Bayern. Munique está à espera do regresso do Ogro Vermelho

Bayern. Munique está à espera do regresso do Ogro Vermelho


Reverter a derrota surpresa da primeira mão face ao Villareal (0-1) pode muito bem trazer de volta o monstro terrível que já aplicou goleadas a toda a Europa.


Resultado surpreendente dos quartos-de-final desta Liga dos Campeões (o único, afinal), a derrota do Bayern de Munique em Villareal, no campo daquele que foi o último vencedor da Liga Europa, treinado por um homem matreiro como como poucos, Unay Emry Etxegoien, nascido em Fuenterrabía, na foz do rio Bidasoa, em Guipuzcoa, no dia 3 de Novembro de 1971.

Para quem tinha, até agora, andado a passear na prova com o à-vontade de um rapazinho que se deleita correndo por um campo de gipsofila, o Ogro Vermelho sofreu um golpe bruto. Barcelona (3-0 e 3-0), Benfica (5-2 e 4-0), Dínamo de Kiev (5-0 e 2-1) na fase de grupos; primeiro escorregão nos quartos-de-final ao consentir um empate em Salzburgo, frente ao Red Bull (1-1), assunto que resolveu sem problemas em Munique por 7-1, estranha-se sobretudo a incapacidade de ter marcado um golo, coisa que é rara nesta equipa de Julian Nagelsmann.

Hoje espera-se a reacção e os bávaros não costumam ser piedosos nestas situações por mais que tenham nascido numa terra de monges, como o nome indica – München vem de Mönch, palavra germânica para monge, como está bem de ver. Ao longo da sua história, muitas foram as vítimas trituradas aí. 

O Bayern de Munique entrou pela primeira vez nas provas europeias na época de 1962-63, participando na Taça das Cidades com Feiras. Não se pode dizer que seja um dos pioneiros, mas não tardou, por outro lado, de mostrar ao que vinha.

Chegou aos quartos-de-final, onde levou das boas do Dínamo de Zagreb (1-4 em casa e 0-0 fora), mas deixou a sua marca goleadora face aos irlandeses do Drumcondra, vencendo por 6-0 em Munique. Daí para cá, tem somado goleadas terríveis, sobretudo caseiras, e não costuma olhar a emblemas, pelo que haverá, naturalmente, por parte dos seus adeptos a grande expectativa de poderem ter, esta noite, uma vingança a preceito sobre os atrevidos espanhóis do Submarino Amarelo.

Um mar de golos O Benfica já provou, esta época, o poder massacrante do ataque do Bayern, somando nove golos sofridos em dois jogos. Ligeiramente melhor do que aconteceu ao Sporting, na época de 2008-09, que depois de ter sofrido 1-5 em Alvalade foi massacrado na Arena por 1-7. Nenhum português se fica a rir, já que o FC Porto também já lá foi goleado por 1-6, em 2014-15, o Vitória de Setúbal por 2-6, em 1967-68, sendo que o Benfica também ainda soma outra dose de cinco, os 1-5 de 1975-76.

Convenhamos, no meio deste mundo sanguinário em que o Ogro Vermelho gosta de viver – há sempre a velha frase que garante que os alemães nunca deixarão de conseguir pelo sangue aquilo que podiam muito bem obter apenas pelo suor – poucos são os que se ficam a rir. Gente fina da Europa, como o Saint-Etienne (2-6 em 1978-79) ou o Ajax (1-5 em 1980-81) saiu muito maltratada da Bavária. Convenhamos, o lugar é infernal para quem quer que seja. O Paris Saint-Germain também já foi atropelado pela mão-cheia da ordem (1-5 em 1997-98). O pequeno Anorthosis, de Famagusta, Chipre, recebeu um correctivo ímpar (0-10, em 1983-84).

A sempre orgulhosa Roma, ficou por pouco – 0-7 em 2014-15. E estamos a ser rigorosos no que diz respeito ao conceito de goleadas, que agora parecem já serem até de 1-0. Só começamos a contar a partir dos cinco. E por duas vezes, o nobre Arsenal de Londres foi vítima dessa marca fatal – 1-5 em 2016-17, primeiro na fase de grupos da Liga dos Campeões, depois nos quartos-de-final da mesma prova. O que se passará logo à noite na Arena, ninguém poderá adivinhar. Mas seria bom que Emry escutasse aquela voz sinistra de um filme de terror barato: “Tenham cuidado! Muito cuidado!”.