Tempos difíceis


O melhor que se pode prever para a Ucrânia e a Paz na Europa é o congelamento da guerra invasora do tirano de Moscovo.


1. A Leste nada de verdadeiramente novo, de facto. A Cimeira de Paz sobre a Ucrânia deixou quase tudo na mesma, pelo menos na aparência. Zelensky reafirmou os seus pontos de vista, perante cerca de 90 países e instituições mundiais. Ausente, Putin ameaçou ser ainda mais duro no futuro e apresentou uma proposta inaceitável uns dias antes. Subtilmente, no entanto, resultou da conferência a ideia fluida de que pode mais adiante haver uma cobertura defensiva mais efetiva da Ucrânia, sem que tal implique uma adesão à NATO. Daí adviria uma garantia mínima de um congelamento do conflito com manutenção das posições atuais, podendo Kiev contar com um apoio militar efetivo no terreno, se a Rússia retomasse a ofensiva. Moscovo e Kiev caminham para uma solução de congelamento, com prejuízo para a Ucrânia por via da cedência informal de território para alívio de muitos. Mesmo que aceite essa humilhação, o regime ucraniano passará a ter de usar internamente regras democráticas plenas para continuar a ter o apoio do mundo livre. Isto, enquanto a ditadura russa permanecerá imutável, podendo, portanto, manipular a informação e arranjar políticos fantoches como faz na Bielorrússia com Lukashenko. Desde que a política interna ucraniana seja salvaguardada desse tipo de infiltrações, tudo é melhor do que uma escalada para um patamar nuclear desastroso para a humanidade. Certo é que enquanto houver Putin e os seus esbirros, nunca haverá uma paz consolidada na Ucrânia nem nos espaços da antiga URSS que não aderirem. O que falhou na Ucrânia foi a oportunidade de aderir a essa organização defensiva, a única força capaz de, numa situação limite, defender a democracia.

2. Tem-se falado pouco sobre quem será o próximo comissário europeu português. Cabe a Luís Montenegro a indicação. Deve ser alguém com experiência, respeitado e capaz para o pelouro que lhe for entregue, o qual é sempre negociado. O tempo regenera muito a imagem dos políticos e dá-lhes margem de maior aceitação e credibilidade. Mesmo quem nem sempre apreciou as suas opções governativas, tem de reconhecer que Passos Coelho seria um nome forte. Tal como o de António Costa para o Conselho Europeu. Ainda por cima, se emigrassem em simultâneo, abriam campo a quem tenha a ambição de se instalar em Belém. Dois coelhos com uma cajadada.

3. A propósito de candidaturas a Belém, mesmo sabendo que estamos muito longe temporalmente, há que considerar que elas têm tido sempre uma importância extrema em Portugal, dadas as vezes em que os titulares do cargo tiveram de intervir decisivamente. É mesmo provável que, no futuro, o papel presidencial assuma ainda mais relevância, uma vez que o eleitorado tende a fracionar-se em subgrupos de direita e de esquerda. Apesar disso, há dois grandes partidos que valem cerca de 60% do eleitorado, o PS e o PSD. Globalmente, o centro direita e a direita radical valem cerca de 50% (PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal), ficando a esquerda moderada e a extrema esquerda pelos 45%. No entanto, essas contas não são decisivas em presidenciais. Nelas contará, sobretudo, o prestígio pessoal, político e a popularidade construída nos media, sendo esta última faceta essencial. Viu-se ainda agora com Marta Temido. Politicamente, foi uma nulidade na campanha, mas beneficiou ao retardador por ter sido muito projetada na pandemia. Na corrida a Belém de 2026, ninguém pode ter ambições se não estiver num alto patamar de popularidade. Até à eleição de Marcelo, os portugueses tinham da Presidência a ideia de um poder supremo e distanciado, embora os seus titulares fossem todos muito populares. O atual presidente dessacralizou essa imagem. Mas começa-se a sentir, na população, nos jornalistas e no comentariado, a nostalgia de uma presidência mais majestática, tipo Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco, o que limita o número de candidaturas potencialmente vencedoras, sem que haja lugar para desconhecidos e recém-chegados. O próximo Chefe do Estado é alguém que todos os portugueses conhecem. Resta saber quem.

4. O Juntos Pelo Povo vai chumbar o programa do governo da Madeira, juntando-se ao Chega e ao PS. Significa que o executivo regional fica em gestão até haver uma alternativa (o que é mais do que improvável) ou novas eleições, que só poderão ocorrer lá para janeiro. É certo que Miguel Albuquerque se voltará a apresentar, podendo ganhar uma vez mais. A questão será sempre saber se alguém consegue uma maioria que aprove um programa de governo, o que na Madeira é obrigatório. Albuquerque vai vender cara uma derrota, tanto no seu partido como nas urnas. O JPP fez uma jogada de risco. Ao PS local a situação convém-lhe. Há que lembrar que Albuquerque é arguido num caso de alegada corrupção e que muitos dos desenvolvimentos futuros estão nas mãos da justiça, como sucede vezes demais na nossa política doméstica.

5. Desde ontem, os canais de cabo de televisão contam com mais um dedicado à informação. Trata-se do News Now, que integra o grupo Correio da Manhã. É mais uma oferta para a efervescente bolha político-mediática do cabo, cujo público alvo pouco passa dos 50 mil telespetadores, disputados pela SIC Notícias, CNN, RTP3 e CMTV. Veremos se a aposta vence. O projeto não mimetiza os existentes, na medida em que vai procurar destacar os seus colaboradores como comentadores, contando que constituam notícia os temas que abordam e as suas opiniões. Há uma tentativa de inovar, num espaço muito residual. Este canal é mais uma plataforma para se fazer política, afastando-a do seu espaço natural e transformando-a em marketing.

6. A estreia do canal acontece num momento em que os media atravessam uma crise profunda em todo o mundo. Em Portugal, a situação é mesmo desesperada para algumas marcas e projetos. Aparentemente, o governo, ao contrário do anterior, percebeu que só uma intervenção global em todo o setor da informação mediada (o jornalismo), pensada de forma racional e equilibrada pode evitar uma hecatombe, a proliferação de redes sociais manipuladoras e o crescimento constante dos grandes agregadores de conteúdos, sugadores da publicidade disponível. Parece haver agora a noção de que limitar uma intervenção aos órgãos estatais, ao porte pago e às coisas do costume nada resolverá. De facto, mexidas avulso nada resolveriam nesta fase. Poderiam mesmo ter um efeito perverso num setor que é relevante para a democracia. É normalmente pela informação que se conhecem situações graves e violentas ocorridas no país, que vão da saúde à corrupção, passando pela criminalidade e casos de miséria extrema, entre outras.

7. Na verdade, 25 de Novembro não tem de ser feriado nacional, como o Chega pretendia. Mesmo assim, pelos votos da AD, Chega e IL a data passa a ser celebrada com uma sessão solene do Parlamento. É o equilíbrio certo para um momento que pôs termo à loucura do PREC. No processo decisório, o PS votou contra o feriado, mas também contra a comemoração. Ficou-lhe mal. O PS de hoje parece mais o de Manuel Serra do que o de Mário Soares. É pena porque é o de Soares, Guterres e Seguro que faz falta ao país.

8. Prisão perpétua, pois claro! Um criminoso condenado a uma pena pesada por ter assassinado por ciúmes uma namorada com 23 facadas beneficiou de uma liberdade condicional, ao fim de uns anos. Uma vez cá fora, envolveu-se com outra jovem que, a certa altura, tentou afastar-se. O assassino reincidiu de forma tanto ou mais violenta. Atropelou-a várias vezes para ter a certeza de que a matava, passando-lhe com as rodas por cima da cabeça. Mais uma vez, as repetidas queixas da vítima não tiveram efeito junto das autoridades policiais e judiciais. O nosso deplorável Ministério Público só tardiamente decidiu que a vítima tinha direito a um botão de pânico. Estava pronto para entrega no dia em que foi barbaramente assassinada. Em Portugal, não há pena de morte (e bem). Também não há prisão perpétua, mas deveria haver. Dentro de uns anos, a besta pode ser solta e voltar a matar. Não se pode correr esse risco. A prisão perpétua efetiva e dura faz todo o sentido para proteger potenciais vítimas, como a Jovem Daniela Padrinho, cujo corpo vai ser transportado para os Estado Unidos, onde vive a família. Nalguns estados daquele país o seu assassino estaria preso e ela viva.

Tempos difíceis


O melhor que se pode prever para a Ucrânia e a Paz na Europa é o congelamento da guerra invasora do tirano de Moscovo.


1. A Leste nada de verdadeiramente novo, de facto. A Cimeira de Paz sobre a Ucrânia deixou quase tudo na mesma, pelo menos na aparência. Zelensky reafirmou os seus pontos de vista, perante cerca de 90 países e instituições mundiais. Ausente, Putin ameaçou ser ainda mais duro no futuro e apresentou uma proposta inaceitável uns dias antes. Subtilmente, no entanto, resultou da conferência a ideia fluida de que pode mais adiante haver uma cobertura defensiva mais efetiva da Ucrânia, sem que tal implique uma adesão à NATO. Daí adviria uma garantia mínima de um congelamento do conflito com manutenção das posições atuais, podendo Kiev contar com um apoio militar efetivo no terreno, se a Rússia retomasse a ofensiva. Moscovo e Kiev caminham para uma solução de congelamento, com prejuízo para a Ucrânia por via da cedência informal de território para alívio de muitos. Mesmo que aceite essa humilhação, o regime ucraniano passará a ter de usar internamente regras democráticas plenas para continuar a ter o apoio do mundo livre. Isto, enquanto a ditadura russa permanecerá imutável, podendo, portanto, manipular a informação e arranjar políticos fantoches como faz na Bielorrússia com Lukashenko. Desde que a política interna ucraniana seja salvaguardada desse tipo de infiltrações, tudo é melhor do que uma escalada para um patamar nuclear desastroso para a humanidade. Certo é que enquanto houver Putin e os seus esbirros, nunca haverá uma paz consolidada na Ucrânia nem nos espaços da antiga URSS que não aderirem. O que falhou na Ucrânia foi a oportunidade de aderir a essa organização defensiva, a única força capaz de, numa situação limite, defender a democracia.

2. Tem-se falado pouco sobre quem será o próximo comissário europeu português. Cabe a Luís Montenegro a indicação. Deve ser alguém com experiência, respeitado e capaz para o pelouro que lhe for entregue, o qual é sempre negociado. O tempo regenera muito a imagem dos políticos e dá-lhes margem de maior aceitação e credibilidade. Mesmo quem nem sempre apreciou as suas opções governativas, tem de reconhecer que Passos Coelho seria um nome forte. Tal como o de António Costa para o Conselho Europeu. Ainda por cima, se emigrassem em simultâneo, abriam campo a quem tenha a ambição de se instalar em Belém. Dois coelhos com uma cajadada.

3. A propósito de candidaturas a Belém, mesmo sabendo que estamos muito longe temporalmente, há que considerar que elas têm tido sempre uma importância extrema em Portugal, dadas as vezes em que os titulares do cargo tiveram de intervir decisivamente. É mesmo provável que, no futuro, o papel presidencial assuma ainda mais relevância, uma vez que o eleitorado tende a fracionar-se em subgrupos de direita e de esquerda. Apesar disso, há dois grandes partidos que valem cerca de 60% do eleitorado, o PS e o PSD. Globalmente, o centro direita e a direita radical valem cerca de 50% (PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal), ficando a esquerda moderada e a extrema esquerda pelos 45%. No entanto, essas contas não são decisivas em presidenciais. Nelas contará, sobretudo, o prestígio pessoal, político e a popularidade construída nos media, sendo esta última faceta essencial. Viu-se ainda agora com Marta Temido. Politicamente, foi uma nulidade na campanha, mas beneficiou ao retardador por ter sido muito projetada na pandemia. Na corrida a Belém de 2026, ninguém pode ter ambições se não estiver num alto patamar de popularidade. Até à eleição de Marcelo, os portugueses tinham da Presidência a ideia de um poder supremo e distanciado, embora os seus titulares fossem todos muito populares. O atual presidente dessacralizou essa imagem. Mas começa-se a sentir, na população, nos jornalistas e no comentariado, a nostalgia de uma presidência mais majestática, tipo Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco, o que limita o número de candidaturas potencialmente vencedoras, sem que haja lugar para desconhecidos e recém-chegados. O próximo Chefe do Estado é alguém que todos os portugueses conhecem. Resta saber quem.

4. O Juntos Pelo Povo vai chumbar o programa do governo da Madeira, juntando-se ao Chega e ao PS. Significa que o executivo regional fica em gestão até haver uma alternativa (o que é mais do que improvável) ou novas eleições, que só poderão ocorrer lá para janeiro. É certo que Miguel Albuquerque se voltará a apresentar, podendo ganhar uma vez mais. A questão será sempre saber se alguém consegue uma maioria que aprove um programa de governo, o que na Madeira é obrigatório. Albuquerque vai vender cara uma derrota, tanto no seu partido como nas urnas. O JPP fez uma jogada de risco. Ao PS local a situação convém-lhe. Há que lembrar que Albuquerque é arguido num caso de alegada corrupção e que muitos dos desenvolvimentos futuros estão nas mãos da justiça, como sucede vezes demais na nossa política doméstica.

5. Desde ontem, os canais de cabo de televisão contam com mais um dedicado à informação. Trata-se do News Now, que integra o grupo Correio da Manhã. É mais uma oferta para a efervescente bolha político-mediática do cabo, cujo público alvo pouco passa dos 50 mil telespetadores, disputados pela SIC Notícias, CNN, RTP3 e CMTV. Veremos se a aposta vence. O projeto não mimetiza os existentes, na medida em que vai procurar destacar os seus colaboradores como comentadores, contando que constituam notícia os temas que abordam e as suas opiniões. Há uma tentativa de inovar, num espaço muito residual. Este canal é mais uma plataforma para se fazer política, afastando-a do seu espaço natural e transformando-a em marketing.

6. A estreia do canal acontece num momento em que os media atravessam uma crise profunda em todo o mundo. Em Portugal, a situação é mesmo desesperada para algumas marcas e projetos. Aparentemente, o governo, ao contrário do anterior, percebeu que só uma intervenção global em todo o setor da informação mediada (o jornalismo), pensada de forma racional e equilibrada pode evitar uma hecatombe, a proliferação de redes sociais manipuladoras e o crescimento constante dos grandes agregadores de conteúdos, sugadores da publicidade disponível. Parece haver agora a noção de que limitar uma intervenção aos órgãos estatais, ao porte pago e às coisas do costume nada resolverá. De facto, mexidas avulso nada resolveriam nesta fase. Poderiam mesmo ter um efeito perverso num setor que é relevante para a democracia. É normalmente pela informação que se conhecem situações graves e violentas ocorridas no país, que vão da saúde à corrupção, passando pela criminalidade e casos de miséria extrema, entre outras.

7. Na verdade, 25 de Novembro não tem de ser feriado nacional, como o Chega pretendia. Mesmo assim, pelos votos da AD, Chega e IL a data passa a ser celebrada com uma sessão solene do Parlamento. É o equilíbrio certo para um momento que pôs termo à loucura do PREC. No processo decisório, o PS votou contra o feriado, mas também contra a comemoração. Ficou-lhe mal. O PS de hoje parece mais o de Manuel Serra do que o de Mário Soares. É pena porque é o de Soares, Guterres e Seguro que faz falta ao país.

8. Prisão perpétua, pois claro! Um criminoso condenado a uma pena pesada por ter assassinado por ciúmes uma namorada com 23 facadas beneficiou de uma liberdade condicional, ao fim de uns anos. Uma vez cá fora, envolveu-se com outra jovem que, a certa altura, tentou afastar-se. O assassino reincidiu de forma tanto ou mais violenta. Atropelou-a várias vezes para ter a certeza de que a matava, passando-lhe com as rodas por cima da cabeça. Mais uma vez, as repetidas queixas da vítima não tiveram efeito junto das autoridades policiais e judiciais. O nosso deplorável Ministério Público só tardiamente decidiu que a vítima tinha direito a um botão de pânico. Estava pronto para entrega no dia em que foi barbaramente assassinada. Em Portugal, não há pena de morte (e bem). Também não há prisão perpétua, mas deveria haver. Dentro de uns anos, a besta pode ser solta e voltar a matar. Não se pode correr esse risco. A prisão perpétua efetiva e dura faz todo o sentido para proteger potenciais vítimas, como a Jovem Daniela Padrinho, cujo corpo vai ser transportado para os Estado Unidos, onde vive a família. Nalguns estados daquele país o seu assassino estaria preso e ela viva.