O último Conselho Nacional (CN) do PPD/PSD deveria ter sido um conclave de catarse, reflexão e reconciliação, porém a intervenção inicial de Rui Rio destruiu esse espírito.
Quando todos esperávamos um discurso onde se reconheciam os erros da estratégia, onde se assumiam excessos que provocaram graves feridas e tremendas injustiças dentro do próprio partido, onde se reconhecia a urgência de definir um novo rumo e se disponibilizariam para devolver ao CN o processo de transição, até porque o próprio presidente do partido já havia assumido que não tinha condições para continuar, acabámos por assistir a um discurso onde se justificou o resultado nas legislativas com distribuição de culpas para todo o lado.
A culpa foi atribuída aos Órgãos de Comunicação Social, aos comentadores da televisão, aos eleitores, a alguns militantes do PPD/PSD, ao desgaste do regime (como?! a culpa é do desgaste da democracia?!), da comunicação do Partido Socialista (esta então é deliciosa, fica a ideia de que, na mente de Rio, o PS o deveria ter ajudado a ganhar eleições)… enfim, de todos menos da própria estratégia implementada…
E a seguir, a somar a essa enorme demonstração de arrogância e ignorância política, verificámos uma Comissão Política Nacional com uma postura de sobranceria e arrogância perante os membros de um CN estarrecidos por tamanho desajuste à gravidade da situação política em que o PPD/PSD se encontra.
A última vez que o PS conquistou a maioria absoluta, o PPD/PSD elegeu novo presidente num espaço de um mês e meio. Não faltou dignidade a quem saiu, nem se lhe reconhece qualquer diminuição por esse facto. Fê-lo porque percebeu que o partido precisava rapidamente de um novo rumo.
Já Rio permanece a querer condicionar a organização e representação futura do partido na sociedade civil.
Desde 16 de fevereiro de 2018 que Rio mergulhou o PPD/PSD numa longa noite política, sem ambição, sem respeito pela sua grandeza (patente na pluralidade que sempre nos caracterizou), iniciando purgas e afastando quem não pensava como ele.
Depois de um ensaio geral nas últimas autárquicas, em que Rio afastou tudo o que conseguiu, nestas legislativas promoveu uma verdadeira razia.
Esperava de Rio um reconhecimento do erro pela estratégia seguida, mas sobretudo esperava de Rio um pedido de desculpas pelos insultos e pelas purgas que promoveu no partido.
O presidente do Partido perdeu a melhor oportunidade para promover um ato de contrição pelos excessos desta longa noite em que mergulhou a social-democracia portuguesa.
Rio insultou e afastou militantes, dirigentes concelhios e distritais, que não o apoiaram, dizendo que estavam desligados das suas bases, mas mais importante, que estavam desligados das populações locais que deviam representar, porque essas queriam Rio.
Rio insultou e afastou muitos militantes e simpatizantes, autarcas e deputados que não o apoiaram, afirmando que eles estavam desligados do País real.
Afinal uma maioria absoluta de portugueses rejeitou Rio (cerca de 71%), demonstrando que afinal os militantes, dirigentes, autarcas e deputados não estavam desligados da sociedade portuguesa, pelo contrário.
Sobre isto nem uma palavra de Rio.
A longa noite do PPD/PSD estendeu-se nesse Conselho Nacional com intervenções onde se criticavam os portugueses por terem rejeitado o que teria sido um magnífico governo, intervenções essas aplaudidas por alguns.
Esta CPN teve uma oportunidade de iniciar um processo de reconciliação e ao invés, manteve condicionamentos e arrogância.
Fica claro que não são os militantes, dirigentes, ex-dirigentes, ex-deputados ou ex-autarcas que estão desfasados das Comunidades que pretendem servir.
Esta longa noite do PPD/PSD, de Rio e desta CPN fazem-me recuperar as memórias da minha leitura de “O Conde d’Abranhos”, essa notável obra (póstuma) de Eça de Queiroz, levando-me a adaptar e fazer minhas as suas palavras: A direção do PSD não pode cair, porque não é um edifício. Só pode sair com benzina, porque é uma nódoa”.
Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela