Dois jornalistas togoleses críticos do poder, detidos preventivamente há 15 dias, foram acusados de "desacato à autoridade" e "divulgação de palavras falsas nas redes sociais", pelo que vão continuar presos a aguardar julgamento, indicou hoje o advogado de defesa.
Ferdinand Ayité e Joël Egah, diretores respetivamente dos semanários togoleses L'Alternative e Fraternité, foram detidos a 15 deste mês após dois ministros do Governo do Togo terem criticado os comentários feitos por ambos num programa transmitido na rede Youtube.
"Os dois jornalistas foram transferidos para a prisão de Lomé na sexta-feira. Apresentei dois pedidos de liberdade provisória, que foram rejeitados. Toda a verdade será dita no julgamento e a opinião pública será informada", disse o advogado Elom Kpadé à agência noticiosa France-Presse (AFP).
Um terceiro jornalista, que também participou no programa, foi ouvido pelo juiz e colocado sob supervisão judicial, acrescentou Kpadé.
Segundo o procurador togolês, Talaka Mawama, os jornalistas estão a ser processados com base no Código Penal, na sequência dos comentários terem sido feitos numa rede social.
No entanto, a 15 deste mês, Mawama, em declarações à televisão nacional estatal, afirmou que as redes sociais "estão excluídas do âmbito da lei relativa à imprensa e ao código de comunicação".
A Amnistia Internacional (AI) já denunciara o caso no dia 13, ao dar conta da "detenção arbitrária" dos dois jornalistas e exigiu a sua libertação "imediata" por tratar-se de um "atentado à liberdade de expressão".
"As autoridades [de Lomé, lideradas pelo Presidente Faure Gnassingbé] estão a tentar silenciar as vozes críticas ao poder", disse Fabien Offner, investigador da AI para a África Ocidental.
Segundo Offner, os dois jornalistas foram detidos "apenas por terem feito comentários no programa 'O Outro Jornal', veiculado no YouTube", no qual "criticaram dois ministros".
Várias organizações locais de direitos humanos e partidos de oposição também pediram nos últimos dias a libertação dos dois jornalistas.
Os semanários L'Alternative and Fraternity são críticos do Governo.
Em fevereiro, o L'Alternative foi suspenso por quatro meses num caso que envolveu o atual ministro do Urbanismo togolês, Koffi Tsolenyanu.
Em março de 2020, o mesmo jornal foi sancionado com mais dois meses de suspensão após uma denúncia do ex-embaixador da França no Togo, Marc Vizy.
O Fraternité também foi suspenso em março de 2020 por dois meses, na sequência de um artigo em que denunciou a proibição de publicação de dois outros jornais.