JMJ. A semana que abanou a Igreja

JMJ. A semana que abanou a Igreja


Maior envolvimento na Igreja, entradas nos seminários, maior consciência universal e conversão. Quatro meses depois, há saldos que já se conseguem fazer da JMJ e sementes lançadas ainda sem fruto. Os lucros serão conhecidos no início do ano.


A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi um dos acontecimentos que marcaram o ano de 2023 e deu o mote para a transformação da Igreja portuguesa. Com a presença do Papa Francisco e a participação de cerca de 1,5 milhões de jovens católicos de todo o mundo, a primeira semana de agosto foi culminar de uma preparação exaustiva que envolveu milhares de pessoas, paróquias, organizações, autarquias, entidades governamentais e instituições de todo o país. Portugal parou e a surpresa do seu impacto não deixou ninguém indiferente. “Passados mais de quatro meses, creio que duas das melhores palavras para definir o que aconteceu na JMJ são a surpresa e o espanto», afirmou ao jornal i o Padre Nuno Amador, diretor da pastoral universitária e vice-reitor do Seminário do Olivais, que acompanhou a área da pastoral e dos eventos centrais da JMJ. “A JMJ foi muita coisa, pelos números, pelo desafio pastoral e a complexidade logística de acolher tanta gente e de tantos lugares do mundo, mas a sua realização, superou em muito o que para ela tínhamos sonhado e tentado executar”, garante. 

 As mensagens do Papa Francisco, os vários eventos, a multidão pacífica, a relação com todas entidades envolvidas, o acolhimento aos que vieram de todo o mundo e a experiência de uma Igreja universal, foram os marcos que ficaram. “A JMJ é um evento único, mas não se pode resumir a um único evento. A preparação da JMJ foi um caminho feito a muitas vozes e a muitas mãos, com o envolvimento de todas as Dioceses de Portugal, das autoridades civis, das forças de segurança, de muitas famílias, voluntários, de todos os peregrinos, etc.”, lembra o padre Nuno.

E o que ficou? Quatro meses depois, quais os frutos que a JMJ deram? Segundo o padre Duarte da Cunha, pároco de Santa Joana Princesa, que pertenceu ao Comité Organizador Local da JMJ, “As jornadas deixaram, a todos os níveis, uma consciência de que a fé”. Ou seja, a consciência de que “a relação com Jesus Cristo está viva”. Em segundo lugar, um desafio: “Aquilo que vimos e vivemos, a alegria, a ordem associada tantas vezes ao desconforto, um enorme desejo de conhecer a Jesus Cristo e de viver bem, um desejo de vida autêntica e, diria mesmo, de vida santa. Percebemos, por isso, uma espécie de convocação à missão. Não se pode ficar parado”. No seu entender, a Igreja portuguesa “precisava mesmo de um impacto como este, para conhecer o que vai acontecendo na Igreja de todo o mundo, para se dar conta da alegria que é viver a fé a sério, sem se sentir pesada, em crise ou triste”.

 Em termos de envolvimento de pessoas e crescimento das vocações, o vice-reitor do seminário dos Olivais diz que “ainda é cedo” para se fazer esse balanço. No entanto, garante “que são já visíveis alguns sinais: há algumas pessoas que participaram na preparação da JMJ e agora estão mais envolvidas na Igreja e mais comprometidas do que antes. Há algumas pessoas que decidiram a sua entrada no Seminário e na vida consagrada já depois da experiência da JMJ concluindo processos que tinham iniciado já antes. Nota-se um desejo dos mais jovens em dar continuidade ao que viveram em projetos juvenis e universitários, etc.”. O padre Duarte da Cunha, está convicto de que as sementes não vão dar frutos para já, “mas que estão a germinar e que, estou certo, darão a seu tempo frutos”. E assegura que “podemos já ir vendo, se não em todos os lugares, pelo menos em alguns, que há gente desejosa de fazer mais coisas em conjunto, há talentos que estavam escondidos e que agora foram postos ao serviço e que devem ir sendo chamados, convidados a servir os outros”. Outra das transformações foi, no seu entender, os ganhos obtidos com a colaboração entre a Igreja e a sociedade, as empresas, o Estado, as autarquias, onde tudo correu de forma dinâmica e eficaz.

Mas há perigos que devem ser acautelados. “O maior deles será a preguiça, ou o cinismo que acontece em quem acha que não vale a pena. Ora se há coisa que a JMJ mostrou é que há cansaços que valem a pena! Depende do sentido que cada um reconhece no que é preciso fazer e requer que não se façam as coisas sozinhos ou apenas com o seu grupinho”, adverte o pároco de Santa Joana Princesa.

O entendimento do padre Nuno Amador vai no mesmo sentido: “Não podemos deixar que a JMJ fique como uma lembrança bonita do passado, mas precisamos de lhe dar continuidade também em termos espirituais. A possibilidade de se voltar, hoje, à memória do que se viveu e fazer uma releitura espiritual da JMJ creio que trará ainda novos frutos de compromisso, envolvimento e decisões de vida que o tempo ainda precisa de fazer amadurecer. Tenho muita esperança de que isso aconteça”. 

Quanto aos números, falta 10% para concluir o processo de pagamento das contas da Fundação JMJ, o organismo criado pelo Patriarcado de Lisboa para a organização do evento. Os gastos vão em 34 milhões de euros, ainda a crescer, mas já é certo que o evento gerou um lucro significativo. As contas finais serão apresentadas no iníquo do ano depois de concluídas as auditorias necessárias.  Do lucro gerado Igreja não vai ficar com nenhuma parte estando já estabelecido que este irá ser entregue e aplicado em projetos dedicados aos jovens.