Eu, que nasci sem irmãos, fiz irmãos em tantos dos meus amigos. Irmãos de todas as cores, de todos os lugares, de tantas línguas. Não julguem, pelo que digo, que qualquer um pode tomar esse lugar a meu lado que é o de um irmão. Não, nada mais distante da verdade, nada mais sem sentido. Os meus irmãos são aqueles que, quando olho em frente e para os lados e me vejo absolutamente sozinho, caminham atrás de mim e nunca me deixarão cair.
Não preciso de os olhar: sinto-os. E eles sabem também que estarei aqui até ao fim dos tempos, ou pelo menos dos nossos tempos. Como Vinicius acreditam comigo, juntos: “Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; nas mulheres em geral e na minha em particular; nas árvores ao sol e no canto da juriti; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra os resfriados comuns”.
Quando comecei a trabalhar com Scolari havia muita gente em Portugal que não gostava dele, sobretudo os salafrários que foram capazes de abrir garrafas de champanhe naquela noite da tristeza azul de Portugal de 4 de julho de 2004. Eu gostei.
Eu gosto. Gosto da sua franqueza, da forma como olha para a vida com um sorriso como se agradecesse a Deus (o Deus dele, não o meu) o milagre de ver o sol nascer todas as manhãs. Ficámos amigos. Irmãos. Ele apenas um pouco mais velho do que eu o que não me impediu de lhe dar, pelo menos, um conselho e evitar-lhe uma escolha da qual ainda hoje se arrependeria. Desculpem, mas fica entre nós.
Gosto da forma como tem necessidade de rir, de rir muito, e da forma contagiosa como espalha a sua alegria abundantemente sem esperar nada em troca do que mais alegria e aquele abraço que voa através do Atlântico que agora nos separa mas é incapaz de atrapalhar a nossa proximidade por mais altas que sejam as suas vagas. Eu sei que ele está feliz e eu estou feliz com ele. Porque é assim que tudo se passa, tão tranquilamente no universo das amizades correspondidas… Afinal, um amigo é um ser que a vida não explica.