Santa pobreza franciscana


Os portugueses são pródigos em lamentações e em sacudir a água do capote. 


Somos pobres. Portugal está cada vez mais pobre. Poderia ser só de espírito, mas não, somos pobres mesmo. Daqueles países pobres em que há pessoas que não têm dinheiro para comer, para comprar ou arrendar casa, que não estão preparadas para uma despesa extraordinária, seja de saúde, de educação ou a simples substituição de um eletrodoméstico essencial na gestão familiar.

Tão pobres que nem conseguimos aquecer as nossas casas durante os meses mais frios. Em 2021, cerca de 16% dos portugueses não tiveram condições para aquecer convenientemente a habitação, o que nos colocou num preocupante 5º lugar dos países da União Europeia (UE). Pior estão os 25% da população portuguesa que vivem em más condições materiais, ou seja, alojamentos – muitos nem se podem considerar casas – que não reúnem as condições essenciais para habitação condigna. E, nesta matéria, recebemos a medalha de prata por ocuparmos o segundo lugar do pódio entre os 27 países da UE.

A pobreza também se estende à infância e aqui temos quase 11% de crianças, com menos de 16 anos, que vivem em famílias com privação material e social, sem saberem o que é passar uma semana de férias fora de casa, sem poderem ter uma atividade extracurricular ou de lazer, sem conhecerem o cheiro de uma roupa nova, ou o sabor de uma refeição de carne com legumes e fruta…

Nem quis acreditar quando foram divulgados os números da pobreza em Portugal: 4,4 milhões de portugueses são pobres! Nós somos apenas 10 milhões de habitantes, pelo que quase metade do País é pobre. O que aconteceu à classe média? Migrou para o patamar abaixo? E aquele conceito muito em voga e profusamente repetido em qualquer comentário político com a designação de “elevador social”? Pelos vistos, apesar de ser repetido até à exaustão é algo que não tem cabimento na nossa realidade. 

Fica a impressão de que por aqui tudo funciona ao contrário. Por exemplo: a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estima que os mais pobres demoram até cinco gerações para chegar à classe média; em Portugal, ao que tudo indica, a nossa classe média pode alcançar a pobreza em menos de uma geração. Um feito lusitano, como muitos outros, e de compreensão ininteligível para a maioria dos mortais e dos estudiosos destes ciclos sociais. 

Não há pobreza pior do que aquela que é encapotada. Os próprios não assumem a sua condição porque o Estado lhes diz que não o são. Aos que não têm rendimentos para se sustentarem e às suas famílias, o Estado transfere uma renda mensal a que chama de Rendimento Social de Inserção (RSI) a troco de nada e por tempo indeterminado, como se não acreditasse que estes beneficiários pudessem almejar a mais do que uns míseros quatrocentos euros mensais. Um atestado de menoridade a pessoas válidas e com capacidade, que se aninham debaixo do chapéu do Estado como se não houvesse alternativa para o seu futuro.

Que Estado é este que não incentiva os seus “filhos” a ambicionarem mais e a contribuírem com o seu trabalho e esforço para um País digno e próspero? O mesmo Estado que não vê mal nenhum em ter 4,4 milhões de pobres, um Estado à mercê de um Governo que se limita a estender a mão a Bruxelas e a aguardar, sentado, pela chegada das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para distribuir como um pai que acabou de ganhar de lotaria, sem nunca ter trabalhado na vida.

Sorte a nossa em termos um Governo que se preocupa com os portugueses e com o seu almoço. O jantar, depois logo se vê.

A pobreza não se mede só pelos números assombrosos que abriram os telejornais. A pobreza sente-se por todo o lado. A começar pela saúde: 125 mil cirurgias interrompidas pela pandemia que ainda não foram realizadas, consultas da especialidade que têm listas de espera superiores a um ano, maternidades que encerraram e mães que veem os seus filhos nascer nas ambulâncias, ou num hospital sem serviço de obstetrícia, doentes que já tiveram alta médica mas que continuam internados nos hospitais porque a Segurança Social não tem resposta para lhes dar encaminhamento posterior, e a lista continua…

Os portugueses são pródigos em lamentações e em sacudir a água do capote. Por todo o lado se murmuram as preocupações com o aumento da inflação, a subida dos preços dos bens essenciais, dos combustíveis, das taxas de juro, com o estado moribundo do Serviço Nacional de Saúde, com os jovens que não têm alternativa se não emigrar, com os furtos nos supermercados e outras mais que nem fazemos ideia, mas que são preocupações reais para muitas pessoas.

O que é realmente preocupante é constatar como os portugueses gostam de ser enganados e vão atrás de conversas doces, ao som da flauta que encanta serpentes. Não há qualquer menoridade na capacidade dos portugueses em avaliarem o que é melhor para o País e para as suas famílias, o problema é não pararem para pensar o rumo que estamos a tomar há já vários anos, desde que Portugal assistiu à tomada do Governo por partidos políticos que não venceram as eleições e nada fez para repor a verdade democrática da vontade popular. Para o ano, já não teremos 4,4 milhões de pessoas em situação de exclusão social; serão mais. E, no ano seguinte, este número continuará a aumentar, a não ser que algo mude no comportamento dos portugueses.

Santa pobreza franciscana


Os portugueses são pródigos em lamentações e em sacudir a água do capote. 


Somos pobres. Portugal está cada vez mais pobre. Poderia ser só de espírito, mas não, somos pobres mesmo. Daqueles países pobres em que há pessoas que não têm dinheiro para comer, para comprar ou arrendar casa, que não estão preparadas para uma despesa extraordinária, seja de saúde, de educação ou a simples substituição de um eletrodoméstico essencial na gestão familiar.

Tão pobres que nem conseguimos aquecer as nossas casas durante os meses mais frios. Em 2021, cerca de 16% dos portugueses não tiveram condições para aquecer convenientemente a habitação, o que nos colocou num preocupante 5º lugar dos países da União Europeia (UE). Pior estão os 25% da população portuguesa que vivem em más condições materiais, ou seja, alojamentos – muitos nem se podem considerar casas – que não reúnem as condições essenciais para habitação condigna. E, nesta matéria, recebemos a medalha de prata por ocuparmos o segundo lugar do pódio entre os 27 países da UE.

A pobreza também se estende à infância e aqui temos quase 11% de crianças, com menos de 16 anos, que vivem em famílias com privação material e social, sem saberem o que é passar uma semana de férias fora de casa, sem poderem ter uma atividade extracurricular ou de lazer, sem conhecerem o cheiro de uma roupa nova, ou o sabor de uma refeição de carne com legumes e fruta…

Nem quis acreditar quando foram divulgados os números da pobreza em Portugal: 4,4 milhões de portugueses são pobres! Nós somos apenas 10 milhões de habitantes, pelo que quase metade do País é pobre. O que aconteceu à classe média? Migrou para o patamar abaixo? E aquele conceito muito em voga e profusamente repetido em qualquer comentário político com a designação de “elevador social”? Pelos vistos, apesar de ser repetido até à exaustão é algo que não tem cabimento na nossa realidade. 

Fica a impressão de que por aqui tudo funciona ao contrário. Por exemplo: a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estima que os mais pobres demoram até cinco gerações para chegar à classe média; em Portugal, ao que tudo indica, a nossa classe média pode alcançar a pobreza em menos de uma geração. Um feito lusitano, como muitos outros, e de compreensão ininteligível para a maioria dos mortais e dos estudiosos destes ciclos sociais. 

Não há pobreza pior do que aquela que é encapotada. Os próprios não assumem a sua condição porque o Estado lhes diz que não o são. Aos que não têm rendimentos para se sustentarem e às suas famílias, o Estado transfere uma renda mensal a que chama de Rendimento Social de Inserção (RSI) a troco de nada e por tempo indeterminado, como se não acreditasse que estes beneficiários pudessem almejar a mais do que uns míseros quatrocentos euros mensais. Um atestado de menoridade a pessoas válidas e com capacidade, que se aninham debaixo do chapéu do Estado como se não houvesse alternativa para o seu futuro.

Que Estado é este que não incentiva os seus “filhos” a ambicionarem mais e a contribuírem com o seu trabalho e esforço para um País digno e próspero? O mesmo Estado que não vê mal nenhum em ter 4,4 milhões de pobres, um Estado à mercê de um Governo que se limita a estender a mão a Bruxelas e a aguardar, sentado, pela chegada das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para distribuir como um pai que acabou de ganhar de lotaria, sem nunca ter trabalhado na vida.

Sorte a nossa em termos um Governo que se preocupa com os portugueses e com o seu almoço. O jantar, depois logo se vê.

A pobreza não se mede só pelos números assombrosos que abriram os telejornais. A pobreza sente-se por todo o lado. A começar pela saúde: 125 mil cirurgias interrompidas pela pandemia que ainda não foram realizadas, consultas da especialidade que têm listas de espera superiores a um ano, maternidades que encerraram e mães que veem os seus filhos nascer nas ambulâncias, ou num hospital sem serviço de obstetrícia, doentes que já tiveram alta médica mas que continuam internados nos hospitais porque a Segurança Social não tem resposta para lhes dar encaminhamento posterior, e a lista continua…

Os portugueses são pródigos em lamentações e em sacudir a água do capote. Por todo o lado se murmuram as preocupações com o aumento da inflação, a subida dos preços dos bens essenciais, dos combustíveis, das taxas de juro, com o estado moribundo do Serviço Nacional de Saúde, com os jovens que não têm alternativa se não emigrar, com os furtos nos supermercados e outras mais que nem fazemos ideia, mas que são preocupações reais para muitas pessoas.

O que é realmente preocupante é constatar como os portugueses gostam de ser enganados e vão atrás de conversas doces, ao som da flauta que encanta serpentes. Não há qualquer menoridade na capacidade dos portugueses em avaliarem o que é melhor para o País e para as suas famílias, o problema é não pararem para pensar o rumo que estamos a tomar há já vários anos, desde que Portugal assistiu à tomada do Governo por partidos políticos que não venceram as eleições e nada fez para repor a verdade democrática da vontade popular. Para o ano, já não teremos 4,4 milhões de pessoas em situação de exclusão social; serão mais. E, no ano seguinte, este número continuará a aumentar, a não ser que algo mude no comportamento dos portugueses.