Parlamento. Quem foram os nossos Bebés da Casa?

Parlamento. Quem foram os nossos Bebés da Casa?


De 1976 até 2021 muitos jovens deputados passaram no Parlamento. Desses, o mais jovem de sempre foi Manuel Moreira, do PSD. Atualmente, o Bebé da Casa é Miguel Costa Matos.


Pensar em portugueses que foram proeminentes deputados enquanto jovens leva-nos inevitavelmente a nomes como Manuel Monteiro ou Sérgio Sousa Pinto. Chegados a 2021 – e tendo esses dois já alguma juventude acumulada –, começam a surgir os nomes daqueles que são proeminentes aos dias de hoje. Curiosamente, mais à esquerda do que à direita, como é caso de Miguel Costa Matos – do Partido Socialista, que entrou na casa da democracia em 2019, com 25 anos – ou Luís Monteiro, que o fez em 2015, com apenas 22.

Na Europa a situação não é especialmente diferente: o recorde do Parlamento Europeu pertence à dinamarquesa socialista Kira Marie Peter-Hansen – que entrou com 21 anos – e o da House of Commons pertence à escocesa Mhairi Black, que entrou com 20. Atualmente, a Baby of The House – como os britânicos chamam ao seu deputado mais novo – é Nadia Whittome, do Labour, com 23 anos. Não tivesse sido dissolvido o nosso Parlamento e existisse o título em Portugal, Miguel Costa Matos, com 27 anos, seria o nosso atual Bebé da Casa.

Feitas as contas pelo i, Manuel Moreira, eleito pelo PSD na I legislatura, em 1976, terá sido o deputado mais novo de sempre: é, portanto, o maior bebé dos bebés da casa. Com apenas 19 anos viria a ser deputado nas seguintes oito legislaturas.

Segue-se-lhe Tiago Rodrigues Bastos, deputado na IV legislatura, em 1985, pelo já extinto PRD. Tiago Rodrigues Bastos é hoje, curiosamente, advogado de Armando Vara. Após estes dois senhores, três caras conhecidas completam o pódio, empatadas em terceiro lugar: Luís Monteiro, do Bloco de Esquerda, Sónia Furtezinhos, do PS, e Ana Catarina Mendes – três figuras da atualidade que entraram com 22 anos no Parlamento.

O primeiro em 2015, as restantes em 1995 – para a bancada do PS, através das cotas da Juventude Socialista. Depois, entrando com 23 anos, surgem outros três nomes conhecidos e atuais: Manuel Monteiro, em 1985, pelo CDS (que ainda não liderava), na IV legislatura; Sérgio Sousa Pinto, em 1995, pelo PS, na VII legislatura e Pedro Pinto, em 1980, pelo PSD, na II legislatura. Os últimos dois foram deputados nesta finda legislatura, sendo que Pedro Pinto não consta nas listas do PSD às próximas.

As legislativas aproximam-se. Novos bebés da casa serão eleitos. O i pediu a alguns dos que já o foram – ou ainda são – para falarem sobre essa experiência.

Manuel Monteiro. “Estar na política não era o mesmo que estar no bar do Zé Manel”

Manuel Monteiro chegou ao Parlamento em 1985, decorria a IV legislatura. “Entrei na lista pela cota da Juventude Centrista e depois no Parlamento para substituir o presidente da distrital do Porto – Joaquim Rocha dos Santos. Foi uma experiência e tanto.

Recordo-me que o meu primeiro discurso no Parlamento foi na celebração do 25 de Abril. Na véspera, o Adriano Moreira chama-me e comunica-me que seria eu a fazer o discurso do dia a seguir. Pânico geral. Primeira vez que ia subir à tribuna. Sabia que os da minha própria bancada me iriam avaliar criticamente de uma forma mais incisiva do que aos outros deputados. Quando tinha de intervir, mesmo no próprio partido, preparava-me muito. 

Era uma época em que não bastava dizer umas graças. Havia um grau de exigência grande dos mais velhos em relação aos mais novos. Sentia pressão de forma indireta. Não estava institucionalizado o ‘tu cá tu lá’. Depois, havia uma solenidade substancial na própria vida política que lhe dava um certo encanto. Estar na atividade política não era o mesmo que estar no ‘bar do Zé manel’, e isso transmitia-se aos mais novos – que não prescindiam de ter a sua liberdade e rebeldia.

O problema nunca é a idade. À exceção de Cunhal, veja  a idade do Freitas e do Amaro da Costa. O problema nunca está na idade das pessoas – está na sua preparação e na sua convicção. As duas coisas têm de estar alinhadas. Além disso, os deputados não são eleitos sozinhos: a expectativa é que os grupos os integrem e ajudem”.

Sérgio Sousa Pinto. “Ser eleito deputado era uma honra imensa”

Sérgio Sousa Pinto chegou ao Parlamento em 1995, decorria a VII legislatura. Fazia apenas um ano que sucedera a António José Seguro como secretário-geral da Juventude Socialista. À época, procurava deixar clara a irreverência e soberania da estrutura que assumia.

Nas suas palavras, “havia a necessidade de explicar que a Juventude Socialista não era um apêndice etário dos socialistas com menos de 30 anos, mas que era uma organização com capacidade de afirmação própria, com uma agenda política própria e uma mensagem própria”. Nesses anos 90 lutou, sobretudo, pelos direitos das mulheres e contra o racismo.

“Naquela altura ser eleito deputado era uma honra imensa. Uma honra que irradiava para mim e  para a minha família. Os tempos mudaram muito. Essa eleição correspondia a uma escolha de vida: uma vida dedicada à vida pública e à política. 
Na altura entraram 14 deputados da Juventude Socialista [entrou com Ana Catarina Mendes e Sónia Fertuzinho]. Com 14 deputados era muito difícil descredibilizarem-nos [por causa da idade].

Uma vez, num projeto lei com vista a antecipar a idade de reforma das mulheres, os deputados da Juventude Socialista votaram até contra o Partido Socialista. Exercemos o nosso mandato em consciência e em representação de uma estrutura  autónoma.

Hoje faltam espíritos independentes. Geralmente os jovens têm o espírito mais livre – mas nem sempre é o caso.

Miguel Costa Matos. “É uma responsabilidade grande ser deputado tão jovem”

Miguel Costa Matos chegou ao Parlamento em 2019.  Era o deputado mais novo da agora finda legislatura.

“É uma responsabilidade grande ser deputado tão jovem. Em primeiro lugar, por ser uma honra representar o povo e a República nestas funções. Em segundo lugar, por saber que a nossa geração enfrenta desafios muito exigentes – qualificações, emprego digno, habitação – e conseguir dar contributo para isso. Por fim, importa vencer a ideia de que os jovens, por terem menos experiência, dão um contributo menor. A minha experiência é que é possível fazer a diferença e estar envolvido nos principais processos legislativos do Parlamento. Tive esse privilegio – comissões bancárias, clima, direito ao esquecimento, entre outros – em conjunto com os meus colegas jovens deputados do PS. Juntos, prestigiámos aquilo que é a representação da nossa geração no partido e no Parlamento". 

Às vezes sente-se descredibilização por sermos mais novos, mas, regra geral, o que pude sentir – não só no Grupo Parlamentar mas no Parlamento em si – é que a nossa geração é bem-vinda. A impressão que fico é de um Parlamento que acolhe a contribuição e o dos deputados mais jovens. 

É necessário que haja mais vozes jovens no Parlamento: não só porque isso contribui para a renovação do sistema político mas porque é importante que os jovens sintam que têm pessoas como eles no Parlamento. Seria um ótimo sinal na próxima legislatura haver alguém mais novo do que eu. Contamos com esse aliado.