alimentar o sonho com medalhas


A delegação portuguesa para Paris 2024 é composta por 73 atletas de 15 modalidades e 21 disciplinas. Nem todos vão para ganhar, mas há muita vontade em fazer ouvir o hino nacional em França. Não era a primeira vez.


Os objetivos do Comité Olímpico de Portugal (COP) para os jogos de Paris são claros: repetir, ou melhorar, os resultados de Tóquio 2021 – a melhor participação olímpica de sempre, com uma medalha de ouro (Pedro Pichardo), uma de prata (Patrícia Mamona) e duas de bronze (Fernando Pimenta e Jorge Fonseca). A expectativa é grande no atletismo, canoagem, natação e judo.

Os atletas nacionais vão competir em Paris, mas também em Marselha, em Châteauroux e na Polinésia francesa. O canoísta Fernando Pimenta e a atleta dos 20 km de marcha Ana Cabecinha são os porta-estandartes de Portugal na cerimónia de abertura a realizar no rio Sena. Mas há outras particularidades da missão portuguesa: é a maior representação feminina de sempre – o número de mulheres (37) é superior ao de homens (36), e mais de metade da comitiva cumpre o sonho olímpico pela primeira vez. O atleta mais novo é Gabriel Albuquerque, com 18 anos, (ginástica) e a atleta mais velha é Fu Yu, de 45 anos, (ténis de mesa). De referir que a comitiva portuguesa tem 14 atletas naturalizados.

Marco Alves, chefe da Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos Paris 2024, falou-nos do desafio que consiste esta participação. “A missão começou a ser preparada em 2019 com a viagem a Paris e os primeiros encontros com os comités olímpicos nacionais. É um processo que se prolonga por cinco anos, embora só duas semanas antes do início dos jogos é que sabemos o número de atletas que levamos”, disse o responsável COP. “Uma parte da delegação está em Paris desde o dia 12 para fazer o registo da equipa, mas antes tínhamos enviado vários contentores com o material dos atletas para montar a zona destinada ao COP, pois queremos ter um pouco da portugalidade nos jogos”, explicou Marco Alves, que tinha liderado a comitiva portuguesa aos jogos de Tóquio. Relativamente a Paris 2024, referiu que “a expectativa é muito alta. O conceito de ter as modalidades no centro de Paris é uma forma muito feliz de viver os jogos e de ter público, acho que vai ficar para a história”. No entanto, há o reverso da medalha: “Paris é uma cidade fantástica, mas difícil porque está muito cheia de tudo”. Esse facto coloca grandes desafios em termos de mobilidade e segurança, como nos explicou Marco Alves: “A segurança é um tema que está na ordem do dia. Trabalhámos com o SIS para estarmos mais atentos a comportamentos de risco e a situações críticas que possam acontecer durante os jogos”.

O esforço, dedicação e resiliência dos atletas para garantir um lugar nestes jogos deixam Marco Alves confiante. “Temos um contrato-programa elaborado em 2021 com determinados objetivos desportivos que são: quatro posições de pódio, seis classificações entre os oito primeiros, 32 posições entre os 16 melhores. É isso que esperamos que possa acontecer em Paris”, concluiu.

Pensamento dourados

O atletismo é a disciplina mais representada com 22 atletas, que vão competir no Stade de France e nas provas de estrada que passam por locais emblemáticos de Paris. De salientar que o atletismo é a modalidade com melhores resultados: 12 medalhas, sendo cinco de ouro. As aspirações de Portugal estão no campeão olímpico de triplo salto Pedro Pichardo, mas também em Tiago Pereira, igualmente no triplo salto, Liliana Cá, no lançamento do disco, Agate de Sousa, no salto em comprimento, e Isaac Nader, nos 1.500 m. “Participar nos jogos olímpicos é o maior objetivo de um atleta. A prova e o ambiente na aldeia olímpica são muito diferentes de outras competições. Trabalhei para ser campeão olímpico, e acho que consigo saltar acima do recorde do mundo”, frisou Pichardo. Liliana Cá foi medalha de bronze nos Europeus e pensa também no pódio. “Vou tentar ir à final e lutar por uma medalha. Acredito que vai dar para fazer história”, disse. Tiago Pereira conquistou a medalha de bronze nos Mundiais indoor, mas reconheceu as dificuldades, pois “vai ser a prova mais difícil na história do triplo salto. Tenho adversários muito fortes, mas se estiver ao melhor nível posso sonhar com uma medalha”. A competição de triplo salto vai ser extremamente renhida, com quatro países a lutarem pela medalha de ouro, com a particularidade de haver três cubanos a representar Portugal (Pedro Pichardo), Espanha (Jordan Diaz) e Itália (Andy Diaz), a que se junta o representante de Cuba (Lazaro Martinez). A rivalidade passou para as redes sociais com a provocação de Lazaro Martinez: “A semana de Paris para protagonizar um pódio cubano com Andy Díaz e Jordan Díaz. Pichardo fica de fora”, escreveu no Instagram. O luso-cubano sentiu a alfinetada e respondeu: “Não te esqueças de quem é o recorde nacional do teu país. Vemo-nos em Paris. Att: o Papá de todos vocês”. A resposta de Martinez foi imediata: “Tudo muito lindo e perfeito, mas não te esqueças que na vez em que nos defrontámos ganhei. Digo-te que vou ganhar em Paris e fazer o recorde do mundo”. A troca de “mimos” não incomoda Pichardo, que já afirmou que “a rivalidade ajuda sempre a melhorar”.

O breaking é a grande novidade destes jogos. “É uma dança que se vive mais de cabeça para baixo do que para cima. É mágica e tem movimentos quase impossíveis para o corpo humano”, disse a pentacampeã nacional Vanessa Marina. “A qualificação foi muito difícil e ser uma das 16 melhores do mundo é uma grande felicidade”. Questionada sobre a estreia nos jogos olímpicos, explicou: “Não vou fazer nada de muito diferente, porque este é um caminho que tem sido feito ao longo dos anos, não foi só para estes jogos. Agora, é dar o melhor”. Esse melhor tem um objetivo? “Um bom resultado é a medalha, não é? Acho que sou boa naquilo que faço, se não, não estaria aqui. Os outros também são, mas acho que toda a gente tem uma arma secreta. Eu tenho a minha, e ser um bocadinho o ‘underdog’ é uma coisa que me agrada”.

A canoagem vai ter quatro atletas de grande qualidade e a expectativa de medalha(s) é elevada. O campeão do mundo Fernando Pimenta é favorito em K1 1000, mas não promete nada – «quero ir passo a passo, sem pressão, e atingir a final. Ponho sempre a máxima responsabilidade nos momentos em que represento Portugal e espero trazer alguma coisa boa”. Caso vá ao pódio, torna-se o primeiro português a ganhar três medalhas olímpicas. A dupla João Ribeiro/Messias Baptista em K2 500 e Teresa Portela em K1 500 podem, igualmente, obter um resultado positivo.

O ciclismo conta com sete portugueses e um campeão do mundo, Iúri Leitão, que vai lutar por uma medalha nas provas de Omnium e Madison, onde vai participar com o estreante Rui Oliveira. “É uma sensação única representar o meu país. Todos os ciclistas estão na máxima forma e a competição vai ser dura. Vou tentar desfrutar ao máximo e sair do velódromo com a sensação de dever cumprido”, referiu Iúri Leitão. Na competição de estrada vão estar Rui Costa, Nelson Oliveira (seguem diretamente da Volta à França para os jogos olímpicos) e Daniela Campos com o objetivo de chegarem entre os melhores. Raquel Queiroz é a representante na competição de BTT. A modalidade equestre conta com cinco cavaleiros nas três disciplinas. É um regresso com grande significado, pois comemoram-se 100 anos da conquista da primeira medalha olímpica. Recuando no tempo, a seleção nacional de hipismo saiu de Paris 1924 com o bronze na prova de salto de obstáculos. Na ginástica, vão estar presentes dois atletas em paralelas assimétricas e na variante de trampolins.

Pancada neles!

Portugal vai ter sete judocas em competição. O antigo campeão mundial Jorge Fonseca (- 100 kg) e a atual campeã europeia Catarina Costa (- 48 kg) são as grandes apostas para subir ao pódio. Jorge Fonseca foi medalha de bronze em Tóquio e está determinado a fazer melhor, “serão os jogos da superação. Quero chegar lá e fazer os adversários dançarem um pimba, uma quizomba, dar pancada neles. É esse o espírito. Vou a Paris buscar o que é meu, vou pelo ouro”, assegurou. Muitas das esperanças portuguesas em conquistar uma medalha passam também pela natação e por Diogo Ribeiro. “É preciso muita dedicação e vontade de vencer para chegar aos jogos olímpicos”, sublinhou o campeão do mundo de 50 e 100 m mariposa, que admitiu “o desempenho nas provas do campeonato nacional foi bom e estou supermotivado para fazer melhor do que nos Mundiais de Doha. “Estou muito confortável nos 100 m mariposa”. Vamos ter igualmente atletas a competir na prova de 10 km em águas abertas.

O skate vai contar dois portugueses, com potencial para terminar no pódio. Gustavo Ribeiro assumiu que quer ganhar uma medalha “A preparação para Paris foi longa. Todos os campeonatos em que participei serviram de treino e preparam-me para o que está para vir. Estou bastante confiante e mal posso esperar por começar a competir. Sinto que evolui bastante e que sou consistente”, reconheceu. Com um espírito sempre muito positivo, disse: “Vou levar bastantes skates e roupa e continuar a estudar o skatepark. Já sei quais as manobras que vou executar, tenho um plano traçado e vamos ver o que vai sair. Podem pôr o meu nome nos candidatos à medalha», fez questão de afirmar o skater, 8.º classificado em Tóquio na competição street, que confidenciou. “Disse à minha família que se eu ganhar uma medalha vou levá-los a conhecer a minha casa nos Estados Unidos».

Jogos com prancha

Duas surfistas portuguesas vão competir nos espetaculares, mas perigosos, tubos de Teahupo’o, na Polinésia francesa. Yolanda Hopkins foi 5.º classificada em Tóquio, mas quer mais: “Adoro essa onda, é incrível. É mesmo o meu tipo de onda. Vou participar com a medalha de ouro na cabeça, e não quero mais nada que não seja o ouro. É para isso que vou lá. Em Tóquio, já tinha esse sonho”, frisou a surfista que vai usar capacete, seguindo a recomendação da Associação Internacional de Surf. “Vou usar e acho que a maioria também. É um extra, mas também permite tirar aquela parte da equação em que pode correr alguma coisa muito mal”.

No famoso recinto de Roland Garros vão estar os tenistas Nuno Borges e Francisco Cabral. “Cresci a ver os jogos olímpicos, mas nunca pensei em participar no maior evento desportivo do mundo. Tenho estado a jogar bem, estou no melhor momento de forma, e ambiciono chegar longe”, frisou Nuno Borges, que derrotou Rafael Nadal na final do Open de Bastad, na Suécia, e conquistou o seu primeiro título ATP, ocupando agora o 42.º do ranking mundial. Para Francisco Cabral, “participar nos jogos olímpicos é um orgulho enorme. Em relação aos outros torneios, há uma grande diferença que é estar a representar o meu país. Sei que é difícil, mas espero conquistar uma medalha”. O ténis de mesa está representado por cinco jogadores e pode conseguir bons resultados. O tiro com armas de caça conta uma atiradora. No triatlo (atletismo, natação e ciclismo) vão estar quatro atletas para disputar a prova individual e a estafeta mista. Vasco Vilaça concretizou o sonho olímpico: “Fazer parte do maior palco desportivo do mundo é muito especial e estou confiante». As competições de vela realizam-se em Marselha e Portugal vai ter quatro velejadores.