Ajax-Benfica. “Hagan matou o Benfica” – Memórias de uma eliminatória esquecida

Ajax-Benfica. “Hagan matou o Benfica” – Memórias de uma eliminatória esquecida


Se a eliminatória entre os dois clubes de 1969 nos devolve muitas imagens, a meia-final da Taça dos Campeões de 1972 está perdida entre as brumas do olvido.


Se os quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus entre Ajax e Benfica de 1969 continua a bailar na memória dos que têm idade para a recordar, de tal forma foi espetacular – 3-1 em Amesterdão para os encarnados; 3-1 para os holandeses na Luz; qualificação do Ajax no desempate de Paris, com 3-0 após prolongamento –, as meias-finais da mesma Taça dos Campeões de 1972 vai ficando cada vez mais perdida no poço do olvido. E talvez tenha sido aí o estertor do grande Benfica europeu. Quantos anos foram precisos para que regressasse a uma meia-final? Dez! Em 1982, na Taça das Taças, contra o Carl Zeiss.

Neves de Sousa, um jornalista da velha guarda que nunca fugiu a uma boa refrega, tinha visto, dois dias antes, o Benfica bater o Bayern de Munique, em Paris, num jogo particular (2-1). Mas naquele 5 de abril em que o Benfica saiu de Amesterdão derrotado por 0-1, golo de Swart, aos 64 minutos, puxou da metralhadora e desfez o treinador benfiquista, o inglês Jimmy Hagan – “Hagan matou o Benfica! Ao querer jogar com bolas por alto, como se ainda lá estivessem Águas ou Torres, o treinador, que de perspicaz tem pouco, foi o homem que, na realidade, venceu o Benfica”. A verdade é que a partida foi equilibrada. Contra o fantástico ataque dos campeões da Europa – Neeskens, Swart, Cruyff, Van Dijk e Peter Keizer –, o Benfica apresentava outro que não lhe ficava atrás – Jaime Graça, Artur Jorge, Eusébio, Nené e Jordão. O resultado final dava todas as esperanças para a Luz. Afinal, na eliminatória anterior, as águias tinham esmagado o campeão da Holanda, Feyenoord, por 5-1.

 

Estranho Ajax.

Na altura, já Rinus Michels tinha deixado o Ajax. Tinha chegado à conclusão que atingira a perfeição ao comando do clube, fazendo de uma série de jogadores jovens e desconhecidos a melhor equipa do continente. Tomou o caminho de Barcelona e, para o seu lugar, chegou um daqueles sábios que o futebol produz de muito quando em vez – o romeno Stafan Kovács.

Na verdade, os holandeses trouxeram consigo o medo para Lisboa. A violenta carga de cavalaria que o Benfica aplicara aos rivais do Feyenoord, numa exibição esplêndida de jogo ofensivo e demolidor, deixaram-nos com um pé atrás. Ou mesmo com os dois. Portanto, a tática foi defender, defender e defender.

Contra essa realidade, Jimmy Hagan, que a despeito da embirração do saudoso Neves de Sousa fez épocas extraordinárias no Benfica, atirou a sua equipa para a frente. Ao intervalo, preocupado com o 0-0 teimoso, trocou Toni e Artur Jorge por Diamantino Costa e Vítor Baptista. Mas a sua equipa continuou a bater de frente contra o resistente dique holandês, incapaz de esburacá-lo. Ainda seria Eusébio, a sonhar com a última final da Taça dos Campeões da sua carreira, a desferir dois remates à sua maneira que assustaram deveras o guarda-redes Stuy. Estava escrito. O jogo terminaria sem golos. Mais uma vez, três anos depois, o Ajax seguia em frente.