O botão e o quadradinho


Por que há de uma criança ou adolescente colocar mais empenho ou energia quando basta carregar num botão ou fazer deslizar um dedinho?


Alguns professores universitários com quem tenho falado dizem-me que não, mas não consigo evitar ficar com o receio de que estamos a formar uma geração incapaz de cumprir as tarefas mais simples.

Começa pelos brinquedos. Antigamente os miúdos criavam as suas próprias brincadeiras. Às vezes, a partir dos recursos mais simples, conseguiam inventar jogos com que se entretinham tardes inteiras. Por exemplo, o jogo do botão, uma versão ‘faça você mesmo’ do Subbuteo. Com simples botões (que todas as senhoras tinham em casa para remendar as camisas ou casacos) conseguiam construir do zero um jogo emocionante.

Hoje, com os brinquedos mais sofisticados, basta carregar num botão e tudo acontece: bonecos que andam, cantam, produzem luz, etc. O brinquedo faz tudo sozinho e, por conseguinte, a intervenção da criança é mínima. Quase nula.

A generalização dos telemóveis e dos tablets veio piorar as coisas. Basta mexer um dedo – literalmente – e ficar passivamente a consumir informação, por exemplo a ver vídeos de apenas alguns segundos. Duvido que alguém conseguisse imaginar uma atividade mais imbecilizante.

Por que há de uma criança ou adolescente colocar mais empenho ou energia quando basta carregar num botão ou fazer deslizar um dedinho?

Curiosamente, esta lei do menor esforço parece ter encontrado acolhimento nas escolas, com a adoção daquilo a que em tempos se chamava ‘testes americanos’ ou testes de quadradinhos.

Provavelmente haverá estudos a garantir que são ótimos, que os miúdos aprendem tanto ou mais do que com um teste convencional. Mas custa-me a acreditar que pôr uma cruzinha num quadradinho exija o mesmo grau de conhecimento que puxar pela memória, pensar numa resposta, estruturá-la e pô-la por escrito. Haverá comparação possível?

O quadradinho dos testes americanos está para o ensino como o botão para os brinquedos. Parece que estamos a caminho do grau zero da exigência. Talvez seja uma preparação para quando chegar o dia em que as máquinas fazem tudo por nós. O dia em que não será preciso sequer mexer um dedo.

O botão e o quadradinho


Por que há de uma criança ou adolescente colocar mais empenho ou energia quando basta carregar num botão ou fazer deslizar um dedinho?


Alguns professores universitários com quem tenho falado dizem-me que não, mas não consigo evitar ficar com o receio de que estamos a formar uma geração incapaz de cumprir as tarefas mais simples.

Começa pelos brinquedos. Antigamente os miúdos criavam as suas próprias brincadeiras. Às vezes, a partir dos recursos mais simples, conseguiam inventar jogos com que se entretinham tardes inteiras. Por exemplo, o jogo do botão, uma versão ‘faça você mesmo’ do Subbuteo. Com simples botões (que todas as senhoras tinham em casa para remendar as camisas ou casacos) conseguiam construir do zero um jogo emocionante.

Hoje, com os brinquedos mais sofisticados, basta carregar num botão e tudo acontece: bonecos que andam, cantam, produzem luz, etc. O brinquedo faz tudo sozinho e, por conseguinte, a intervenção da criança é mínima. Quase nula.

A generalização dos telemóveis e dos tablets veio piorar as coisas. Basta mexer um dedo – literalmente – e ficar passivamente a consumir informação, por exemplo a ver vídeos de apenas alguns segundos. Duvido que alguém conseguisse imaginar uma atividade mais imbecilizante.

Por que há de uma criança ou adolescente colocar mais empenho ou energia quando basta carregar num botão ou fazer deslizar um dedinho?

Curiosamente, esta lei do menor esforço parece ter encontrado acolhimento nas escolas, com a adoção daquilo a que em tempos se chamava ‘testes americanos’ ou testes de quadradinhos.

Provavelmente haverá estudos a garantir que são ótimos, que os miúdos aprendem tanto ou mais do que com um teste convencional. Mas custa-me a acreditar que pôr uma cruzinha num quadradinho exija o mesmo grau de conhecimento que puxar pela memória, pensar numa resposta, estruturá-la e pô-la por escrito. Haverá comparação possível?

O quadradinho dos testes americanos está para o ensino como o botão para os brinquedos. Parece que estamos a caminho do grau zero da exigência. Talvez seja uma preparação para quando chegar o dia em que as máquinas fazem tudo por nós. O dia em que não será preciso sequer mexer um dedo.