O conflito do Médio Oriente pode afetar o turismo


A insegurança gerada pelo conflito entre Israel, o Hamas e parte do mundo islâmico é preocupante para a economia e nomeadamente para o turismo .


Nota prévia: A amnistia decretada a propósito da Jornada Mundial da Juventude está a trazer situações inesperadas. Alguns especialistas estão preocupados com os efeitos que a aplicação pode ter nos processos disciplinares que correm em ordens profissionais, fazendo com que alguns queixosos vejam os assuntos arquivados, beneficiando alegados infratores aos códigos éticos e/ou deontológicos. Certos faltosos, que no passado foram objeto de sanções de suspensão, estão a reclamar o respetivo encurtamento, a fim de antecipar o regresso à atividade. Será mais um efeito perverso de uma lei mal calibrada e excessivamente lata, feita a mata cavalos para celebrar a vinda do Papa. A ideia inicial era limitá-la a jovens, depois evoluiu para matérias penais e agora está a alastrar a áreas inesperadas.

 

1. Ao contrário do que alguns pensam, a economia não é uma ciência exata, apesar de implicar contas, números e fórmulas. É por isso que regularmente as previsões não resistem à realidade. Por exemplo, o Orçamento do Estado 2024 contaria com o petróleo num patamar de 82 a 85 dólares, mas os acontecimentos do Médio Oriente, para além dos da Ucrânia, apontam para hipóteses que podem ultrapassar os 110 dólares facilmente. Ou talvez não, se entrarmos em recessão generalizada, puxando os preços para baixo. A economia é, pois, uma ciência humana que, para além das guerras, responde cada vez mais a alterações climáticas (como as secas), cataclismos e a inesperadas tendências sociais ou de moda. Um dos riscos que o conflito Israel-Hamas gera (e já está a ocorrer como o mostram os alertas de vários governos) é o da insegurança generalizada. Há o perigo redobrado de atentados, seja por lobos solitários ou terroristas organizados. Daí resulta um efeito de travagem nos planos de potenciais viajantes, afetando o turismo. Escusado será dizer que, sendo essa a galinha de ovos de ouro de Portugal, uma crise no turismo teria um efeito devastador na nossa economia e no emprego. E basta às vezes umas frases para alterar uma realidade. Paddy Cosgrave condenou a violência israelita em resposta ao ato terrorista do Hamas. Horas depois, as maiores empresas tecnológicas e de conteúdos do mundo dissociaram-se da Web Summit, que ele dirigia. Ainda resistiu dois dias, mas teve de se demitir, aguardando-se o nome do seu substituto. A sua intervenção pode ser legítima, mas foi irresponsável enquanto organizador de um evento internacional e profissional de grande dimensão. A recorrente imaturidade de Cosgrave é suscetível de custar bastante a Portugal, que sustenta a operação com milhões, contando com um retorno em turismo, que pode não acontecer. Mais a mais, tudo se desenrola a apenas duas semanas do evento que anima o outono lisboeta. Está visto que há casos em que pedir desculpa não chega para quem tem responsabilidades empresariais. As figuras públicas e as organizações têm de ter contenção verbal, salvo naturalmente as que também vivem de opinião, como os media. Quando se pronunciam sofrem por vezes boicotes, como é o caso. Benzema é um defensor da causa palestiniana (o que é legitimo). Bastou uma alusão, até moderada, para lhe quererem tirar a bola de ouro e a nacionalidade francesa. Mais sábio é certamente Ronaldo, o homem mais seguido pelas redes no mundo, que está calado, na sua Arábia Saudita, uma peça fundamental no conflito israelo-árabe. Voltando a Portugal, é verdade que somos um país tido como seguro e que essa perceção é uma das nossas forças de atração. Também por isso é fundamental que todas as antenas de segurança estejam ligadas e atentas sem displicências. Numa altura em que estamos precisamente numa fase crucial de extinção do SEF e da criação de não se sabe bem o quê, essa máquina deveria funcionar em pleno. Há, porém, sinais claros de confusão, trazidos pela imprensa. Até quem, como o cronista, aceitou o princípio da extinção do SEF, depois do que se passou com o espancamento e morte de um ucraniano que demandava Lisboa, tem de fazer este veemente alerta. Há que exigir do governo medidas ativas de prevenção e ações no terreno, numa altura em que a imigração ilegal e islâmica violenta não cessa de crescer, podendo trazer radicais, como de resto já sucedeu. Basta dizer que o terrorista que, há dias, matou dois suecos em Bruxelas esteve detido em Portugal por estar referenciado. Na altura, foi-lhe dada apenas ordem de apresentação regular. Cumpriu uma vez e desapareceu. Reapareceu na Bélgica para desgraça de dois adeptos de futebol, causando pânico e insegurança. Em consequência do atentado e exatamente por não se ter atuado sobre o terrorista que estava detetado, o ministro belga da justiça demitiu-se. Ao contrário do que se passa em certas latitudes, onde há fortes fanatismos religiosos, a invasão da Ucrânia pela Rússia não é teoricamente exportável para o Ocidente em termos de terrorismo. E isso faz muita diferença. O que se passa em Israel e nos territórios palestinianos aumenta o risco, a insegurança, afeta o comportamento humano e os seus hábitos de consumo e lazer, como o turismo.

 

2. Manuel Pinho está a ser julgado pelo seu envolvimento no chamado caso EDP. O ex-ministro de Sócrates confessou numa das sessões que, pouco antes de tomar posse da pasta da economia, criou como offshore a Fundação Tartaruga, através da qual recebia mensalmente 15 mil euros, para além do salário governamental. Pinho teve ainda o descaramento de afirmar que não podia fazer de outro modo porque era assim que o BES pagava a toda a gente e que ele apenas estava a receber retroativos e não qualquer tipo de suborno. Pinho é o retrato do pior que pode haver em termos de promiscuidade entre política e meios financeiros. Para quem ache que isso só se passou no tempo de Sócrates, há que assinalar que este mesmo Manuel Pinho, antes de chegar ao governo, já tinha sido diretor-geral do Tesouro e presidente da Junta de Crédito Público entre 1990 e 1993. Vá se lá saber porquê e para quê. A juntar ao depoimento de Manuel Pinho veio a notícia de que o ex-marido de uma das juízas do caso também recebia do BES, exatamente nos mesmos termos que o ex-ministro de Sócrates. O pagamento em offshore referia-se a remunerações de 1 milhão e 200 mil euros. A juíza apresentou um pedido de escusa que tem de ser analisado numa instância superior. A denúncia do imbróglio foi dada pela SIC, constituindo simultaneamente um alto contributo à transparência e uma exibição notável da opacidade nacional.

3. A nossa comunicação social vive momentos de profunda mudança, uns mediatizados e outros sub-reptícios. Em termos públicos assinale-se a homenagem prestada pelo Conselho de Opinião da RTP ao seu falecido presidente, Manuel Coelho da Silva, que, entretanto, foi justamente condecorado pelo Presidente da República. E a propósito de RTP, estranha-se a circunstância de não ter sido aberto um período de candidaturas aos cargos de administradores, visto que os atuais responsáveis terminam funções já no final deste ano. Existe a convicção de que o Governo pretende manter a equipa atual, eventualmente com a exceção da administradora financeira. Já Nicolau Santos não está em causa. “Les jeux sont faits”. Como era claro desde a sua criação, o Conselho Geral Independente, que supostamente escolhe as administrações, é só mais uma câmara de ressonância do poder, qualquer que ele seja. Entretanto, na ERC, o único regulador português com dignidade constitucional, o bloqueio é total. O PSD, a quem caberia sugerir a cooptação do quinto elemento e do presidente, foi (mais uma vez) fintado pelo PS, que não abdica de mandar num órgão fundamental, numa altura em que estão em causa dossiers como a venda de parte da Lusa, a restruturação do grupo Global Média que inclui TSF, JN, DN (onde o consagrado José Júdice vai assumir a direção). Está ainda em cima da mesa a venda da Cofina, detentora de um porta-aviões chamado Correio da Manhã (curiosamente o mais influente jornal político do país). O grupo Cofina, que inclui a bem-sucedida CMTV – a qual quer migrar para a TDT acessível a todos sem passar por operadores – pode ir parar à mão de um grupo de quadros. Perspetiva-se para o efeito um Management Buy Out financiado por Cristiano Ronaldo, por menos do preço de um dos seus Bugatti. Isto enquanto a Rádio Observador ganha escala na opinião, tenta minorar prejuízos e subsistem canais de televisão de cabo no Porto sabe-se lá como. Em Portugal, ao contrário do que sucede em alguns países onde ainda se lê mais do que 200 palavras de seguida, vivemos numa época em que os media tradicionais, mesmo os que têm participação do Estado, estão destroçados por falta de estratégias e de público. Perdem para as redes sociais e para uma informação fútil.

O conflito do Médio Oriente pode afetar o turismo


A insegurança gerada pelo conflito entre Israel, o Hamas e parte do mundo islâmico é preocupante para a economia e nomeadamente para o turismo .


Nota prévia: A amnistia decretada a propósito da Jornada Mundial da Juventude está a trazer situações inesperadas. Alguns especialistas estão preocupados com os efeitos que a aplicação pode ter nos processos disciplinares que correm em ordens profissionais, fazendo com que alguns queixosos vejam os assuntos arquivados, beneficiando alegados infratores aos códigos éticos e/ou deontológicos. Certos faltosos, que no passado foram objeto de sanções de suspensão, estão a reclamar o respetivo encurtamento, a fim de antecipar o regresso à atividade. Será mais um efeito perverso de uma lei mal calibrada e excessivamente lata, feita a mata cavalos para celebrar a vinda do Papa. A ideia inicial era limitá-la a jovens, depois evoluiu para matérias penais e agora está a alastrar a áreas inesperadas.

 

1. Ao contrário do que alguns pensam, a economia não é uma ciência exata, apesar de implicar contas, números e fórmulas. É por isso que regularmente as previsões não resistem à realidade. Por exemplo, o Orçamento do Estado 2024 contaria com o petróleo num patamar de 82 a 85 dólares, mas os acontecimentos do Médio Oriente, para além dos da Ucrânia, apontam para hipóteses que podem ultrapassar os 110 dólares facilmente. Ou talvez não, se entrarmos em recessão generalizada, puxando os preços para baixo. A economia é, pois, uma ciência humana que, para além das guerras, responde cada vez mais a alterações climáticas (como as secas), cataclismos e a inesperadas tendências sociais ou de moda. Um dos riscos que o conflito Israel-Hamas gera (e já está a ocorrer como o mostram os alertas de vários governos) é o da insegurança generalizada. Há o perigo redobrado de atentados, seja por lobos solitários ou terroristas organizados. Daí resulta um efeito de travagem nos planos de potenciais viajantes, afetando o turismo. Escusado será dizer que, sendo essa a galinha de ovos de ouro de Portugal, uma crise no turismo teria um efeito devastador na nossa economia e no emprego. E basta às vezes umas frases para alterar uma realidade. Paddy Cosgrave condenou a violência israelita em resposta ao ato terrorista do Hamas. Horas depois, as maiores empresas tecnológicas e de conteúdos do mundo dissociaram-se da Web Summit, que ele dirigia. Ainda resistiu dois dias, mas teve de se demitir, aguardando-se o nome do seu substituto. A sua intervenção pode ser legítima, mas foi irresponsável enquanto organizador de um evento internacional e profissional de grande dimensão. A recorrente imaturidade de Cosgrave é suscetível de custar bastante a Portugal, que sustenta a operação com milhões, contando com um retorno em turismo, que pode não acontecer. Mais a mais, tudo se desenrola a apenas duas semanas do evento que anima o outono lisboeta. Está visto que há casos em que pedir desculpa não chega para quem tem responsabilidades empresariais. As figuras públicas e as organizações têm de ter contenção verbal, salvo naturalmente as que também vivem de opinião, como os media. Quando se pronunciam sofrem por vezes boicotes, como é o caso. Benzema é um defensor da causa palestiniana (o que é legitimo). Bastou uma alusão, até moderada, para lhe quererem tirar a bola de ouro e a nacionalidade francesa. Mais sábio é certamente Ronaldo, o homem mais seguido pelas redes no mundo, que está calado, na sua Arábia Saudita, uma peça fundamental no conflito israelo-árabe. Voltando a Portugal, é verdade que somos um país tido como seguro e que essa perceção é uma das nossas forças de atração. Também por isso é fundamental que todas as antenas de segurança estejam ligadas e atentas sem displicências. Numa altura em que estamos precisamente numa fase crucial de extinção do SEF e da criação de não se sabe bem o quê, essa máquina deveria funcionar em pleno. Há, porém, sinais claros de confusão, trazidos pela imprensa. Até quem, como o cronista, aceitou o princípio da extinção do SEF, depois do que se passou com o espancamento e morte de um ucraniano que demandava Lisboa, tem de fazer este veemente alerta. Há que exigir do governo medidas ativas de prevenção e ações no terreno, numa altura em que a imigração ilegal e islâmica violenta não cessa de crescer, podendo trazer radicais, como de resto já sucedeu. Basta dizer que o terrorista que, há dias, matou dois suecos em Bruxelas esteve detido em Portugal por estar referenciado. Na altura, foi-lhe dada apenas ordem de apresentação regular. Cumpriu uma vez e desapareceu. Reapareceu na Bélgica para desgraça de dois adeptos de futebol, causando pânico e insegurança. Em consequência do atentado e exatamente por não se ter atuado sobre o terrorista que estava detetado, o ministro belga da justiça demitiu-se. Ao contrário do que se passa em certas latitudes, onde há fortes fanatismos religiosos, a invasão da Ucrânia pela Rússia não é teoricamente exportável para o Ocidente em termos de terrorismo. E isso faz muita diferença. O que se passa em Israel e nos territórios palestinianos aumenta o risco, a insegurança, afeta o comportamento humano e os seus hábitos de consumo e lazer, como o turismo.

 

2. Manuel Pinho está a ser julgado pelo seu envolvimento no chamado caso EDP. O ex-ministro de Sócrates confessou numa das sessões que, pouco antes de tomar posse da pasta da economia, criou como offshore a Fundação Tartaruga, através da qual recebia mensalmente 15 mil euros, para além do salário governamental. Pinho teve ainda o descaramento de afirmar que não podia fazer de outro modo porque era assim que o BES pagava a toda a gente e que ele apenas estava a receber retroativos e não qualquer tipo de suborno. Pinho é o retrato do pior que pode haver em termos de promiscuidade entre política e meios financeiros. Para quem ache que isso só se passou no tempo de Sócrates, há que assinalar que este mesmo Manuel Pinho, antes de chegar ao governo, já tinha sido diretor-geral do Tesouro e presidente da Junta de Crédito Público entre 1990 e 1993. Vá se lá saber porquê e para quê. A juntar ao depoimento de Manuel Pinho veio a notícia de que o ex-marido de uma das juízas do caso também recebia do BES, exatamente nos mesmos termos que o ex-ministro de Sócrates. O pagamento em offshore referia-se a remunerações de 1 milhão e 200 mil euros. A juíza apresentou um pedido de escusa que tem de ser analisado numa instância superior. A denúncia do imbróglio foi dada pela SIC, constituindo simultaneamente um alto contributo à transparência e uma exibição notável da opacidade nacional.

3. A nossa comunicação social vive momentos de profunda mudança, uns mediatizados e outros sub-reptícios. Em termos públicos assinale-se a homenagem prestada pelo Conselho de Opinião da RTP ao seu falecido presidente, Manuel Coelho da Silva, que, entretanto, foi justamente condecorado pelo Presidente da República. E a propósito de RTP, estranha-se a circunstância de não ter sido aberto um período de candidaturas aos cargos de administradores, visto que os atuais responsáveis terminam funções já no final deste ano. Existe a convicção de que o Governo pretende manter a equipa atual, eventualmente com a exceção da administradora financeira. Já Nicolau Santos não está em causa. “Les jeux sont faits”. Como era claro desde a sua criação, o Conselho Geral Independente, que supostamente escolhe as administrações, é só mais uma câmara de ressonância do poder, qualquer que ele seja. Entretanto, na ERC, o único regulador português com dignidade constitucional, o bloqueio é total. O PSD, a quem caberia sugerir a cooptação do quinto elemento e do presidente, foi (mais uma vez) fintado pelo PS, que não abdica de mandar num órgão fundamental, numa altura em que estão em causa dossiers como a venda de parte da Lusa, a restruturação do grupo Global Média que inclui TSF, JN, DN (onde o consagrado José Júdice vai assumir a direção). Está ainda em cima da mesa a venda da Cofina, detentora de um porta-aviões chamado Correio da Manhã (curiosamente o mais influente jornal político do país). O grupo Cofina, que inclui a bem-sucedida CMTV – a qual quer migrar para a TDT acessível a todos sem passar por operadores – pode ir parar à mão de um grupo de quadros. Perspetiva-se para o efeito um Management Buy Out financiado por Cristiano Ronaldo, por menos do preço de um dos seus Bugatti. Isto enquanto a Rádio Observador ganha escala na opinião, tenta minorar prejuízos e subsistem canais de televisão de cabo no Porto sabe-se lá como. Em Portugal, ao contrário do que sucede em alguns países onde ainda se lê mais do que 200 palavras de seguida, vivemos numa época em que os media tradicionais, mesmo os que têm participação do Estado, estão destroçados por falta de estratégias e de público. Perdem para as redes sociais e para uma informação fútil.