Belenenses. A festa desceu à cidade

Belenenses. A festa desceu à cidade


O Clube de Futebol “Os Belenenses” garantiu a subida à segunda liga e juntou-se à festa do União de Leiria. Os dois clubes regressam ao futebol profissional e já olham para cima. Mas ainda falta decidir quem é o campeão da Liga 3.


Por João Sena

No espaço de uma semana, os dois históricos do futebol nacional garantiram um lugar na Liga 2 (segunda liga) na próxima época. Baterem no fundo, mas com muita determinação e esforço foram dando consecutivas provas de vida e, agora, deram mais um passo com vista ao seu objetivo maior que é regressar à primeira divisão. De assinalar que o Belenenses é o único clube a disputar a fase de subida, já que todas as outras equipas eram SADs.

Nos últimos cinco anos o verdadeiro Belenenses trilhou a caminho das pedras. Navegou pelas profundezas do futebol distrital, mas com muito espírito de sacrifício ultrapassou todas as tormentas e chegou à Liga 3, uma competição muito equilibrada, onde 80% dos jogos se decidem pela margem mínima. Na jornada decisiva empatou (0-0) com a Sanjoanense, resultado que lhe permitiu vencer a série B e consequentemente o acesso ao escalão superior. Subir de divisão cinco vezes consecutivas e chegar a um campeonato profissional é algo de muito invulgar e digno de figurar no Guinness Book como referiu Patrick Morais de Carvalho, presidente de “Os Belenenses”.

Os muito fiéis adeptos tiveram sempre um papel importante no apoio à equipa, e nas últimas semanas houve grande empolgamento com a possibilidade de subir à segunda divisão depois de ter andado pela sétima divisão. Desde o momento em que disputou o primeiro jogo do campeonato distrital de Lisboa frente ao Olivais e Moscavide, em setembro de 2018, que ficou bem demonstrado o que é o Belenenses. Compreende-se a invasão pacífica dos adeptos azuis depois de confirmada a subida. 

A equipa de Cruz de Cristo ficou em 4.º lugar no grupo A e apurou-se à justa para disputar a subida de divisão. Aí, as coisas correram melhor e, no jogo decisivo, no Restelo, frente à Sanjoanense o empate foi suficiente para fazer a festa e concretizar o sonho de alguns anos. 

Subidas consecutivas O Belenenses veio do futebol amador da Associação de Futebol de Lisboa até ao futebol profissional, onde as dificuldades são maiores e as exigências também. Uma imposição é que os clubes de futebol têm de se constituir como sociedades anónimas desportivas (SAD) ou como sociedades desportivas unipessoais por quotas (SDUQ) para poderem participar nas competições profissionais.

Patrick Morais de Carvalho tem razões para estar satisfeito, pois foram anos de luta dentro e fora dos relvados para manter bem vivo o nome do clube. “É um momento de grande felicidade, há muito que a incrível massa associativa do Belenenses merecia isto. Fizemos cinco subidas consecutivas, pode parecer fácil, mas não é. Temos encontrado um contexto novo todos os anos. Não conhecíamos os adversários, os campos, os treinadores, nada. O foco tinha de ser sempre em nós próprios e tentar montar uma equipa que se adequasse ao campeonato que íamos disputar”, explicou o presidente de “Os Belenenses”. Depois deste êxito, “o pensamento já está na primeira liga”, disse o presidente dos azuis do Restelo.

O técnico Bruno Dias fez questão de elogiar o plantel: “Estou muito feliz pelos meus jogadores, são os verdadeiros heróis desta conquista. Foram extraordinários ao longo do ano. Acreditaram sempre, quando muita gente duvidou. No início de fevereiro estávamos em sexto lugar no campeonato e a verdade é que subimos, por isso houve mérito dos jogadores”, reconheceu o treinador. No momento de comemorar a subida de divisão, falou também aos adeptos: “Muito obrigado a todos os belenenses que se agarraram à equipa e foi um mar azul que nos levou à Liga 2”.

Lugar na história Fundado num banco de jardim da Praça Afonso de Albuquerque, em Belém, a 23 de setembro de 1919, “Os Belenenses” tem uma longa história de conquistas e glórias, mas também de angústias. Aos longo de quase 104 anos criou uma identidade que nada, nem ninguém conseguiu apagar. Campeão nacional em 1945/46 e vencedor da Taça de Portugal em 1941/42, 1959/60 e 1988/89, na história do clube constam mais três títulos relativos à conquista do Campeonato de Portugal em 1926/27, 1928/29 e 1932/33. O clube continua a ter um registo histórico que é a maior goleada num jogo do campeonato com a volumosa vitória (15-2) sobre a Académica. Uma semana depois goleou o Salgueiros (14-1), ou seja, no espaço de oito dias marcou 29 golos! Durante décadas fez parte do quarteto dos chamados grandes do futebol português, juntamente com Benfica, Sporting e FC Porto, até 1982/83 foram estes os únicos clubes que nunca desceram de divisão. A equipa de “Os Belenenses” teve também reconhecimento internacional. Foi convidada pelo Real Madrid para o jogo de inauguração do estádio Santiago Bernabéu, e voltou a sê-lo para a festa de homenagem ao hexacampeão europeu, Francisco Gento.

Na temporada 2018/19, o clube e a Belenenses SAD seguiram caminhos opostos. O verdadeiro Belenenses criou uma equipa para disputar 3.ª Divisão Distrital de Lisboa, que recebeu o apoio da maioria dos sócios e adeptos do clube. A sociedade desportiva gerida por Rui Pedro Soares ficou na primeira liga, mas pouco tempo desceu à segunda divisão e já tem fim à vista, em 2023/24 vai competir com o nome Cova da Piedade na sequência da fusão das duas SAD. 

O próximo desafio dos azuis do Restelo é o jogo contra o União de Leiria para apurar o campeão da Liga 3, que tem lugar no Estádio Nacional, dia 21. “Respeitamos muito a União de Leiria, porque é um adversário com muito valor. Vencemos em Leiria e eles venceram no Restelo. Agora, no Jamor, veremos quem leva a melhor, mas seguramente será um grande jogo”, afirmou o treinador do Belenenses.

Recorde-se que o União de Leira já tinha assegurado a subida à Liga 2 na jornada anterior ao vencer o Braga B (1-0) perante mais de 22 mil adeptos nas bancadas. Após 11 anos de ausência do futebol profissional, voltou a alegria à cidade. “Juntos fizemos magia, metemos Leiria na segunda divisão”, ecoou pelo relvado e por todo o estádio num dia em que ficou garantida a subida. No final da época 2011/12, o União de Leiria foi despromovido da I Liga para a segunda divisão B devido a dificuldades financeiras e deixou de pagar os ordenados aos jogadores da equipa principal e a maioria rescindiu contrato. As dívidas e incumprimentos fiscais do União de Leiria levou o tribunal a decretar a sua extinção em julho de 2013. A partir de 2012/13 passou a competir nos campeonatos da Associação de Futebol de Leiria e, em 2021/22, passou a jogar na Liga 3.