Volvidos quase dois anos sobre o início da pandemia em Portugal, estamos a quatro dias de eleições legislativas numa situação tanto ou mais complicada do que a que observámos em janeiro de 2021, aquando das eleições presidenciais.
A abstenção, um problema crónico na nossa democracia, arrisca aumento, perante o perigo que alguns vêm na possibilidade de se cruzarem com infetados na hora de ir às urnas.
Problema esse que já se verificou na hora da constituição das mesas, com o receio, justificável, que alguns também têm pela eventual exposição ao perigo, durante um longo dia de votação, e que só foi possível ultrapassar com o grande sentido de cidadania de todos os voluntários, que estarão no dia 30 a permitir que a democracia se efetive.
No fundo, o medo do cidadão comum, que perpassa grande parte da sociedade.
Mas a hora é de agir, de seguir em frente e de continuar a fazer o que sempre nos protegeu, tanto quando a estirpe do SARS CoV-2 era mais perigosa, como agora que é mais contagiosa. Máscara, higienização das mãos e distanciamento social, com a atual proteção suplementar da vacinação.
E quando se fala do problema dos assintomáticos, dos que infetados não têm noção de que o estão, não podemos esquecer que por certo nos cruzamos com pessoas nestas condições, todos os dias, nos atos mais simples da nossa vida.
Não será numa mesa de voto que correremos mais riscos do que aqueles que enfrentamos nas nossas rotinas quotidianas, a não ser que queiramos desistir de viver e nos encerremos num quarto a aguardar o anúncio do fim da pandemia.
Tudo poderia acontecer de forma diferente? Claro que sim.
Uma lição a reter e um trabalho sério para a próxima legislatura: a revisão profunda da lei eleitoral.
O direito constitucional ao voto de todos os cidadãos deve ficar devidamente assegurado, a salvo de qualquer imponderável que, como aprendemos a duras penas, pode acontecer em qualquer momento das nossas vidas.
Avançar para um modelo mais rápido e menos burocrático, de que a votação em mobilidade é um primeiro passo, mas cujas garantias de segurança têm de ser seriamente revistas.
E o dia de reflexão? Esse monólito que se mantém na paisagem eleitoral, herança dos idos tempos do PREC, e que hoje, em tempos de redes sociais, é um anacronismo de difícil explicação.
Alguém que tenha votado no passado dia 23, com a campanha eleitoral na rua, se sentiu coagido a votar em A ou B ou refletiu menos no seu voto?
Certamente também ninguém irá votar no próximo dia 30 revigorado pelo “dia de reflexão”.
No entanto, revigorada ficará a nossa Democracia, com a ação destemida do exercício máximo que consagra: o Voto.
E para renovar os pergaminhos desta Democracia, durante esta enorme pandemia, vamos precisar de Heróis.
E esses heróis vão ser os eleitores, que irão suportar filas de incerteza enquanto aguardam pela sua oportunidade para votar. Vão ser os membros das mesas, fiéis depositários do nosso voto e garante da regularidade da eleição, porém correndo o risco de se cruzarem com centenas de eleitores, quiçá assintomáticos. Vão ser os funcionários das autarquias, a estrutura de serviço público profissional que irá coordenar esta eleição para a Assembleia da República.
E por isso, para lá de todas as hipocrisias de um sistema eleitoral caduco, de um planeamento inexistente por parte do governo ou mesmo da própria pandemia, é da mais elementar justiça que deixe aqui um agradecimento a todos os heróis que enunciei.
São eles que vão manter viva a chama da democracia.
Obrigado.
Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela