Poluição do ar está associada ao aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer

Poluição do ar está associada ao aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer


Um novo estudo de uma universidade norte-americana permitiu perceber que adultos expostos a altos níveis de poluição do ar correm um risco aumentado de desenvolver a doença de Alzheimer.


Um novo estudo da Emory University, em Atlanta, no estado norte-americano da Georgia, permitiu descobrir que adultos expostos a altos níveis de poluição do ar correm um risco aumentado de desenvolver a doença de Alzheimer. Num estudo com 1.113 participantes com idades compreendidas entre os 45 e 75 anos, do Emory Healthy Brain Study, todos da área metropolitana de Atlanta, os investigadores encontraram biomarcadores positivos da doença de Alzheimer – especificamente placas amilóides – no líquido cefalorraquidiano de participantes que foram expostos à poluição atmosférica ambiental. Este estudo, publicado na Environmental Health Perspectives, foi o maior do género e acrescenta ao crescente conjunto de evidências – incluindo outros estudos recentes da Emory University – informação que sugere que a poluição do ar contribui diretamente para a degeneração do cérebro.

"Juntos, os nossos estudos recentes representam os dois extremos do espectro. No nosso estudo anterior, mostrámos associações entre a exposição residencial à poluição do ar e as alterações cerebrais relacionadas com a Alzheimer em autópsias e agora encontrámos resultados semelhantes num estudo com pessoas vivas. Isto é importante porque mostra que a poluição atmosférica residencial pode afetar negativamente o nosso cérebro, mesmo décadas antes de realmente desenvolvermos a doença de Alzheimer. Aponta para um período de tempo sensível tanto para a exposição como para a oportunidade, porque é o momento em que as estratégias e intervenções de prevenção são mais eficazes", diz Anke Huels, autora principal do estudo e professora assistente do Departamento de Epidemiologia da Escola Rollins de Saúde Pública de Emory, em comunicado. "Sabemos que a poluição do ar é geralmente prejudicial à saúde humana, incluindo a saúde do cérebro. Ao mostrar uma relação com os níveis da proteína amilóide no líquido cefalorraquidiano, este estudo sugere que a poluição do ar pode aumentar o risco de desenvolver a doença de Alzheimer. O que importa é que, ao limparmos o nosso ambiente, também poderemos ajudar a reduzir o fardo da doença de Alzheimer", afirma James Lah, investigador principal do Emory Healthy Brain Study e professor associado do Departamento de Neurologia na Escola de Medicina de Emory, também em comunicado.

Efetivamente, em fevereiro, o estudo publicado na revista Neurology sugeria que há uma ligação entre a exposição à poluição do ar e o desenvolvimento de sinais da doença de Alzheimer no cérebro humano. Os investigadores descobriram que pessoas expostas a níveis mais elevados de poluição atmosférica por partículas finas, conhecidas como PM2,5, tinham uma maior probabilidade de ter placas anormais de proteínas no tecido cerebral, um marcador da doença de Alzheimer. Essa associação foi observada mesmo em pessoas sem predisposição genética para a doença. Embora o estudo não prove uma relação causal direta, sugere que fatores ambientais, como a poluição do ar, podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da doença. Neste estudo anterior, os investigadores analisaram os tecidos cerebrais de 224 dadores que viviam na região metropolitana de Atlanta e que concordaram em doar os seus cérebros para pesquisa após a morte.

Assim, os investigadores perceberam que os dadores que residiam em áreas com altos níveis de poluição do ar relacionada com o tráfego apresentavam mais placas associadas à doença de Alzheimer em comparação com aqueles que viviam em áreas com menor poluição do ar. Tal sugere que a exposição a altos níveis de poluição aumenta o risco de desenvolver este tipo de demência. Mesmo entre os dadores que não tinham predisposição genética para a patologia, a associação entre a poluição do ar relacionada com o tráfego e os sinais da doença de Alzheimer foi mais forte. A exposição a concentrações elevadas de PM2,5 é conhecida por desencadear problemas respiratórios de curto prazo, pois essas partículas, devido ao seu tamanho extremamente pequeno, podem penetrar na corrente sanguínea após serem inaladas. Além disso, a inalação de fumo pode causar irritação na face, garganta e olhos, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Em casos mais graves, a exposição à poluição do ar está associada a impactos cardiovasculares, como ataques cardíacos, bem como ao desenvolvimento de cancro do pulmão e prejuízos nas funções cognitivas.

A Organização Mundial da Saúde estima que atualmente haja cerca de 47,5 milhões de pessoas em todo o mundo a sofrer de demência, um número que poderá aumentar para 75,6 milhões até 2030 e quase triplicar para 135,5 milhões até 2050. Em relação a Portugal, embora não haja um estudo epidemiológico específico sobre a situação da demência, dados da Alzheimer Europe sugerem que o número de pessoas afetadas seja superior a 193 mil. De acordo com o Relatório Health at a Glance 2017 da OCDE, Portugal está classificado como o quarto país com mais casos de demência por cada mil habitantes. Enquanto a média da OCDE é de 14,8 casos por mil habitantes, em Portugal a estimativa é de 19,9 casos por mil habitantes.