Dietas. “Acaba por existir ao nível social um ideal de beleza e de corpo”

Dietas. “Acaba por existir ao nível social um ideal de beleza e de corpo”


A psicóloga Sofia Marques Ramalho reconhece que a procura do corpo ideal causa muitas vezes pressão que pode levar a graves problemas de saúde. Já o nutricionista Alexandre Fernandes diz que parte emocional contribui, muitas vezes, para o excesso de peso, com as pessoas a refugiarem-se na alimentação


A pressão para ter um determinado tipo de corpo sempre existiu, mas poderá ter-se intensificado mais nos últimos anos com as redes sociais. E se até aqui esta tendência era mais seguida pelas mulheres, agora é também comum aos homens, garante ao i a psicóloga Sofia Marques Ramalho. “Hoje hoje em dia, com as redes sociais, há facilidade de acesso a um conjunto de imagens de celebridades que por terem uma determinada imagem também acabam por a promover e de alguma forma acaba por existir um ideal de beleza e de corpo ao nível social que é partilhado pela maior parte das pessoas, tanto para as mulheres como para os homens, nem que seja para ter um corpo mais musculado”, salienta. 

E acena com várias teorias sobre as questões de comportamento alimentar que mostram que a promoção de uma determinada imagem e da magreza, no fundo, não é de um corpo saudável, mas sim de um corpo muito magro, o que acaba por causar esta pressão que é quase social e cultural para atingir determinado corpo, em que as pessoas muitas vezes acreditam que a forma de o conseguir é através da dieta e de deixar de comer”.

Já em relação à corrida às dietas, principalmente nesta atura do ano, admite que fazer restrições nem sempre é a melhor forma de atingir resultados a longo prazo, nem de os atingir de forma saudável. “O que vamos assistindo ,e vejo isso no trabalho que desenvolvo com adolescentes, é um aumento muito significativo de casos de perturbações de comportamento alimentar, como a anorexia e a bulimia porque as pessoas acreditam que deixando de comer controlam o seu corpo”.

Sofia Marques Ramalho admite, no entanto, quem nem sempre o papel das redes sociais e, até mesmo dos influencers é negativa, recordando que até aí essa função cabia às revistas e a filmes, mas não tinha o mesmo impacto. “Posso ter uma revista, posso comprá-la, mas não estou continuadamente a ser bombardeada com aquela informação, enquanto que nas redes sociais, de alguma forma, há uma maior propensão para estar continuadamente a ser bombardeada com determinados anúncios, muitas vezes, com determinados tipos de corpo ou de promoções de dieta”.

E acrescenta: “As redes sociais também vieram trazer alguns movimentos que são importantes no sentido de promoção de uma imagem corporal positiva, isto é, de que temos diversos tipos de corpo, em que nem todas as pessoas têm de ter a mesma forma, ou o mesmo corpo, já que nas redes sociais existe a possibilidade de cada pessoa escolher e selecionar quem é que quer seguir, que tipo de conteúdos é que quer ver e existem influencers que têm como objetivo alertar para o facto de como é que as modelos tiram determinadas fotografias para favorecer o corpo, para a existência de celulite, etc. e isso é bom”. 

Problemas psicológicos 

A psicóloga reconhece ainda que há dietas que depois podem trazer verdadeiros problemas psicológicos, mas lembra que tudo depende da forma como for feita: “Se for acompanhada por um profissional da nutrição e se, por isso, o objetivo foi alcançado e, a partir daí, se mantiver o peso controlado tudo ok, o problema é quando algumas pessoas vêm-se com o peso que imaginavam, mas ficam ainda mais preocupadas e acabam por começar a fazer tudo para manter aquele peso e de alguma forma começam a exibir alguns comportamentos que, do ponto de vista psicológico, chamamos psicobiologia do comportamento alimentar. Ou seja, começar a ter comportamentos como estar continuadamente preocupadas com o seu peso ou com a sua forma ou mesmo tendo ou a forma ou corpo que imaginavam demonstrarem ainda insatisfação com o seu corpo e com a sua imagem constante insatisfação com o seu corpo e com a sua imagem ou ter um medo muito grande de engordar e, por isso continuam muito obcecadas em seguir determinadas regras. E quando isto acontece do ponto de vista psicológico é problemático”. 

Também sinal de alerta, de acordo com Sofia Marques Ramalho, é as pessoas não se querem imaginar com outros números de roupa, além daqueles a que estavam habituadas. “Nestes casos, há uma a ideia de que o meu valor como pessoa depende do número que está na balança. E para algumas pessoas o facto de se verem num 38, por exemplo, significa que elas falharam como pessoa”, apesar de reconhecer que essa situação nem sempre significa que precisa de ajuda psicológica.

Parte emocional também conta

Para o nutricionista Alexandre Fernandes, a parte emocional contribui, muitas vezes, para o excesso de peso, em que as pessoas depois refugiam-se na alimentação. “Desde 2016 que a minha filosofia na área da nutrição é muito nesta vertente emocional. Portanto, as pessoas cada vez mais me procuram sabem que estão com excesso de peso devido à parte emocional ou porque é um trauma de infância, ou porque há mais stresse no trabalho e então procuram, além da dieta, algum recurso motivacional relativamente à parte da consulta. Já não é aquela ideia de procura do ‘tenho mais cinco quilos e quero perdê-los até ao verão’”, refere ao i. 

O responsável diz ainda que têm aparecido no seu consultório algumas mulheres que foram alvo de uma tentativa de violação ou foram mesmo violadas que, sendo situações traumáticas, também representam casos de insucesso, em termos de dietas. “Já cumpriram ao longo da vida vários tipos de dietas em que conseguiram perder, mas também rapidamente ganhavam o peso. Essas mulheres quando vêm ou ouvem notícias de que houve uma tentativa de violação, o seu mindset vai buscar o seu passado. Então o que é que acontece? Destabiliza a parte emocional e voltam a comer mais para ficarem com excesso de peso porque se tiverem mais peso não ficam atraentes, logo não correm o risco de uma violação ou de uma tentativa de”… fraude. 

Ainda assim reconhece que, por norma, as pessoas começam-se a preocupar mais com as dietas, na altura da Páscoa que é vista como o “final” do inverno e a preparação para o verão.