Praga de pombos preocupa cidades

Praga de pombos preocupa cidades


É uma das questões que mais preocupam  os autarcas das grandes cidades: a população de pombos está a crescer e começa a criar problemas. O aumento de esplanadas no período pós-covid piorou as coisas.


É uma praga, ou não é uma praga? Esta é a questão central para se perceber como se vai agir na gestão da população dos pombos na cidade de Lisboa e, à semelhança da capital, também noutras cidades do país, onde cada vez mais a vida dos cidadãos é intercetada pela presença destes animais a que muitos chamam “ratos com asas”.

Os pombos, que em anos longínquos faziam parte de uma imagem bucólica das cidades, são neste momento um problema a necessitar de medidas urgentes. Nos dias que correm, é habitual estar sentado numa esplanada e ser intercetado por estas aves, que parece terem perdido a cerimónia de entrar em voo rasante nas nossas vidas. O habitual café e pastel de nata, ou um outro qualquer dos menus que as pastelarias colocam à nossa disposição para uma refeição ligeira, podem ficar inutilizados num segundo. É cada vez mais comum que um pombo aterre de rompante na nossa mesa e comece a bicar o nosso repasto sem cerimónia.

 

Esplanadas multiplicam reprodução de pombos

Nuno Vinagre, diretor de Higiene Urbana na Câmara Municipal de Lisboa, explica ao i que “o tema dos pombos é cada vez mais controverso na cidade”. Este responsável diz que ao mesmo tempo que recebe queixas de muitos cidadãos sobre o excesso de pombos na cidade, tem também queixas e pedidos de esclarecimento diários de grupos e associações defensoras dos animais, a pedir explicações sobre as atividades do município e os esforços para conter a população columbina.

O responsável diz que, embora não tenha neste momento números concretos, tem a perceção de que o número de pombos em Lisboa tem vindo a crescer exponencialmente, acompanhando o aumento de esplanadas na cidade. “O pós-covid aumentou muito o número de esplanadas e isto faz com que os pombos tenham excessivo acesso à alimentação”. Segundo Nuno Vinagre, os pombos, que normalmente têm dois ciclos de reprodução por ano, passaram a ter quatro ciclos, e isso, por si só, significa um enorme incremento na população destas aves.

Perante isto, o que há a fazer? Em primeiro lugar, aumentar o esforço para ter as esplanadas limpas de restos de comida, garante o responsável pela higiene urbana de Lisboa. Sem isto, é impossível controlar a população de pombos e mesmo as práticas de gestão urbana para o controlo de natalidade acabam por não ter qualquer efeito.

Nuno Vinagre explica que a CML tem vários pombais onde fornece alimentação aos pombos da cidade e que é aí que se procura controlar o número de aves. “Os pombos são animais de hábitos e facilmente se habituam a ir alimentar-se aos mesmos locais. O que fazemos é misturar contracetivos no milho que alimenta estes pombos e assim procuramos controlar a reprodução”. O problema é que com mais alimentos disponíveis nas esplanadas, os pombos estão a perder o hábito de ir alimentar-se aos pombais e a contraceção acaba por não funcionar.

 

Estudo do ISA vai definir se há praga de pombos

A Câmara de Lisboa assinou recentemente um protocolo com o Instituto Superior de Agronomia para que a instituição académica faça um estudo preciso sobre a realidade dos pombos na cidade. Em causa está apurar se há ou não, tecnicamente, uma praga de pombos. Nesse caso o problema tem de ser atacado de forma semelhante ao que é praticado no combate a outras pragas urbanas, como é o caso das pragas de ratos, baratas ou da vespa asiática.

Se a população de pombos urbanos for superior a um quinto da população residente, isso significa que estamos perante uma praga e a CML tem a obrigação legal de atacar o problema com medidas mais radicais. Até lá mantém-se a tentativa de controlo com recurso a práticas usadas noutras cidades e que “vão tendo algum resultado”, diz-nos o diretor municipal de Higiene Urbana de Lisboa.

Além dos pombais contracetivos, os técnicos da Câmara adotam também outras medidas, como a troca dos ovos no ninho por ovos de plástico, a colocação de redes em monumentos e outros edifícios ou a utilização em locais de especial concentração de pombos de um canhão que permite aprisionar numa rede conjuntos de pombos que depois são levados para análise.

Depois da captura, os pombos vão para uma análise visual, para se verificar se têm doenças. Aqueles que se verifica estarem doentes são encaminhados para tratamento ou abate, os outros são muitas vezes entregues a associações que os levam para o Alentejo, onde são colocados à solta. A ideia é que se habituem a um habitat mais natural, longe da vida da cidade.

Questionado sobre se há alguma receita que seja usada noutro país que possa fazer efeito em Portugal, Nuno Vinagre revela que as práticas de controlo da população de pombos são semelhantes nos vários países, mas que países como Portugal, com um clima mais temperado, têm mais dificuldade em tornar eficazes estes métodos.

Para já a CML aguarda os resultados do estudo do ISA, que deverão estar concluídos em meados de 2024, para saber como agir no futuro.

O diretor de Higiene Urbana da capital receia no entanto que, dadas as circunstâncias atuais, e se nada for feito, problemas mais graves possam surgir nas nossas cidades. Começam já a ver-se muitas gaivotas em ambiente urbano e “essa é uma praga muito mais grave”, diz-nos o responsável camarário.

 

Defesa dos animais de olho nas Câmaras

Quem mantém um escrutínio permanente sobre a atuação dos municípios são as associações de defesa dos animais, que constantemente invadem os serviços de requerimentos e pedidos de esclarecimento sobre a atuação dos municípios.

Conciliar a defesa dos animais e a defesa dos cidadãos que habitam nas cidades é agora o grande desafio dos autarcas. Nuno Vinagre defende que é necessário encontrar soluções de consenso, até porque, quando são capturados pelos canhões que a CML utiliza, o que se verifica é que mais de metade destes pombos estão doentes.