Bancos ganham quase 7 milhões por dia

Bancos ganham quase 7 milhões por dia


Cinco maiores bancos apresentaram resultados superiores a 2,5 mil milhões. A fórmula de sucesso mantém-se: pressão nas comissões e redução na estrutura, com menos trabalhadores e balcões.


Os lucros dos cinco maiores bancos continuam a engordar. O novobanco foi o último a apresentar resultados e os números superam todas as expectativas. A instituição financeira apresentou lucros de 560,8 milhões de euros, no ano passado. Feitas as contas, o novobanco, Caixa Geral de Depósitos, Santander, BCP e BPI lucraram mais de 2,5 mil milhões de euros. Dividindo esse valor dá uma média de 6,9 milhões por dia. E, mais uma vez, os resultados continuam assentes na redução dos custos de estrutura – com equipas cada vez mais reduzidas e menos balcões – e no aumento das comissões.

A instituição financeira que recentemente ficou livre das amarras do plano de reestruturação – iniciado em 2017 e que, de acordo com Fernando Medina, «encerra assim uma etapa muito importante para a estabilização do sistema financeiro nacional, concluindo-se com sucesso o processo que garantiu a viabilidade desta importante instituição de crédito nacional» – registou um aumento de lucros face aos 184,5 milhões registados no ano anterior, «resultado da execução da estratégia com foco no crescimento sustentado do negócio, sólida geração de receita e capital, não obstante a atual incerteza macroeconómica».

Para o CEO, Mark Bourke, não há margem para dúvidas: «Em 2022 destaca-se o crescimento sustentado do negócio bancário em Portugal, a conclusão do processo de restruturação e a capacidade crescente de geração de receitas e capital. Este desempenho financeiro permite continuar a competir como um Banco sólido e independente, reforçando a sua missão de apoio às empresas e às famílias».

A margem financeira totalizou-se nos 625,5 milhões, «reflexo da melhoria da taxa média dos ativos que mais que compensou o aumento do custo de financiamento», enquanto a taxa da margem financeira foi de 1,47%, já o crédito a clientes (líquido) cresceu 0,9 mil milhões. As comissões de serviços a clientes ascenderam a 293,3 milhões, «com destaque para o desempenho da gestão de meios de pagamento, empréstimos e garantias em linha com a melhoria da atividade do banco».

O produto bancário comercial totalizou 918,8 milhões e o produto bancário ascendeu a 1.126,3 milhões de euros, incluindo o contributo positivo dos outros resultados de exploração no valor de 183,6 milhões, derivado do processo de desalavancagem do portefólio imobiliário, que inclui a venda do edifício da atual sede.

Face ao controlo de custos e continuado investimento estratégico, o Cost to Income Comercial situou-se em 48,8% (2021: 47,7%), equivalente a 44,1% excluindo itens de natureza excecional. E os custos operativos atingiram 448,4 milhões, equivalente a um aumento de 2,4% ajustado por itens de natureza excecional.

No final de 2022 contava com 4 090 colaboradores, menos 103 do que os 4 193 que tinha em final de 2021. Já o número de balcões era de 292 em dezembro passado, menos 11 do que em dezembro de 2021.

 

Campeão dos resultados

O banco liderado por Paulo Macedo voltou a bater recordes nos resultados, ao apresentar lucros de 843 milhões de euros. Um resultado que vai permitir o pagamento de um dividendo de 352 milhões de euros, «o mais elevado de sempre», revelou a instituição financeira liderada por Paulo Macedo. Além disso, o Estado irá também receber o edifício-sede do banco, na Av. João XXI, em Lisboa, que estará avaliado numa base de 300 milhões (mas ainda está em avaliação), de acordo com o banco. Com estes dois pagamentos, a Caixa Geral de Depósitos considera que fica ‘saldada’ metade da recapitalização de 4,9 mil milhões de euros de que foi alvo em 2017.

A instituição financeira revelou que, deste resultado, 193 milhões são provenientes da atividade internacional, enquanto os restantes 650 milhões são resultado da atividade doméstica.

A margem financeira disparou 42,8%, para 1,4 mil milhões de euros, beneficiando do aumento das taxas de juro no ano passado, enquanto os resultados com comissões atingiram os 606 milhões de euros. O produto global da atividade aumentou 32,3%, para 2,3 mil milhões.

Este nível de atividade foi também possível perante o aumento e limpeza do balanço do banco: o crédito a clientes aumentou 2,2%, para 50,8 mil milhões de euros, e os recursos de clientes cresceram 6,3%, para 83,9 mil milhões.

No final de 2022, a Caixa tinha 5 837 empregados, menos 280 do que os 6 117 de final de 2021. Quanto à rede comercial, em final de 2022 era de 515 o número de agências, espaços Caixa e gabinetes de empresas, menos 27 do que no fim do ano anterior.

 

Lucros também sobem

O Santander Totta registou lucros de 568,5 milhões de euros no ano passado. Um valor que compara com os 298,6 milhões de euros registados no período homólogo.

O total de crédito a clientes atingiu os 43,3 mil milhões de euros, um decréscimo de 0,3% face ao valor no final de 2021. Já no segmento de crédito hipotecário, verificou-se um crescimento homólogo de 5,5%. Por seu lado, os custos operacionais fixaram-se em 486 milhões de euros, uma queda de 8,1% face ao final de 2021, pelo que o resultado de exploração aumentou 2%, neste mesmo período, para 805,6 milhões de euros, «fruto do decréscimo em 6,6% dos custos com pessoal e em 10,2% dos gastos gerais e administrativos».

No ano passado, o Santander Totta não escapou à tendência de redução do número de trabalhadores, passando de 4 805 trabalhadores em 2021 para 4 644 pessoas em 2022. A mesma fórmula foi aplicada ao número de balcões, que passa de 348 para 339. Já as comissões líquidas, no montante de 470,3 milhões de euros, registaram um crescimento homólogo de 10,2%.

Já o BPI registou um lucro de 365 milhões, em 2022, uma subida de 19% em comparação com o ano anterior, altura em que tinha apresentado um resultado de 307 milhões de euros. De acordo com a instituição financeira liderada por João Pedro Oliveira e Costa, a atividade em Portugal contribuiu com 235 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 31% relativamente ao exercício de 2021 (179 milhões de euros). As participações no BFA e BCI tiveram um contributo de 96 milhões de euros e 34 milhões para o resultado consolidado, respetivamente.

A instituição financeira registou crescimentos homólogos de 6% no crédito e 5% nos depósitos de clientes. Já os proveitos da atividade comercial cresceram 14%, a par de um aumento de 4% dos custos. Por seu lado, as comissões subiram 3%, para 296 milhões, enquanto o produto bancário atingiu os 873 milhões, subindo 14% em termos anuais. E diz ter conquistado quota no mercado de crédito (11,5%), apesar da inversão de tendência de subida registada na segunda metade do ano.

Também o Millennium BCP registou lucros de 207,5 milhões de euros em 2022, mais 50% do que os 138,1 milhões de euros alcançados em 2021, apesar dos efeitos extraordinários relacionados com o Bank Millennium, entre os quais, encargos de 525,64 milhões de euros associados à carteira de créditos hipotecários em francos suíços, custo associado às moratórias de créditos hipotecários em zlótis de 282,8 milhões de euros, contribuição de 59 milhões de euros para o Fundo de Proteção Institucional (IPS) e registo da imparidade do goodwill do Bank Millennium de 102,3 milhões de euros.

 O BCP registou um produto bancário de 2 867,5 milhões de euros, uma subida de quase 23%. Em relação às comissões líquidas, houve um crescimento de 6,1%, para 771,9 milhões, relacionado sobretudo com a «progressiva normalização da atividade económica, decorrente da evolução favorável da pandemia associada à covid-19».

A carteira de crédito praticamente estabilizou nos 56,2 mil milhões de euros e os depósitos subiram 9%, para 75,9 mil milhões de euros.

A instituição financeira não ficou alheia à queda em termos de estrutura, passando de 6 289 colaboradores para 6 252. «Os custos decorrentes do ajustamento do quadro de pessoal foram reconhecidos em 2021, sendo considerados como itens específicos, destacando-se, por assumir maior expressão, a já referida provisão, no montante de 84,2 milhões de euros».

 

Cronologia

Agosto de 2014
Surgiu o Novo Banco após o colapso do banco da família Espírito Santo, tendo sido aplicada uma medida nunca usada em Portugal: a resolução. A ‘nova’ instituição financeira recebeu uma injeção de 4,9 mil milhões, dos quais 3,9 mil milhões do Estado. Mas três meses antes já tinha sido alvo de um aumento de capital de 1 050 milhões.

Outubro de 2017
Assinado o acordo para a venda de 75% do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star que injetou mil milhões de euros – 750 milhões no fecho do negócio e mais 250 milhões até ao final desse ano. Os restantes 25% ficaram nas mãos do Fundo de Resolução.

Maio de 2018
Depois de ter apresentado, em 2017, os maiores prejuízos da sua história (1 395 milhões), o Estado foi obrigado a injetar 792 milhões.

Maio de 2019
O Estado emprestou 850 milhões ao Fundo de Resolução para a injeção de 1 149 milhões, após perdas de 1.412 milhões em 2018. Os restantes 289 milhões de euros foram provenientes dos recursos próprios do Fundo de Resolução.

Maio de 2020

Saíram 850 milhões dos cofres do Tesouro para o Fundo de Resolução mediante um empréstimo, possibilitando a injeção de 1 037 milhões destinada a compensar os maus resultados do Novo Banco no exercício de 2019, tendo apresentado um prejuízo de 1.059 milhões.

Março de 2022
Banco com lucro de 184,5 milhões no ano passado, um valor que contrasta com as perdas do ano anterior de 1 329,3 milhões.

Novembro de 2022
Quase triplicou os lucros para 428,3 milhões nos primeiros nove meses, o maior resultado dos bancos privados.