A VAAY, uma empresa de cosméticos, bem-estar e nutrição com sede em Berlim, que se foca na comercialização de canabinóides e derivados planta do cânhamo, decidiu fazer um ranking das cidades mais e menos stressantes do mundo. Já existiam listas semelhantes, como uma dedicada exclusivamente às cidades norte-americanas, mas esta é aquela que conta com dados mais atualizados – contando com o auxílio da Universidade de Oxford – que dizem respeito ao ano passado. Mas, afinal, o que está em causa?
“Na VAAY, estamos focados em promover o equilíbrio interior e a atenção plena na nossa comunidade, e sabemos o efeito que o ambiente que nos rodeia pode ter na nossa saúde mental. Não há dúvida de que vivemos tempos stressantes, lidando com circunstâncias que, muitas das vezes, estão além do nosso controlo, mas quando pensamos nas fontes do nosso stress diário, é fácil focarmo-nos em coisas pequenas e passageiras”, começou por explicar a empresa ao i.
“Da mesma forma, enquanto consideramos o significado do ciclo diário de notícias sobre a pandemia, podemos perder de vista os elementos sempre presentes que nos cercam e afetam as nossas vidas quotidianas. Se realmente somos produtos do nosso ambiente, perguntamos: por que não prestamos mais atenção à sua influência no nosso estado de espírito?”, questiona, esclarecendo que, “com essa pergunta em mente”, decidiu levar a cabo “algumas pesquisas para determinar as cidades mais e menos stressantes do mundo, com base em fatores estruturais e ambientais que muitas vezes são omnipresentes, mas às vezes esquecidos, e podem contribuir para o nível geral de stresse sentido por uma pessoa”.
Deste modo, o resultado constitui um índice de 100 grandes cidades globais compreendendo mais de 15 fatores, cada um classificado numa escala do mais ao menos stressante.
“Esperamos mostrar quais são as cidades que lideram o caminho para melhorar o bem-estar de seus cidadãos e podem ser uma fonte de inspiração para as cidades mais ‘atrasadas’”, refere a empresa, deixando claro que, para iniciar o estudo, considerou os macrofatores que contribuem para o stress, restringindo-os a quatro grandes categorias.
De seguida, procedeu à avaliação de mais de 500 cidades em relação a vários indicadores de stress nessas categorias, antes de excluir aquelas que, na sua ótica, não apresentavam dados confiáveis, terminando com uma lista final de 100 cidades.
“As cidades selecionadas não são necessariamente as cidades mais e menos stressantes do mundo; em vez disso, eles foram escolhidos pela sua comparabilidade global”, observa a equipa da VAAY.
Indo aos critérios, na primeira categoria foram analisados fatores governamentais que ditam os níveis de inclusão numa cidade, como a segurança e proteção, igualdade de género e respeito pelas minorias e estabilidade sociopolítica.
“Esses elementos representam estruturas sociais que são moldadas por decisões políticas e leis locais, que podem afetar a mentalidade de uma pessoa”, justifica a empresa.
“Depois, considerámos o efeito do ambiente físico ao nosso redor, pois foi comprovado que a alta densidade de vida contribui para a ansiedade e o stress. Fizemos isso avaliando a densidade populacional, bem como os níveis de poluição, padrões climáticos e a quantidade de congestionamento de tráfego em cada cidade”, acrescenta, passando para as necessidades económicas.
“Algumas pessoas dizem que o dinheiro é a raiz de todos os problemas e, embora não concordemos completamente – a pandemia colocou alguns per si – certamente é uma causa significativa de stress para a maioria das pessoas”, disse, asseverando que analisou as taxas de desemprego, as estruturas da segurança social e o montante de rendimento disponível num agregado familiar após impostos e custos de alojamento, ajustados pela paridade do poder de compra, entre outros fatores.
“Finalmente, considerámos a saúde e o bem-estar, olhando especificamente para a saúde mental e o acesso aos cuidados de saúde como influências nos níveis de stress”, clarifica, apontando a importância do lugar cimeiro de Reiquiavique, a capital da Islândia.
Se prestarmos atenção ao ranking, entendemos que, de 0 a 100, esta capital obteve as seguintes classificações: 98.8 em segurança, 97.8 em estabilidade sociopolítica, 100 em igualdade de género, 91.2 na igualdade das minorias, 86.5 no congestionamento do tráfego, 27 no clima, 100 na poluição atmosférica, 100 na poluição sonora, 78.9 na poluição luminosa, 8.2% na taxa de desemprego, 81.4 no stress financeiro, 88 na segurança social, 71.4 na saúde mental, 96.3 no acesso aos cuidados de saúde e 92 no efeito de stress de resposta à pandemia de covid-19.
No segundo lugar, surge Berna (Suíça), no terceiro aparece Helsínquia (Finlândia), no quarto temos Wellington (Nova Zelândia), em quinto Melbourne (Austrália) e em sexto Oslo (Noruega). As pontuações totais de todas estas cidades, juntamente com Reiquiavique, variam entre 93.9 e 100. No entanto, é curioso compreender as diferenças que existem entre as mesmas mediante cada fator. Por exemplo, relativamente à segurança, Melbourne apresenta um valor de 64.3, contrastando com os restantes que vão dos 81.2 aos 98.8.
Em relação à estabilidade sociopolítica, não existem grandes disparidades: mas estas surgem novamente no critério da igualdade de género, com Melbourne a alcançar 70, enquanto os números das outras cidades são sempre superiores a 80. No campo da igualdade das minorias, Berna obteve a pontuação mais reduzida (75.3), enquanto Helsínquia e Oslo atingiram os 100. Quem está pior na área do congestionamento do tráfego é Wellington e o clima é pior em Reiquiavique e melhor em Melbourne.
Já na poluição atmosférica, a capital da Islândia voltou a atingir o valor máximo, de 100, tal como na sonora. Na luminosa, quem está mais bem classificada é Berna, conseguindo os 100 pontos também. A taxa de desemprego é mais baixa em Berna e não existe stress financeiro: pelo menos, é esse panorama que nos dá a conhecer o valor de 100 pontos.
No campo da segurança social, destaca-se pela positiva Helsínquia (96.8), na saúde mental os valores são maus – o mais reduzido foi verificado em Melbourne –, no acesso aos cuidados de saúde estão todas bem classificadas. Sendo que Oslo chega aos 100 pontos – e no efeito de stress de resposta à pandemia de covid-19, quem fica para trás é a capital da Suíça.
Lisboa bem classificada longe das cidades mais stressantes Apesar de ser a segunda cidade com a pior pontuação no critério da saúde mental (10.5), tendo sido apenas ultrapassada por Atenas, na Grécia (1), Lisboa, no 22.º lugar em 100, conseguiu pontuações superiores a 70 exceto nos parâmetros da saúde mental, poluição sonora (67.2) e efeito do stress de resposta à pandemia de covid-19 (57.8), estando o acesso aos cuidados de saúde entre os melhores (87.7). Contudo, temos de manter em mente que estes resultados são referentes a 2021, antes da mais recente turbulência na Saúde.
Importa dizer que, em 2019, antes do surgimento da pandemia do novo coronavírus, já Portugal era o segundo país da União Europeia (UE) com mais pessoas a sofrer de depressão crónica, com 12.2% da população a apresentar sintomas. O primeiro era a Eslovénia (15.1%) e o terceiro era a Suécia (11.7%). Por outro lado, os países que apresentavam menos queixas da doença eram a Roménia, Bulgária e Malta com percentagens de 1%, 2.7% e 3.5%, respetivamente. Tal como foi frisado, à época, as mulheres portuguesas eram, entre as europeias, aquelas que mais disseram sofrer de depressão crónica (16.4%), sendo apenas ultrapassadas pelas eslovacas (16%).
Para além disso, um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou o impacto da pandemia de covid-19 na saúde mental de um conjunto de cidadãos, maiores de idade, e residentes em território nacional, concluiu que, das 929 pessoas inquiridas, 26.9% apresentaram sintomas de ansiedade, 7% de depressão e 20.4% de ambos os transtornos.
Tal já havia sido percecionado por outros profissionais, como o psiquiatra Henrique Prata Ribeiro que, em entrevista à LUZ, em outubro do ano passado, salientou que “ainda há muitas pessoas que têm medo de dizer que sofrem de uma doença psiquiátrica, mas se forem atempadamente tratadas, tudo é diferente. Se não tiverem tratamento, a sua capacidade cognitiva fica comprometida, agrava-se a possibilidade de recuperação e também a de futuro”.
Quando olhamos para o final do ranking, encontramos Cabul (Afeganistão) em 95.º lugar, Bagdade (Iraque) em 96.º, Nova Deli (Índia) em 97.º, Manila (Filipinas) em 98.º, Lagos (Nigéria) em 99.º e Mumbai (Índia) em 100.º. Tal não é de estranhar, pois a primeira é palco da Guerra do Afeganistão há mais de 20 anos, a segunda também integra um país que vive constantemente num cenário bélico, a terceira e a sexta integram um dos países em desenvolvimento – tal como a quinta – e a quarta é a capital de um dos países mais populosos do mundo, ainda que as Filipinas também estejam em desenvolvimento e a nação seja vista como um mercado emergente.
Na estabilidade sociopolítica, quem tem um panorama mais negro é Cabul (1), na igualdade de género também (o mesmo valor), na igualdade das minoriasBagdade é aquela que tem o valor mais reduzido.
No congestionamento do tráfego, é Manila que se classifica pior, no clima é Lagos que fica para trás, na poluição atmosférica e na sonora é Nova Deli que se destaca pela negativa, na poluição luminosa estão quase ao mesmo nível, na taxa de desemprego é Lagos que fica à frente das restantes (37.1%), no stress financeiro Nova Deli “ganha” e na segurança social também, na saúde mental têm níveis muito semelhantes, no acesso aos cuidados de saúde Cabul “lidera” com 1 (sendo seguida de Lagos, que alcançou 6.1) e no efeito de stress de resposta à pandemia ficam igualmente em patamares parecidos.