Rosalía. A metamorfose da Motomami ao vivo no Altice Arena

Rosalía. A metamorfose da Motomami ao vivo no Altice Arena


A cantora catalã, Rosalía, esteve no Altice Arena, completamente lotado, para oferecer um efusivo concerto, que contou com momentos musicais de grande pujança, mas também movido pela poderosa voz da artista formada em flamenco.


“Una mariposa, yo me transformo”, é uma das frases chave da música Saoko, faixa que introduz Motomami, o mais recente álbum de Rosalía, que esteve este domingo, dia 27, no Altice Arena, em Lisboa, depois de, na sexta-feira, ter atuado em Braga, no Altice Fórum, e que tem sido utilizada para a artista abrir as suas atuações, o que faz todo o sentido, porque é um bom mote para aquilo que a cantora nos tem tentado mostrar.

Com uma entrada barulhenta, ao som de um remix do som de uma mota a acelerar, a cantora catalã entrou em palco acompanha por dezenas de bailarinos, equipados com um capacete de moto e um estilo que parecia saído de um filme cyberpunk.

As explosões rítmicas e eufóricas de uma faixa tão carismática como Saoko mostraram bem aos fãs aquilo que poderíamos esperar do concerto, uma grande entrega tanto por parte da cantora como da audiência e alguns problemas sonoras da sala, que não permitia que se ouvisse a voz com toda a claridade e distorcia os sons mais altos, nomeadamente quando as músicas possuíam um baixo mais potente.

Um concerto de Rosalía é uma atuação altamente multidisciplinar. Em primeiro lugar, pela minuciosa forma como a câmara acompanha a cantora e os seus dançarinos ao longo do palco, parecendo transportar-nos para um vídeo-clip protagonizado pela catalã, e com uns ambiciosos planos, que tornam quase mais interessante observar aquilo que está a acontecer nos ecrãs gigantes do que em cima de palco.

As coreografias dos bailarinos também são deslumbrantes, ora adotando um estilo mais típico da dança de rua, mais cru, físico e livre, como em danças mais complexas e movimentos mais técnicos, e ofereceram alguns dos momentos mais impressionantes do concerto, como quando formaram uma “mota humana”, onde a cantora se sentou enquanto cantava a música que partilha o nome com o álbum.

Há um grande caldeirão de influências em jogo nesta nova tour de Rosalía, uma tentativa de mostrar a complexa personalidade e gostos que formam a sua pessoa, por isso, é natural vermos coisas como a cantora a twerkar durante um interlúdio de free jazz da Saoko, a fazer headbang após cantar uma estrofe de uma música de flamengo ou a adaptar a Blinding Lights de The Weekend para a sua poderosa voz.

E é na sua voz que vivem os momentos mais intensos do concerto. Apesar de ser interessante e divertido ouvir as músicas com instrumentais mais divertidos e idiossincráticos, como Chicken Teriyaki ou Candy, quando a cantora nos mostra o poder da sua voz crua e em toda a sua magnificência, especialmente em baladas como Sakura ou Hentai.

É aí que é possível observar o talento em bruto de uma das mais talentosas performers do planeta, que não precisa de grandes adornos ou fogos de artifício para dar um grande concerto (ainda que seja divertido observar momentos como quando esta e os seus bailarinos entraram em palco em trotinetes). 

Apesar de não ter tido a mesma oportunidade do concerto de Braga, onde a catalã cantou uma música em português, a Lágrimas do Céu de Carminho, viveu-se um momento de comunhão e festa, com o climax do concerto a acontecer durante Despechá, canção altamente viral de Rosalía, que foi celebrada com todo o Altice Arena a cantar e a dançar efusivamente.

Numa altura em que cantores latinos ocupam um espaço artístico e mediático cada vez mais imponente no mundo da música, observamos como Rosalía se coloca numa posição dianteira desta criativa e bem sucedida nova vaga de artistas espanhóis, podendo abrir novas portas e oportunidades a outros artista de renome semelhante, como Bad Bunny, J Balvin ou o próprio C Tangana, que este ano esteve também no Altice Arena a atuar durante o festival Super Bock Super Rock, para poderem realizar os seus próprios concertos em nome próprio no nosso país.