China. Cheia de projetos gigantescos que deixam o mundo boquiaberto

China. Cheia de projetos gigantescos que deixam o mundo boquiaberto


Desde redes de transportes na Grande Baía, unindo nove megacidades mais Macau e Hong Kong, passando pela linha de comboios de alta velocidade que une Pequim a Xiongan, a “cidade do futuro” prometida por Xi Jinping, o Estado chinês não poupa esforços a nível de mobilidade. Também aposta no radiotelescópio de Pingtang para atrair cientistas…


Rede de transportes da Grande Baía 
(73,5 mil milhões de dólares)

Nunca se viu um projeto urbanístico com a escala do que o Governo chinês quer implementar na Área da Grande Baía, pretendendo integrar nove megacidades da província de Guangdong  – ou seja, metrópoles com mais de 10 milhões de habitantes, nomeadamente Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen, Huizhou, and Zhaoqing – e as duas regiões administrativas especiais (RAE), Macau e Hong Kong, num único colosso, ou megalópole, ao longo do Delta do Rio das Pérolas, no abastado sul da China. Naturalmente que o sistema de transporte planeado pelo Governo chinês para esta região teria de ter uma imponência semelhante, tendo sido aprovada esta ano a construção de linhas de comboios de alta velocidade, bem como redes de transporte urbanas, planeando-se que cubram 4700 quilómetros da província de Guangdong até 2025, estendendo-se para fora da província, com o objetivo de fazer com que o tempo de viagem entre estas megacidades e as capitais das províncias vizinhas não seja mais do que três horas. Transportes rápidos, eficientes e baratos são vistos com um fator crítico para atrair ainda mais pessoas e investimento à Área da Grande Baía. Outro seria garantir a sua estabilidade política, numa altura de descontentamento constante em Hong Kong, peça-chave deste projeto urbanístico colossal. 

Rádiotelescópio de Pingtang 
(110 milhões de dólares)

O Rádiotelescópio Esférico com 500 metros de Abertura (mais conhecido por FAST, no acrónimo inglês), utilizado para detetar sinais de rádio vindos do espaço, observar fenómenos ligados a matéria negra ou tentar escutar aliens, tornou-se uma peça fulcral na corrida chinesa ao espaço. O maior radiotelescópio do planeta – bateu o Observatório Arecibo, instalado em Porto Rico, palco do mítico programa SETI, usado para tentar comunicar com aliens, e que tivera essa distinção durante mais de meio século – foi instalado numa bacia natural de Pingtang, província de Guizhou, sudoeste da China. O FAST, que começou a ser usado para detetar pulsares, ou estrelas mortas em rápida rotação, acabaria por ser aberto à comunidade internacional após o colapso do Arecibo, que levou ao seu encerramento o ano passado, com as autoridades chinesas a permitir que cientistas de todo o mundo se pudessem candidatar a usar o seu radiotelescópio para vasculhar os confins do cosmos. Será uma forma da China atrair e criar relações com alguns dos maiores talentos científicos deste planeta, potencialmente acelerando a sua expansão tecnológica.

Ópera de Guangzhou
(200 milhões de dólares) 

O design arrojado da Ópera de Guangzhou, bem no coração da Área da Grande Baía (ver caixa ao lado), construída nas margens do Delta do Rio das Pérolas, tornou-se no ícone de uma megalópole – ou conjunto de metrópoles – em expansão, numa espécie de embaixador de uma região que historicamente sempre serviu de porta de entrada do resto do mundo na China. Trata-se de uma das três grandes salas de ópera na China, estando apenas a par do Grande Teatro Nacional, em Pequim, e do Grande Teatro de Xangai. Foi projetada pela arquiteta irano-britânica Zaha Hadid, que, olhando para o horizonte preenchido de arranha-céus do distrito financeiro de Guangzhou, onde a sua obra se iria inserir, teve a visão de criar um complexo que fizesse lembrar dois seixos à margem do Delta do Rio das Pérolas, um deles funcionando com uma sala de espetáculos com capacidade para uns 1800 espectadores, outro sendo um salão multiusos com capacidade para cerca de 400 pessoas. Este projeto, produzido em aço e com detalhes de granito, seria anunciado em 2002 e completado em 2010. 

Estádio Guangzhou Evergrande 
(1,7 mil milhões de dólares)

Se a construção do novo estádio do Futebol Club Guangzhou, propriedade da Evergrande, um gigante do imobiliário, em tempos foi um símbolo do poder da construção chinesa, agora é uma demonstração da brutal crise do setor. Este projeto megalómano por terminar, desenhado pelo arquiteto americano Hasan Syed, pretendida ser o estádio com maior capacidade do mundo em 2022, podendo receber até 100 mil adeptos e ostentando a forma de uma flor de lótus gigante, cujas pétalas poderiam ser iluminadas de várias cores, e que simboliza honra, tenacidade e unidade na cultura chinesa. Contudo, agora o estádio Guangzhou Evergrande está rodeado de guindastes parados, avançou a Reuters, e o mês passado acabaria por ficar nas mãos do Estado chinês, que o quer vender para saldar parte da astronómica dívida de 300 mil milhões da Evergrande, que também terá de se desfazer do Futebol Club Guangzhou, um constante sorvedouro de dinheiro. Essa dívida contaminou boa parte da economia chinesa, tendo-se temido até que fosse o gatilho de uma nova crise financeira global.

Comboio de alta velocidade Pequim-Xiongan
(13,5 mil milhões de dólares)

O Presidente chinês, Xi Jinping, escolheu pessoalmente Xiongan, como “cidade do futuro”, em 2017, e, como tal, está decidido a unir este embrião de metrópole a Pequim e à província de Shandong, graças à construção de mais de 550 quilómetros de linha ferroviária de alta velocidade, com 14 paragens. É um projeto de proporções épicas, crucial para as autoridades chinesas, que inclusivamente pretendem evitar o congestionamento da capital transferindo vários departamentos do Governo central, sedes de agências e de empresas estatais para Xiongan, na província nortenha de Hebei. Esta cidade, por agora com uns meros 1,28 milhões de habitantes, coisa pouca para uma grande cidade chinesa, está cheia de projetos em construção, que aceleram a todo o vapor, com mais de 160 mil trabalhadores da construção no terreno, notou a agência estatal Xinhua, prometendo que surgirão 1770 km2 de “uma cidade verde cheia de inovação, e um modelo nacional de desenvolvimento de alta qualidade”. Agora, coma construção desta nova rede de comboios de alta velocidade, a comuta entre Xiongan e Pequim deverá passar de cerca de hora e meia para uns 50 minutos.

Túnel de Qinling 
(473 milhões de dólares)

Debaixo da montanha de Zhongnan, a China construiu o que então era o segundo mais longo túnel rodoviário do planeta, o túnel de Qinling, com uns incríveis 27 quilómetros de extensão. O túnel permitiu unir a histórica província de Shaanxi, no centro da China, até então dividida pelas montanhas, com uma autoestrada entre a capital provincial, Xi’an, com mais de oito milhões de habitantes, e o distrito Zhashui. Para todos aqueles com algum receio da escuridão, confinamento e sensação opressiva que um túnel tão longo traz, as autoridades chinesas foram buscar técnicas à Noruega – aliás, é neste país montanhoso e difícil de atravessar no inverno que fica o túnel Lærdal, o único túnel rodoviário maior que o de Qinling à época da sua construção, em 2007. Ou seja, foram colocados os chamados espaços de respiração ao longo do túnel Qinling, com enormes cavernas escavadas na montanha, em intervalos com entre três a sete quilómetros. Estes oásis seriam decorados com palmeiras e relvados falsos, bem como projetores de luzes coloridas, para simular nuvens no teto do túnel, tentando relaxar um pouco os viajantes mais ansiosos.

Nova Cidade de Nanhui 
(4,5 mil milhões de dólares)

Entre as cinco cidades planeadas que Xangai começou a construir praticamente do nada nos seus subúrbios, a Nova Cidade de Nanhui, anteriormente chamada de Lingang, além de ser um polo tecnológico também como uma espécie de esponja. A ideia é enfrentar as cheias que cada vez mais ameaçam Xangai, uma megacidade costeira com mais de 26 milhões de habitantes, à medida que o desenvolvimento urbanístico impermeabiliza o solo com betão, impedindo-o de absorver a chuva. Só que, que em vez dos habituais canais de drenagem, Nanhui aposta em espaços verdes, pavimentos permeáveis, pantanal – um habitat vital para mais de 85% das espécies de aves encontradas em Xangai, segundo a Fundação de Desenvolvimento verde e Conservação de Biodiversidade da China – e jardins recheados de plantas ideais para absorver água. Ao mesmo tempo, prevê-se que Nanhu seja o satélite de Xangai que mais atrairá investimento. Aliás, já captou a atenção da Tesla, que anunciou que investirá dois mil milhões de dólares (equivalente a cerca de 1,75 mil milhões de euros) para construir uma fábrica de veículos elétricos, aproveitando a Zona de Livre Comércio de Xangai, isenta de muitas das regulações do Governo chinês. 

Sede da CCTV 
(900 milhões de dólares)

Com o boom de construção megalómano que acompanhou os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, veio a sede da CCTV (acrónimo inglês para Televisão Central da China), uma emissora estatal chinesa. Esta estranha torre de aço e vidro, com uns imponentes 234 metros de altura, 51 andares e 473 mil m2 de área utilizável, transformou o cada vez mais congestionado horizonte da capital chinesa, graças ao seu centro aberto entre torres perpendiculares. Para uns, a sede da CCTV marcou uma nova era da arquitetura chinesa, algo que “nunca poderia ter sido concebido pelos chineses e que nunca poderia ter sido construído pelos europeus. É uma definição híbrida”, considerou Rem Koolhaas, um dos arquitetos da OMA responsável pelo edifício, numa entrevista ao Journal of International Affairs. Outros troçam do estranho desenho da sede da CCTV, cujo perfil muda consoante o ângulo que a observamos. Por vezes, pode parecer um pouco uns calções, daí que o edifício seja alcunhado como “Grandes Calções” por muitos habitantes de Pequim, escreveu a New Yorker. 

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