Conferência Episcopal exige “bom senso” aos protagonistas políticos perante crise e “dramas” sociais

Conferência Episcopal exige “bom senso” aos protagonistas políticos perante crise e “dramas” sociais


José Ornelas sublinhou que estes são tempos “para discutir os verdadeiros problemas do país e afinar políticas”, fazendo ainda um apelo à participação nas eleições legislativas marcadas para 10 de março do próximo ano.


O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, alertou que, em tempos de guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, não podem ser esquecidos "os dramas" que se vivem em Portugal, nomeadamente os provocados pela crise económica e política, exigindo "bom senso" aos protagonistas políticos perante "um panorama difícil".

Na abertura da Assembleia Plenária da CEP, em Fátima, José Ornelas apontou para a situação das "famílias que acordam sem saber como alimentar os filhos ou pagar a renda" e daquelas que "nem sequer têm teto para descansar", ou dos "doentes que veem distantes os cuidados médicos essenciais, os adolescentes e jovens que, com frequência, não conseguem o necessário acompanhamento nos percursos escolares e os jovens formados que emigram para encontrar perspetivas de uma vida mais digna".

"Contrariamente ao tempo da pandemia, que deu lugar a uma atitude marcada pela busca de fraternidade, solidariedade e justiça, a crise (ou as crises atuais) mostra que, infelizmente, cresceu o fosso entre ricos e pobres: cresceu o isolamento de quem não pode fazer face ao custo dos serviços essenciais à saúde e à dignidade humana", lamentou, o também bispo de Leiria-Fátima, acrescentando que "ficou na sombra quem é incapaz de recomeçar, de refazer vidas derrubadas pelo escalar das rendas de casa ou o aumento dos preços dos bens essenciais".

O líder da Conferência Episcopal avisou que "tudo isto fez crescer exponencialmente a conflitualidade social", afirmando que "para agravar a situação, quando pairava uma expectativa vacilante de eventuais acordos, mesmo que limitados, em setores fundamentais como o da saúde, da educação e outros, a crise surgida nos últimos dias no seio do governo veio trazer novos e sérios elementos de incerteza e preocupação quanto ao futuro de todos, com a possibilidade de agravamento de muitas situações".

"Neste cenário, cresce a frustração e a revolta, especialmente entre os mais vulneráveis, como também a desilusão e a apatia desmobilizadora, campo fértil para manipulações e messianismos populistas que minam os fundamentos de uma autêntica democracia", alertou José Ornelas, que entende que "o panorama é difícil e exige bom senso e boa vontade de todos".

O bispo de Leiria-Fátima lembrou que "já estão fixadas eleições" legislativas para 10 de março de 2024 e sublinhou que esta "é uma ocasião para discutir os verdadeiros problemas do país e afinar políticas de recuperação e melhoria, especialmente para os que mais estão a sofrer com estas sucessivas crises". "Os protagonistas políticos têm um papel fundamental de apresentar propostas e soluções para que o povo possa ter vontade e oportunidade de fazer escolhas", desafiou.

José Ornelas fez ainda um apelo à participação neste ato eleitoral, defendendo que este é o momento em que é "mesmo necessário participar, seja na atividade direta e ativa na vida política, seja no elementar direito e dever de votar". "Aos cristãos e a todos os cidadãos, digo claramente: quem acredita tem uma razão acrescida para não fazer parte da cultura da abstenção e da apatia. A participação, além de determinar quem vai ocupar os lugares de governo, serve-lhes também de estímulo e de aviso para o bom desempenho dos cargos para os quais serão eleitos", afirmou.

Os bispos católicos portugueses estão reunidos em Fátima até à próxima quinta-feira, com a análise da situação social e a questão dos abusos no seio da Igreja a serem temas em cima da mesa de trabalhos desta sessão da Assembleia Plenária da CEP.