Matateu e Vicente. Os absolutamente inimitáveis Irmãos Azuis!

Matateu e Vicente. Os absolutamente inimitáveis Irmãos Azuis!


É lançado hoje, no Restelo, pelas 17h30, o livro Matateu e Vicente, Dois Irmãos Belenenses, da autoria de Carlos Pereira Martins.


 Não sei se as almas têm cor mas sei, de certeza absoluta, que se tivessem, as almas de Matateu e de Vicente seriam azuis, aquele azul misturado de céu e Tejo que paira sobre Belém. Matateu foi, durante tantos e tantos anos, o símbolo do grande avançado. Não um simples avançado-centro, amarrado à sua posição no meio da grande-área adversária, lutando pela vida contra os centrais contrários, mas um avançado livre, que surgia de supetão, de surpresa, tirando proveito da sua velocidade notável e do seu pontapé-bombardeiro. Rematador por excelência, teimou em jogar pelo tempo fora, como se não tivesse idade, de 1944 a 1982. Com a camisola azul da Cruz de Cristo fez a bagatela de 271 golos em 291 jogos.

Em Portugal representou o Belenenses durante quase a sua vida, o Atlético, o Gouveia, o Amora e o Chaves, e no Canadá, onde veio a falecer, na costa leste, perto de Vancouver, no dia 27 de Fevereiro de 2000, o First Portuguese e o Sagres de Vitória. Venceu a Taça de Portugal em 1969/60 e foi o melhor marcador do campeonato nacional em 1953/53 e 1954/55. Ficou sempre dentro dele a mágoa de mão ter conseguido ser campeão.

Conta Carlos Pereira Martins, o autor da obra, natural de Viseu, homem de largo currículo na área comercial e do trabalho e que chegou a presidente da Assembleia Geral do Belenenses: “Pela selecção, Matateu estreou-se a 23 de Novembro de 1952, contra a Áustria, para marcar 13 golos em 27 encontros. Até ao início da década de 60, tornou-se a principal referência da equipa nacional, tal como Peyroteo o fora nos anos 40, e Eusébio viria a ser nas décadas seguintes. A potência de remate e o arranque supreendente de Matateu continuaram, no entanto, a passearem-se nos campos de futebol, mas com menor intensidade. Até Dezembro de 1964, com a camisola do Belenenses, depois de ter sido dispensado do clube do Restelo num divórcio que lhe deixou marcas para o resto da vida e se viu obrigado a jogar ao serviço de clubes mais modestos”.

Carlos conduz-nos pela vida dos dois irmãos juntando factos e números a uma série de episódios curiosos das suas vidas e das suas carreiras. E o livro é profusamente ilustrado à moda de uma fotobiografia.

Irmãos ímpares “Vicente Lucas foi o soldado nº554/66 e esteve na tropa durante dez anos. Jogava pelas selecções militares e por acordo com os seus superiores do exército tinha, dessa forma, um soldo garantido. Como militar, assim como o amigo e compatriota Mário Coluna, e os companheiros Faneca, do Barreirense, e Miguel Arcanjo, ganhou muitos desafios internacionais e diz agora que talvez até pudessem ter sido campeões do mundo pela selecção militar”.

Defesa impiedoso e, no entanto, de uma leveza e de uma elegância, que lhe permitia marcar lendas como Pelé sem fazer uma única falta, Vicente sempre foi, igualmente, de uma candura e de uma humildade tocantes. Ouvido por Carlos Pereira Martins, António Simões, seu camarada no Mundial de Inglaterra, em 1966, salienta: “Vou dividir o jogador e o homem. Como jogador foi brilhante utilizando processos simples mas inteligentes. Tirava a bola ao adversário com subtileza e sabedoria. A combinação era tão eficaz que ele nem falava nem tocava no homem com quem se encontrava, por exemplo Pelé. Quanto à pessoa, esse modelo de carácter, na figura humana, quase desapareceu hoje e o mundo não quer saber disso”.

Infelizmente, a carreira de Vicente terminou cedo de mais, ao contrário da de Matateu. Mas estão escritas de uma forma objectiva neste Matateu e Vicente, Dois Irmãos Belenenses, de Carlos Pereira Martins, uma personagem que tem feito tudo o que está ao seu alcance para que a memória azul não se desvaneça e para que o nome do seu clube, Clube de Futebol Os Belenenses, se mantenha grande como sempre foi.