Mundial do Catar. A cor do dinheiro

Mundial do Catar. A cor do dinheiro


Envolto em polémica desde o primeiro momento, o Mundial do Catar promete fazer correr muita tinta, tanto dentro das quatro linhas como nas ruas…


Nunca o mundo do futebol se rendeu tanto ao dinheiro como quando aceitou, em 2010, que o Mundial de 2022 se realizaria no Catar, um país com temperaturas próximas dos 50oC nos meses de verão. Há esse problema? Resolve-se! Os jogos realizam-se entre 21 de novembro e 18 dezembro, altura em que as temperaturas são um pouco mais amenas. Há problemas com a exploração de milhares de trabalhadores que constroem os estádios? Também não há problema! Muda-se a legislação e tenta mostrar-se que os cerca de 25 mil trabalhadores migrantes que colocaram de pé todas as infraestruturas não morrem por exaustão, alguns enquanto pediam comida, segundo relatos de organizações não-governamentais.

Não se pode ingerir bebidas alcoólicas? Mais um problema que será resolvido, pois durante o mês da competição os responsáveis cataris permitirão que os adeptos se ‘enfrasquem’ nos hotéis e restaurantes, desde que não bebam na via pública. Alguém acredita que não haverá dezenas de detidos quando o calor apertar na rua – e os fãs da bola levarem as bebidas dos hotéis para os estádios?

A homossexualidade pode implicar pena de morte? Não há, mais uma vez, problema. Desde que não existam carinhos em público, sejam homossexuais ou heterossexuais – não consta que por aquelas paragens já tenham descoberto as palavras trans e afins – tudo correrá na paz de Alá. Será que não irão ocorrer beijos e abraços entre fãs apaixonados?

Logo se verá. Há dois dias a Federação alemã manifestou-se contra o desrespeito com a comunidade LGBTQIA+, mas não foi além de um protesto. Em 1978, na Argentina, a Holanda, vice-campeã mundial, recusou-se a cumprimentar o ditador Videla. Que manifestações deste tipo irão ocorrer no país que terá gasto mais de 200 mil milhões de euros para organizar o mundial em pleno inverno e que colocará os campeonatos europeus, e não só, de pernas para o ar? Ninguém consegue prever, embora muito já se tenha escrito sobre prováveis detenções dos cerca de 500 mil fãs previstos para o evento. É que o calor é muito e nos jogos de futebol é norma haver excessos…

A força do Catar, e da FIFA, vai obrigar, em outubro, os principais campeonatos do mundo, nomeadamente os europeus, a parar para os jogadores selecionados se prepararem para o grande acontecimento… Mas a FIFA, organização todo-poderosa do mundo da bola, mostrou-se indiferente aos protestos e levou a sua avante. Mesmo que os escândalos de corrupção tenham envolvido o então presidente Joseph Blatter e depois Michel Platini, este acusado de ter cedido aos desejos do antigo Presidente francês Nicolas Sarkozi que, por motivos insondáveis, terá intercedido junto do antigo craque, na altura presidente da UEFA, para apoiar a candidatura do Catar.

Posto isto, já se percebeu que o Mundial deste ano tem todos os condimentos para dar um magnífico documentário sobre o futebol fora das quatro linhas.

Cangurus e danças exóticas Indo agora ao que interessa, no que à bola a girar nos relvados diz respeito, apurou-se ontem o último país para a competição – o jogo entre a Costa Rica e a Nova Zelândia acabou depois da hora de fecho desta edição. São 32 os países que vão estar presentes. A FIFA queria que fossem 48, mas as questões logísticas, apesar do dinheiro não faltar, não o permitiram. A Rússia foi impossibilitada de realizar a meia-final do playoff com a Polónia, devido às sanções impostas pela invasão da Ucrânia, e não marcará presença. Já a Austrália conseguiu, na segunda-feira, eliminar o Peru nas grandes penalidades e estará presente pela sexta vez numa fase final. Para a memória futura ficará a dança do guarda-redes do país dos cangurus que entrou um minuto antes do fim do prolongamento e fez uma estranha coreografia antes de defender a grande penalidade que garantiu o apuramento do seu país.

Agora que as apostas começam a ferver, o selecionador espanhol já veio tirar pressão da sua equipa e garantiu que os grandes favoritos são o Brasil e a Argentina, deixando de fora dos eleitos a França, Alemanha, Espanha e… Portugal.
Cristiano Ronaldo e sus muchachos terão uma palavra a dizer se quiserem contrariar as previsões de Luis Enrique e tudo pode começar precisamente com o confronto entre Portugal e Espanha que se realizará em finais de setembro… para Liga das Nações. A UEFA e a FIFA, autênticas máquinas de fazer dinheiro, conseguem, cada vez mais, aumentar o calendário das seleções. Não sendo por isso de estranhar que num futuro próximo tenhamos muitos jogadores com mais de 200 jogos pelo seu país. Voltando à pré-preparação para oMundial, como é preciso deixar tudo resolvido na Liga das Nações antes de rumar ao Catar, Portugal terá de enfrentar a República Checa e a Espanha para saber se avança para a fase final da competição. Se conseguir ganhar à Espanha e apurar-se para a final a quatro, Portugal chegará ao Mundial fortemente motivado. 

Ah! O sonho de qualquer jogador de futebol é participar numa fase final de um Mundial e FIFA alargou essa possibilidade ao alargar para 26 o número de jogadores convocados. Já foram 22, depois 24 e agora termos 26. Esperemos que os eleitos de Fernando Santos consigam  trazer a taça para Portugal, mas para isso terão de ‘aviar’ na primeira fase oGana, o Uruguai de Darwin Núñez e a Coreia do Sul, de Paulo Bento.