Marcelo “Coyote” e Costa “Bip-bip”


Marcelo e Costa lembram os fabulosos desenhos animados de Walter Lantz, onde um tenta desesperadamente capturar o outro, correndo-lhe sempre mal. 


Nota prévia: Os madeirenses vão às urnas daqui a duas semanas. A campanha eleitoral está em curso. Abre-se um ciclo novo. Até 2026 haverá uma catadupa de chamadas às urnas. Ainda este ano haverá europeias. Todas as consultas serão fundamentais para os partidos. Mas especialmente para o PSD e o seu líder Luís Montenegro. Só há um caminho: ganhar. A Madeira é altamente simbólica. Se a coligação PSD/CDS formar governo será uma vitória da dupla Albuquerque/Montenegro. Se ficar dependente do Chega é uma semiderrota com grande repercussão no continente e no PSD. Se o PS porventura ganhar, o que nunca sucedeu, seria um pesadíssimo revés de imprevisíveis consequências.

 

1. Se fosse vivo, o genial Walter Lantz, reconheceria semelhanças entre Marcelo e Costa e os seus fabulosos “Coyote” (Marcelo) e o “Bip-bip Papa Léguas” (Costa), imortalizados em desenhos animados. Desde que lhe correu mal a investida contra Galamba, Marcelo assumiu o papel do “Coyote”. Tudo faz para apanhar na curva o esquivo Costa “Bip-bip”. Marcelo convoca Conselho de Estado, logo Costa desaparece a meio para a Nova Zelândia para apoiar a seleção feminina de futebol. Marcelo “Coyote” veta uma lei da habitação, Costa “Bip-bip ou Papa Léguas” devolve na hora e garante que nada muda. Marcelo quer acabar a ronda no Conselho de Estado e ouvir Costa. Este finta-o e mantém-se mudo e quedo, cortando-lhe as vasas. Sucedem-se picardias e indiretas humorísticas ou sérias em público. E assim passam-se dias a fio com os jornalistas a relatar cada episódio e os comentadores a ocupar dezenas de horas e de páginas. O “Coyote” está nervoso e com pressa de entalar o “Bip-Bip”, até porque o tempo começa-lhe a falhar. Sabe que dentro de dois anos fica com reduzidos poderes constitucionais. A tensão institucional tem vindo a subir de forma grave, entre indiretas, vetos e respostas à bruta da maioria parlamentar. Tudo é pretexto para óbvias provocações, embora os protagonistas mantenham a compostura quando juntos. Percebe-se, porém, que o caldo político está entornado, desde o episódio Galamba. Se houvesse necessidade de mais clareza a afirmação pública de Costa de “cada um no seu galho” é edificantemente lamentável. Vá lá que não falou em macaco. Situações de alta tensão entre o Presidente e o chefe do Governo não são inéditas em Portugal. Sucederam entre Eanes e Soares, entre Eanes e Balsemão, entre Soares e Cavaco, entre Sampaio e Santana e entre Cavaco e Sócrates. A diferença com a situação atual é que havia mais recato público. Além disso, há, hoje, uma comunicação social permanentemente ligada, redes sociais espontâneas e outras organizadas para desestabilizar, além de comentadores sempre no ar. Só isso alimenta e amplifica as divergências, tornando-as o Alfa e o Ómega de toda a política. Esta dupla, que chegou a ser notável, já não é um contributo positivo para organizar um país a colapsar em todas as áreas fundamentais como a economia, a saúde, segurança social, a justiça, a defesa, a segurança, a agricultura e pescas e o ambiente. Costa mostrou em oito anos uma incompetência reformista, apesar de se intitular de fazedor. De Marcelo só falta ouvi-lo falar de asfixia democrática, o que, aliás, não seria mentira nenhuma. Consciente da degradação do ambiente político, o presidente do PS, Carlos César, lembrou, no domingo, que partido não é o dono do país e que é preciso ter a humildade para reconhecer isso. “Estamos cientes que, na saúde e na habitação, temos que fazer mais e mais depressa”, disse ainda. Um diagnóstico certeiro da parte de Carlos César que está a afirmar-se como o candidato natural do PS a Belém, pondo no banco o trauliteiro Santos Silva. Apesar desta análise lúcida, o facto é que o nível político está tão baixo, que o melhor é ligar a net ou um canal de miúdos e rever as frustradas investidas do Coyote e as fugas do Bip-bip não estabelecendo analogias. Senão em vez de rir acabamos a chorar.

 

2. O destruidor sismo que abalou Marrocos é mais um alerta para a circunstância de vivermos num planeta vivo e em movimento constante, seja nas suas entranhas, seja na sua atmosfera, que o Homem destrói metodicamente numa rota suicidária. As vítimas, entre mortos e feridos, contam-se aos milhares. O regime marroquino tem evitado pedir ajuda internacional para não expor toda a dimensão do terramoto e limitar o impacto no turismo, a grande fonte de rendimento do reino. Os danos são o resultado direto de construções deficientes e frágeis. É mais um alerta para Portugal, onde a construção também não tem grande qualidade antissísmica, embora seja incomparavelmente melhor do que a de Marrocos. Mesmo assim há muito por fazer e há também que melhorar a prevenção individual. O sismo de Marraquexe não foi dos mais fortes. Se tivesse ocorrido no Japão não haveria nada mais do que ligeiros danos materiais e físicos. É essa noção que não podemos perder.

 

3. Em mais uma das suas demagógicas intervenções, a ministra do Trabalho e da Segurança Social aproveitou a rentrée socialista para garantir que o Governo vai combater na rua a precariedade no emprego, que ainda abrange 70 mil pessoas, ligadas a 18 mil empresas. A ser verdade, é uma brutalidade de gente e não se percebe o que têm andado a fazer as entidades ligadas à inspeção de trabalho e à da economia. Mais estranho ainda é a ministra nada ter feito para evitar, por meios inspetivos e judiciais, a praga de motoristas de veículos TVDE que circulam por todo o país. É gente que vem do Indostão, que não fala português, mas tem carta de condução nacional, conduz mal, não conhece rotas e que é um perigo nas estradas. Este caos só pode existir através de uma rede de corrupção com ramificações profundas, envolvendo interesses públicos e privados. Há dias o Expresso assinalava que alguns daqueles desgraçados condutores tinham pago milhares de euros para chegarem cá, estando até sujeitos a dormirem na própria bagageira dos carros enquanto outro colega guia. Sobre tudo o que envolve os TVDE isto nem a ministra Godinho nem qualquer entidade do estado intervém. E tudo se passa à descarada, sem ninguém ir preso. Para quando uma operação da PJ com um daqueles nomes geniais tipo “volante dourado”? A situação dos TVDE é tão grave que, hoje, os taxistas são praticamente referência de boa condução e boas maneiras. O mundo realmente dá muitas voltas.

 

4. A notícia é desoladora para quem aprecia o Serviço Público, que a RTP ainda vai prestando na TV e na Rádio. Acontece (por sinal nome de um programa de boa memória) que o Primeira Pessoa, que Fátima Campos Ferreira conduz magistralmente no seu jeito único, vai mudar de segunda para quarta feira no Canal 1. Há de haver certamente uma explicação ditirâmbica para tirar do seu dia de sempre esta enorme profissional, que já viu ser extinto lentamente o seu inesquecível Prós e Contras à mão de interesses “pequenininhos”. Esperemos pelo esclarecimento. O Primeira Pessoa fica agora à mercê da Champions League. Está para se ver o que para vai surgir nas segundas-feiras. Espera-se que não sejam aquelas séries de realização “neo-soviética” que substituem qualquer sonífero, custam um balúrdio por episódio, alimentam a malta da atual situação e matam as audiências. Ou será que?

 

5. Desde 2018 que o Governo Costa garantiu que num ápice iam aparecer quartos para estudantes no edifício da 5 de Outubro, até então sede do Ministério da Educação. O prazo inicial está largamente ultrapassado e até ver a única coisa que mudou foi o aproveitamento de alguns espaços do edifício por gente sem-abrigo. A promessa do Governo era tão fabulosa ao ponto de anunciar que, nas férias, o edifício serviria de Alojamento Turístico (o delirante anúncio deve ter sido feito depois de um copioso e bem regado almoço). Falhou tudo, obviamente! Mas, noutro ponto da cidade (na Rua Ferreira Pinto, na Junqueira, junto à Universidade Lusíada, uma empresa privada está a acabar, em 18 meses, uma residência para estudantes com cerca de 5.000 m2. Chama-se Unidorm (passe a publicidade) e talvez fosse bom entregar-lhe, por ajuste direto e rápido, o mono das Avenidas Novas, antes colapse.

Marcelo “Coyote” e Costa “Bip-bip”


Marcelo e Costa lembram os fabulosos desenhos animados de Walter Lantz, onde um tenta desesperadamente capturar o outro, correndo-lhe sempre mal. 


Nota prévia: Os madeirenses vão às urnas daqui a duas semanas. A campanha eleitoral está em curso. Abre-se um ciclo novo. Até 2026 haverá uma catadupa de chamadas às urnas. Ainda este ano haverá europeias. Todas as consultas serão fundamentais para os partidos. Mas especialmente para o PSD e o seu líder Luís Montenegro. Só há um caminho: ganhar. A Madeira é altamente simbólica. Se a coligação PSD/CDS formar governo será uma vitória da dupla Albuquerque/Montenegro. Se ficar dependente do Chega é uma semiderrota com grande repercussão no continente e no PSD. Se o PS porventura ganhar, o que nunca sucedeu, seria um pesadíssimo revés de imprevisíveis consequências.

 

1. Se fosse vivo, o genial Walter Lantz, reconheceria semelhanças entre Marcelo e Costa e os seus fabulosos “Coyote” (Marcelo) e o “Bip-bip Papa Léguas” (Costa), imortalizados em desenhos animados. Desde que lhe correu mal a investida contra Galamba, Marcelo assumiu o papel do “Coyote”. Tudo faz para apanhar na curva o esquivo Costa “Bip-bip”. Marcelo convoca Conselho de Estado, logo Costa desaparece a meio para a Nova Zelândia para apoiar a seleção feminina de futebol. Marcelo “Coyote” veta uma lei da habitação, Costa “Bip-bip ou Papa Léguas” devolve na hora e garante que nada muda. Marcelo quer acabar a ronda no Conselho de Estado e ouvir Costa. Este finta-o e mantém-se mudo e quedo, cortando-lhe as vasas. Sucedem-se picardias e indiretas humorísticas ou sérias em público. E assim passam-se dias a fio com os jornalistas a relatar cada episódio e os comentadores a ocupar dezenas de horas e de páginas. O “Coyote” está nervoso e com pressa de entalar o “Bip-Bip”, até porque o tempo começa-lhe a falhar. Sabe que dentro de dois anos fica com reduzidos poderes constitucionais. A tensão institucional tem vindo a subir de forma grave, entre indiretas, vetos e respostas à bruta da maioria parlamentar. Tudo é pretexto para óbvias provocações, embora os protagonistas mantenham a compostura quando juntos. Percebe-se, porém, que o caldo político está entornado, desde o episódio Galamba. Se houvesse necessidade de mais clareza a afirmação pública de Costa de “cada um no seu galho” é edificantemente lamentável. Vá lá que não falou em macaco. Situações de alta tensão entre o Presidente e o chefe do Governo não são inéditas em Portugal. Sucederam entre Eanes e Soares, entre Eanes e Balsemão, entre Soares e Cavaco, entre Sampaio e Santana e entre Cavaco e Sócrates. A diferença com a situação atual é que havia mais recato público. Além disso, há, hoje, uma comunicação social permanentemente ligada, redes sociais espontâneas e outras organizadas para desestabilizar, além de comentadores sempre no ar. Só isso alimenta e amplifica as divergências, tornando-as o Alfa e o Ómega de toda a política. Esta dupla, que chegou a ser notável, já não é um contributo positivo para organizar um país a colapsar em todas as áreas fundamentais como a economia, a saúde, segurança social, a justiça, a defesa, a segurança, a agricultura e pescas e o ambiente. Costa mostrou em oito anos uma incompetência reformista, apesar de se intitular de fazedor. De Marcelo só falta ouvi-lo falar de asfixia democrática, o que, aliás, não seria mentira nenhuma. Consciente da degradação do ambiente político, o presidente do PS, Carlos César, lembrou, no domingo, que partido não é o dono do país e que é preciso ter a humildade para reconhecer isso. “Estamos cientes que, na saúde e na habitação, temos que fazer mais e mais depressa”, disse ainda. Um diagnóstico certeiro da parte de Carlos César que está a afirmar-se como o candidato natural do PS a Belém, pondo no banco o trauliteiro Santos Silva. Apesar desta análise lúcida, o facto é que o nível político está tão baixo, que o melhor é ligar a net ou um canal de miúdos e rever as frustradas investidas do Coyote e as fugas do Bip-bip não estabelecendo analogias. Senão em vez de rir acabamos a chorar.

 

2. O destruidor sismo que abalou Marrocos é mais um alerta para a circunstância de vivermos num planeta vivo e em movimento constante, seja nas suas entranhas, seja na sua atmosfera, que o Homem destrói metodicamente numa rota suicidária. As vítimas, entre mortos e feridos, contam-se aos milhares. O regime marroquino tem evitado pedir ajuda internacional para não expor toda a dimensão do terramoto e limitar o impacto no turismo, a grande fonte de rendimento do reino. Os danos são o resultado direto de construções deficientes e frágeis. É mais um alerta para Portugal, onde a construção também não tem grande qualidade antissísmica, embora seja incomparavelmente melhor do que a de Marrocos. Mesmo assim há muito por fazer e há também que melhorar a prevenção individual. O sismo de Marraquexe não foi dos mais fortes. Se tivesse ocorrido no Japão não haveria nada mais do que ligeiros danos materiais e físicos. É essa noção que não podemos perder.

 

3. Em mais uma das suas demagógicas intervenções, a ministra do Trabalho e da Segurança Social aproveitou a rentrée socialista para garantir que o Governo vai combater na rua a precariedade no emprego, que ainda abrange 70 mil pessoas, ligadas a 18 mil empresas. A ser verdade, é uma brutalidade de gente e não se percebe o que têm andado a fazer as entidades ligadas à inspeção de trabalho e à da economia. Mais estranho ainda é a ministra nada ter feito para evitar, por meios inspetivos e judiciais, a praga de motoristas de veículos TVDE que circulam por todo o país. É gente que vem do Indostão, que não fala português, mas tem carta de condução nacional, conduz mal, não conhece rotas e que é um perigo nas estradas. Este caos só pode existir através de uma rede de corrupção com ramificações profundas, envolvendo interesses públicos e privados. Há dias o Expresso assinalava que alguns daqueles desgraçados condutores tinham pago milhares de euros para chegarem cá, estando até sujeitos a dormirem na própria bagageira dos carros enquanto outro colega guia. Sobre tudo o que envolve os TVDE isto nem a ministra Godinho nem qualquer entidade do estado intervém. E tudo se passa à descarada, sem ninguém ir preso. Para quando uma operação da PJ com um daqueles nomes geniais tipo “volante dourado”? A situação dos TVDE é tão grave que, hoje, os taxistas são praticamente referência de boa condução e boas maneiras. O mundo realmente dá muitas voltas.

 

4. A notícia é desoladora para quem aprecia o Serviço Público, que a RTP ainda vai prestando na TV e na Rádio. Acontece (por sinal nome de um programa de boa memória) que o Primeira Pessoa, que Fátima Campos Ferreira conduz magistralmente no seu jeito único, vai mudar de segunda para quarta feira no Canal 1. Há de haver certamente uma explicação ditirâmbica para tirar do seu dia de sempre esta enorme profissional, que já viu ser extinto lentamente o seu inesquecível Prós e Contras à mão de interesses “pequenininhos”. Esperemos pelo esclarecimento. O Primeira Pessoa fica agora à mercê da Champions League. Está para se ver o que para vai surgir nas segundas-feiras. Espera-se que não sejam aquelas séries de realização “neo-soviética” que substituem qualquer sonífero, custam um balúrdio por episódio, alimentam a malta da atual situação e matam as audiências. Ou será que?

 

5. Desde 2018 que o Governo Costa garantiu que num ápice iam aparecer quartos para estudantes no edifício da 5 de Outubro, até então sede do Ministério da Educação. O prazo inicial está largamente ultrapassado e até ver a única coisa que mudou foi o aproveitamento de alguns espaços do edifício por gente sem-abrigo. A promessa do Governo era tão fabulosa ao ponto de anunciar que, nas férias, o edifício serviria de Alojamento Turístico (o delirante anúncio deve ter sido feito depois de um copioso e bem regado almoço). Falhou tudo, obviamente! Mas, noutro ponto da cidade (na Rua Ferreira Pinto, na Junqueira, junto à Universidade Lusíada, uma empresa privada está a acabar, em 18 meses, uma residência para estudantes com cerca de 5.000 m2. Chama-se Unidorm (passe a publicidade) e talvez fosse bom entregar-lhe, por ajuste direto e rápido, o mono das Avenidas Novas, antes colapse.