Banca ‘finta’ subida de juros nos depósitos

Banca ‘finta’ subida de juros nos depósitos


Aumento de juros não se reflete nos produtos de poupança. Portugal continua a ser dos piores países para se investir neste produto.


O BCE tem vindo a subir as taxas de juro e os bancos continuam a ser pressionados para aumentar as suas remunerações nos depósitos a prazo. De acordo com o banco central, apresentamos uma das taxas mais baixas da Europa no que diz respeito ao investimento em depósitos a prazo, ficando à frente apenas da Eslovénia, da Irlanda, da Grécia e do Chipre.

A oferta vai aparecendo a conta-gotas, mas António Fonseca, presidente do Mais Sindicato, chama a atenção para a existência de várias variáveis. «Há ofertas muito mal explicadas nas letras pequeninas», referindo ainda que «oferecem 2% de juros se tiver um cartão de crédito, um seguro, etc. É o chamado cross-selling. Se abater esses valores todos, como a anuidade do cartão de crédito, vai ver que não vai receber os tais 2%, porque uma parte será absorvida por esses outros produtos. Não me parece muito correto este tipo de vendas».

Um cenário reconhecido por Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Deco, que nota: «Se formos ver há condições especiais que têm de ser cumpridas, por parte dos consumidores para poderem acesso a essas taxas de juro de caráter promocional». E refere que «há sempre requisitos que têm de ser cumpridos pelos consumidores para poderem ter acesso a essas remunerações».

Henrique Tomé vê, no entanto, este ‘truque’ com naturalidade, porque entende que «é uma forma que os bancos têm para fidelizarem novos clientes». Já Mário Martins dá cartão vermelho a este tendência: «Não é natural os juros de depósito estarem muito longe dos valores dos juros de referência do BCE, o problema é que para já a banca tem ampla liquidez proporcionada pelo BCE, mas a qualquer momento episódios como os do Silicon Valley Bank podem ocorrer na Europa».

Daí, os especialistas acharem natural esta fuga para os certificados de aforro, numa altura em que a taxa de remuneração está nos 3,5%. Natália Nunes reconhece que esse aumento da procura «compreende-se pela remuneração que é obtida». Ainda assim, recomenda que o cliente tenha um papel muito pró-activo, no sentido de consultar e verificar muito bem as condições que lhe estão a ser apresentadas. «Não se deve ‘levar’ apenas pelo valor que lhe está a ser prometido a tipo de remunerarão e analisar quais são os requisitos que são exigentes para ter acesso aquela remuneração. E depois cabe a todos os consumidores reivindicar o aumento da remuneração dos depósitos a prazo».