Sérgio Sousa Pinto: “Também chamaram palhaço a Churchill”

Sérgio Sousa Pinto: “Também chamaram palhaço a Churchill”


O deputado do PS e presidente da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros Sérgio Sousa Pinto comenta um ano de guerra na Ucrânia.


O que o surpreendeu mais num ano de guerra?

Como é evidente, foi a resistência inesperada dos ucranianos, civis e militares.

O que o surpreendeu pela negativa? Não estranhou a extrema-esquerda estar ao lado da extrema-direita no apoio a Putin ou na condenação a Zelensky?

Isso não me surpreendeu nada, nem sequer acho estranho. Acho natural.

Porquê?

Porque Putin representa uma alternativa autoritária. Corresponde ao sonho antigo de uma certa direita. Ao mesmo tempo, Putin é o herdeiro do império soviético, que a extrema-esquerda foi sempre a vassala.

Se a Ucrânia perder a guerra, o que acha que vai acontecer?

Primeiro é preciso que a Ucrânia resista e encontre um compromisso que preserve a sua viabilidade, como Estado autónomo, independente e não como satélite vassalo da Rússia. E, por outro lado, todos aqueles que acompanham com expectativa o que está a acontecer na Ucrânia, designadamente alguns regimes perigosos, com tendências expansionistas e desejosos de terem condições políticas para brutalizar os seus vizinhos, que retirem daqui a ilação necessária de que as guerras de agressão estão votadas ao fracasso.

Está a referir-se à China?

Não, não é o caso. A China não é uma potência agressiva. 

Estava a pensar em Taiwan.

Em todos os cantos do mundo, onde há um país fraco encostado a um país forte, no dia em que claudicar o Direito Internacional, o país fraco vai armar-se até aos dentes para tentar resistir. Convence-se que o direito é apenas uma ilusão bem intencionada e que só a força trava os agressores.

Como define Zelensky?

Zelensky parecia ser um homem banal, e em circunstâncias extremas revelou-se em muito mais do que isso. Revelou-se capaz de grandeza. Esteve à altura das circunstâncias. Mas isso é o que tem a natureza humana de extraordinário, estamos sempre a sersurpreendidos – as surpresas vêm de onde menos se espera.

Não alinha com os críticos que dizem que Zelensky não passa de um palhaço?

Não, não é um palhaço certamente. Isso era o que também diziam do Churchill antes de 1940.

 

Deputado do PS
Presidente da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros